Aparência, Sexualização e Objetificação: mulheres na mídia

Brenda Figueiroa
PET História UFS
Published in
4 min readSep 14, 2020
Foto: Reprodução. Disponível em: nodeoito.com

Miss Representation, é um documentário lançado mundialmente no dia 20 de janeiro de 2011 sob direção e produção da estadunidense Jennifer Siebel Newsom. Esse documentário tem como objetivo mostrar como a mídia retrata as mulheres de forma inferior aos homens e as pressiona a buscar padrões irreais de beleza. Além disso, traz através de estatísticas e depoimentos de adolescentes e mulheres estadunidenses, atuantes tanto na mídia como na política, os impactos sociais dessa representação limitada, hiper sexualizada e estereotipada das mulheres.

A estatística inicial que a obra cinematográfica traz é de que estamos, na maior parte do tempo, expostos a alguma forma midiática como televisão, internet, revistas, rádio, e os adolescentes são a faixa etária mais exposta a estes meios de comunicação. E essas mídias ao reduzir a mulher às suas características físicas promovem consequentemente uma falta de autoestima que provoca por sua vez problemas de transtornos alimentares, psicológicos e uma baixa busca por lugares de destaque na sociedade, principalmente na área política.

Por exemplo, entre todos os governadores eleitos nos Estados Unidos, são mais de dois mil homens, enquanto que as mulheres não passam de cem. Acontece o mesmo no mundo midiático, a maioria das empresas cinematográficas possuem homens em cargos superiores. Assim, nos fazendo pensar que a figura da mulher nesse meio não é construída por ela própria, mas por homens brancos e héteros que criam uma imagem deturpada deslegitimando as mulheres.

O patriarcado mantém esses ideais porque inferiorizar meninas e mulheres, supostamente, garante que elas nunca cheguem a reconhecer seu próprio poder. Inclusive, nunca cheguem a se unir porque esse mesmo sistema machista quer garantir que sejamos rivais e vivamos ocupadas com o que a outra acha de nós e com a nossa aparência, nos esquecendo do nosso empoderamento e que juntas somos mais. Enquanto as garotas aprendem que seu sucesso é sobre como a enxergam por fora, homens são educados para alcançar poder e dominância.

Algumas produções cinematográficas atualmente têm colocado as mulheres como protagonistas, heroínas, mas a narrativa, ela permanece a mesma. Ou a mulher depende do homem, vive à procura de um amor, tem poucas falas, ou tem a imagem sexualizada para agradar aos homens que a assistem, remetendo essas imagens a “mulher perfeita” ditada pela mídia, na qual muitos acreditam ser o padrão.

A mídia dita as identidades de como você deve ser para chamar atenção dos homens, para ser melhor que outras mulheres, para ser aceita. E o reflexo disso é evidente quando o padrão não alcançável se torna em vergonha, ansiedade, autodepreciação e depressão passando de geração em geração essa busca incansável pela perfeição ditada. O patriarcado se estabelece em diminuir a autoestima da mulher, nos convencendo diariamente de que não podemos ser poderosas e independentes, sendo atingidas pela feminilidade que não passa de uma construção social.

No Brasil, assim como nos Estados Unidos, enfrenta-se os mesmos problemas, a respeito dos quais pouco se discute. Devido ao patriarcado que domina nossa sociedade é comum piadas, comerciais, filmes, novelas, que disseminam representações degradantes das mulheres como por exemplo os comerciais de cerveja, os quais reforçam a imagem da mulher como objeto a ser consumido junto com o produto.

As representações que são exibidas nas propagandas de cerveja constituem uma forma de violência simbólica de gênero contra as mulheres na sociedade atual. É de grande importância, para quem vive imerso nesse mundo midiático, aprender a interpretar e questionar como essas imagens são postas para nós, resistindo a essa manipulação. As imagens construídas nos comerciais fazem parte de um padrão socialmente estabelecido e imposto, mulheres magras, brancas e com corpos trabalhados em academias.

As propagandas apropriam-se de imagens contemporâneas para impôr um tipo ideal de mulher criando estereótipos. Estereótipos esses que viram modelos partilhados para que a sociedade se espelhe e quem não segue esse padrão não é aceito vivendo vários tipos de preconceitos gerando alguns transtornos já citados ao longo do texto.

O movimento feminista junto a outros grupos vem levantando questionamentos no que diz respeito a essas abordagens hiper sexualizadas das mulheres na mídia. Algumas leis vêm sendo implementadas para que se proíba a veiculação e associação da mulher, principalmente do seu corpo, com o consumo de cervejas. Por exemplo, há o projeto de lei da Deputada Iara Bernardi (PT-SP) que proíbe a utilização de imagens sensuais e pornográficas em qualquer meio de comunicação do país. Mesmo com esses pequenos avanços não há mudanças aparentes, então faz-se necessário o debate acerca dessas temáticas. Miss Representation é uma ótima ferramenta para nos tornarmos mais conscientes acerca de como a mulher é inferiorizada e objetificada na mídia.

O documentário teve um grande impacto e a partir dele que surgiu a ONG The Representation Project, em 2011, que tem o objetivo de educar e promover ação social para que o cenário de mídia atual possa mudar. Em 2015, Jennifer Newson lançou outro filme dentro do projeto, The Mask You Live In, que analisa como nossas noções ultrapassadas de masculinidade têm um impacto nocivo em meninos, meninas e na sociedade como um todo. Ambos os documentários estão disponíveis na Netflix.

Referências Bibliográficas

BERNARDI, Iara. Projeto de Lei nº, de 2003. 2003. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=513A4959CB5865398CAB3CCD49B4B74C.proposicoesWebExterno2?codteor=113725&filename=PL+11/2003. Acesso em: 03 set. 2020.

MISS Representation. Direção de Jennifer Siebel Newsom. Produção de Jennifer Siebel Newsom. Roteiro: Jennifer Siebel Newsom, Jessica Congdon, Claire Dietrich, Jenny Raskin. Estados Unidos: Netflix, 2011. (144 min.), son., color. Legendado.

NEWSOM, Jennifer Siebel. The Representation Project. 2011. Disponível em: http://therepresentationproject.org/. Acesso em: 03 set. 2020.

THE Mask You Live In. Direção de Jennifer Siebel Newsom. Produção de Jennifer Siebel Newsom, Jessica Congdon, Jessica Anthony. Roteiro: Jennifer Siebel Newsom, Jessica Congdon. Estados Unidos: Netflix, 2015. (91 min.), son., color. Legendado.

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