Triste, Louca ou Má

A Condição da mulher na sociedade contemporânea.

Maria Beatriz
PET História UFS
3 min readApr 27, 2020

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Figura 1 Cena do clipe Triste, Louca ou Má, Francisco, El Hombre. Foto: Reprodução. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE

Sabe-se que, desde o surgimento das primeiras comunidades, a divisão sexual do trabalho demarca um dos primeiros elementos de uma estrutura patriarcal que se consolidou com o passar do tempo. Deste modo, a mulher historicamente estivera na condição de inferior ao homem, que pautado nas justificativas biológicas, culturais e religiosas, afirmara cada vez mais a sua “superioridade” no campo econômico e social, com os princípios patriarcais em vigor. Outrossim, a canção “Triste, Louca ou Má” da banda Francisco, El Hombre, composta pela cantora e compositora Juliana Strassacapa, aborda a condição da mulher na sociedade contemporânea e seus respectivos desafios pós-revolução feminista (1960).

Nesse contexto, a expressão triste, louca ou má advém do sad, mad or bad que surgira nos EUA, para adjetivar mulheres que não almejavam casar-se, cuidar dos filhos e da família, isto é, aquelas que contrariavam a “bem conhecida receita” mencionada na canção. E apesar do espaço que a luta feminista alcançou e segue lutando para alcançar, a herança das sociedades patriarcalistas ainda é muito presente na construção dos comportamentos femininos no tempo presente, visto que os princípios patriarcais ainda são, indubitavelmente, regente dos padrões (corporais, estéticos, comportamentais, etc) do que seria a “mulher ideal” e tudo que foge desta idealização põe a figura feminina no campo da solidão, da loucura e da tristeza.

Sendo assim, com a análise dos fatos históricos, é possível visualizar com mais precisão a condição da mulher na sociedade, após a Revolução Industrial (1760–1820/1840), por exemplo. Nesse sentido, o Brasil no século XX, mais especificamente a partir da década de 1950, iniciava sua segunda fase de desenvolvimento industrial, com o investimento nas instalações de empresas multinacionais. Assim, para potencializar o consumo, os cartazes publicitários ganharam espaço e a figura feminina também foi alvo da “modernização” proposta pela industrialização. Entretanto, a condição de “mulher ideal” e a objetificação da figura feminina estava presente na propaganda e no processo de modernização, que diferia dos cartazes direcionados ao público masculino, visto que em sua grande maioria, incitavam a compra de automóveis, enquanto para o público feminino, resumia-se em eletrodomésticos como sonho de consumo, restringindo a mulher ao papel de mãe e dona de casa. Ou seja, apesar do contexto de pleno progresso capitalista em que se encontrava o país, a mulher permanecia na condição de mãe e esposa, mantendo-se, portanto, imóvel socialmente, visto que, a designação de “mãe e esposa” encontra-se no seio da sociedade patriarcal.

Figura 2 Cartaz publicitário da década de 1950. Foto: Reprodução. Fonte: https://www.google.com/search?hl=pt-

Desta forma, o diálogo entre a canção e a conjuntura feminina se entrelaçam e, de forma genuína , a mensagem explícita na música foge das definições que são impostas, pontuando a importância da luta para o distanciamento das objetificações, dos padrões e das conformidades que passam despercebidos em muitos casos, visto que, a cultura machista encontra-se enraizada na sociedade, e consequentemente, naturalizada. Além disso, a composição evidencia uma busca pela liberdade individual, que se torna coletiva, na medida em que outras mulheres são contempladas com a mensagem libertária: “Um homem não me define/ minha casa não me define/ minha carne não me define/ eu sou o meu próprio lar.”

REFERÊNCIAS:

A MULHER NA CULTURA. Direção: Jorge Junior. Produção: Carol Perroni. Intérprete: Rita Von Hunty. Fotografia de Jorge Junior. Youtube: Tempero produções, 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eckNexb8fU4. Acesso em: 15 abr. 2020.

DE FREITAS, Virna Pires Vilar, et al. “TRISTE, LOUCA OU MÁ”: UMA ANÁLISE DA MÚSICA DE FRANCISCO, EL HOMBRE SOB O OLHAR HISTÓRICO DE SIMONE DE BEAUVOIR. Mulheres, gêneros, arte, Revista Conage, ano 2018. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/conages/trabalhos/TRABALHO_EV112_MD4_SA13_ID223_11052018155021.pdf. Acesso em: 15 fev. 2020.

TRISTE, LOUCA OU MÁ. Direção: Rafa Câmara e Renan Chagas. Produção: Mónica Pita Santos. Intérprete: Francisco, elhombre. Fotografia de Matheus Rasera. Youtube: [s. n.], 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE. Acesso em: 15 abr. 2020.

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