Resenha do livro “Aracaju e Outros Temas Sergipanos”

pedrohenrique
PET História UFS
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4 min readJun 23, 2020
José Calazans Brandão da Silva. Defesa de tese de livre docência, 1950. Foto: Reprodução. Fonte: http://josecalasans.com/biografia.html

José Calazans foi um professor, historiador e folclorista da Universidade da Bahia, membro da Academia Baiana de Letras, do Conselho de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico. Dedicou-se aos estudos sobre a história de Sergipe e publicou obras como “O Ensino Público em Sergipe”, “Fausto Cardoso e a Revolução” e “O desenvolvimento cultural de Sergipe na primeira década do século”.

Aracaju e outros Temas Sergipanos é uma obra publicada em 1973 e se fragmenta em três capítulos: Introdução ao Estudo da Historiografia sergipana, Aracaju — Contribuição à História da Capital de Sergipe e Temas da Província. São elencadas as temáticas sobre a história de Sergipe, mudança da capital e questões econômicas que influenciaram relações políticas e no desenvolvimento de Aracaju. A narrativa acontece atrelada a uma linguagem rebuscada, apoiando-se em expressões da época, mas que despertam o interesse em conhecer, de forma aprofundada, como se davam as relações sociais, educacionais, políticas e o processo de mudança da capital.

No primeiro capítulo, o autor aborda a escassez de fontes que discorressem sobre a História de Sergipe de modo geral, destacando as diversas tentativas de construir uma história baseada em fontes concretas e a dificuldade encontrada pelos historiadores em obter informações sobre Sergipe em detrimento da ausência de publicações. No entanto, Felisbelo Freire é citado como o historiar que redigiu o acervo mais completo sobre a província de Sergipe Del Rey, além de outros historiadores, entre eles, professores da Universidade Federal de Sergipe, que tiveram suas contribuições para a elaboração das primeiras obras sobre Sergipe.

O segundo capítulo, inicia-se com uma breve definição sobre Santo Antônio do Aracaju, e eram apresentados relatos sobre a atuação de Inácio Barbosa como governador da província de Sergipe Del Rey e as tomadas de decisões que resolvem problemas sociais e políticos com outros estados. O direcionamento de Sergipe para as exportações do açúcar e, consequentemente, os primeiros indícios da mudança da capital, os quais estavam vinculados, segundo o autor, a interesses da região da Contiguiba (principal região produtora de cana de açúcar), partidos políticos, questões geográficas e figuras políticas, entre eles, Inácio Barbosa.

Após a mudança da capital, José Calazans descreve como as relações sociais e econômicas entre os municípios foram afetadas, principalmente, entre São Cristóvão e Aracaju, pois estava presente a insatisfação da população de São Cristóvão com a mudança. Por outro lado, é evidenciado o processo de construção da cidade, os aspectos naturais e até mesmo as mazelas que tornavam Santo Antônio do Aracaju um lugar caótico para viver.

Por fim, no último capitulo do livro, podemos perceber como se deu o processo de criação dos métodos de ensino na cidade de Aracaju e a dificuldade presente naquela época no tocante às metodologias que fossem eficazes no processo de aprendizagem de alunos e, posteriormente, para professores da rede de ensino. Além disso, é pontuado como o magistério era uma área sem nenhuma atratividade para os jovens da época e que, por consequência, o quadro de professores na cidade encontrava-se incompleto.

As crenças, rimas e objetos integravam o contexto da época e representavam como a população de Santo Antônio do Aracaju e São Cristóvão caracterizavam a cidade de forma delicada e sutil. No texto, é visível a indignação da população de São Cristóvão em relação à mudança da capital, evidenciando o quão doloroso foi esse processo de remoção e que, por isso, a culpa era imputada a figuras políticas da época que contribuíram para esse processo. Do mesmo modo, faziam-se presentes adjetivos sobre as belezas naturais e materiais que era motivo de orgulho para a população — isso tudo caracterizava o folclore da época.

A obra se debruça sobre teses e referências da história de Sergipe que, até então, são desconhecidas por muitos e têm um valor indiscutível para reavivar e produzir trabalhos científicos com base nos detalhes minuciosos explanados pelo autor. É evidente a variedade de fontes históricas presentes em toda a obra para reforçar a relevância de abordar temas como ensino, economia e a cultura que caracterizam não só as cidades de Aracaju e São Cristóvão, como o estado de Sergipe. A linguagem empregada pode gerar algum estranhamento, haja vista que, considerando o período histórico, o autor se utiliza de algumas expressões não muito presentes atualmente — o que tem sua relevância histórica, também — porém, ao decorrer da obra a leitura se torna fácil diante da peculiaridade dos fatos.

Para aqueles que desejam conhecer o estado de Sergipe enquanto aspectos sociais, econômicos, estruturais e culturais, o livro atende não só a esses requisitos, como também, instiga a pesquisa de temas relevantes que contribuam para a história de Sergipe.

Referência

SILVA, J. C. B. Aracaju e Outros Temas Sergipanos. Aracaju: Nacional Gráfica, 1973.

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pedrohenrique
PET História UFS

Poçoverdense, pesquisador, graduando em Turismo - UFS