Mulheres Educadas na Colônia

Adriane Santos
PET História UFS
Published in
3 min readAug 6, 2019

O texto de Arilda Ines merece destaque em quatro pontos imprescindíveis para exemplificar, como o próprio título da obra sugere, a situação educacional da mulher brasileira em seu país na fase de colonização. Dentre eles, pode-se elencar a situação geral sobre a educação da mulher no Brasil devido a herança cultural; as primeiras reivindicações a esta mentalidade; como as mulheres conseguiam burlá-la; e, por fim, a personagem que teve grande destaque em um destes rompimentos na história do Brasil colonial: Maria Quitéria.

Durante os 322 anos no qual o Brasil foi colônia de Portugal, a educação da mulher não chegava nem mesmo a ser uma espécie de “tabu”. Era completamente normal que na sociedade daquele contexto coubesse a ela somente o cuidado dos afazeres domésticos e de seus familiares. Tal mentalidade se devia a herança cultural dos árabes na Península Ibérica cujo pensamento colocava as mulheres na mesma categoria de crianças e doentes mentais — eram os chamados “sexo imbecil”.

Contudo, quando os portugueses vieram ao Brasil depararam-se com mentalidades bem destoantes àquelas praticadas na Europa. Os indígenas, diferente do homem branco, não via lógica em suas mulheres não terem direito ao estudo da leitura e escrita, haja vista ela ser uma companheira que na aldeia desempenhava deveres e prazeres semelhantes aos seus.

Por causa disso, aparentemente a primeira mulher a qual teve oportunidade de aprender a ler e escrever foi a indígena Catarina Paraguassu, devido a descoberta de uma carta de próprio cunho que essa endereçou ao Pe. Manoel da Nóbrega.

Catarina Paraguassu. Fonte: Google Imagens.

Pode-se citar ainda diversos outros exemplos de mulheres que sutil ou de forma abrangente contradiziam a cultura patriarcal da época. Dois deles seriam a atuação na esfera econômica e administrativa, respectivamente.

Alguns portugueses, por vezes, eram obrigados a retornar à metrópole com seus filhos, deixando à esposa o papel de coordenar seus negócios na colônia. No século XVI, as duas únicas capitanias que vigoraram — Pernambuco e São Vicente — ficaram sobre a ordem de duas mulheres. Elas foram importantes não só por os fazer prosperar economicamente, como também adotaram medidas que até hodiernamente é reflexo na economia do país (D. Ana Pimentel, responsável pela capitania de São Vicente, importou ao país o “gado vacum”, até hoje base da economia do Brasil).

Não obstante, para poder escapar do casamento forçado ou ter a oportunidade de estudar, muitas mulheres adentravam nos conventos e, dessa maneira, acabavam se destacando na administração dos mesmos ou se tornavam empreendedoras. Como ainda não existiam bancos ou agências de empréstimos, as freiras emprestavam dinheiros a juros aos colonos e, com isso, investiam seus lucros na venda, compra ou arrendamento de propriedades.

Vale ainda lembrar que uma das mulheres de maior evidência por escapar dos conceitos sociais vigentes foi Maria Quitéria dos Reis. As portuguesas, seguindo a tradição moura, eram proibidas de se exercitarem como fazer caminhadas ou andar a cavalo. Muitas acabavam então desenvolvendo um quadro de obesidade, pois viviam imobilizadas, engravidavam constantemente e comiam muitos doces. Maria Quitéria, ao contrário, participou de forma efetiva e contínua em lutas pela independência do Brasil e chegou a receber elogios e méritos por parte do imperador D. Pedro I por sua atuação.

Maria Quitéria dos Reis. Fonte: Google Imagens.

Sendo assim, empreende-se do texto que mesmo em uma sociedade de valores tradicionais nos quais o homem era senhor absoluto e a mulher um mero objeto, muitas delas conseguiam fugir das regras e submissões impostas. Da mesma forma, acabavam por desempenhar também um papel importante na formação cultural, econômica e política do Brasil nos anos em que fora colônia de Portugal, na medida em que se tornavam mais proativas na sociedade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

RIBEIRO, Arilda Ines Miranda. Mulheres Educadas na Colônia. IN: LOPES, Eliane, M.T; Faria Fº, Luciano M. e VEIGA, Cynthia G. (orgs). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte.: Autêntica.

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