O pra sempre sempre acaba

Luiz Maritan
Petardos & Canetas
Published in
3 min readJun 8, 2016

É triste pensar que quem nasceu nas últimas três décadas não viu uma seleção brasileira que não tivesse o pensamento da atual. Tomo por base a minha experiência para fazer esta conta. Afinal, minhas primeiras lembranças futebolísticas remontam a 1982, com flashes da Copa do Mundo e da seleção de Telê Santana e, principalmente, com imagens vivas da decisão do Paulistão, quando o Corinthians amassou o São Paulo. Partindo desta premissa, quem nasceu a partir de 1985 vai se lembrar de ter visto jogos ao vivo a partir de 1990. Ou seja, futebol de resultados, mais marcação que criação e todas as variantes que, com raras exceções, marcaram os times vestidos de amarelo.

O time de Dunga, o comandante de plantão, é mais do mesmo que vimos nos últimos anos com Lazzaroni, Parreira, Felipão, etc, etc… Até com Ernesto Paulo, para quem se lembra. Alguém aí atrás vai gritar: jogou feio, mas foi campeão do mundo duas vezes. E em 82, o Brasil jogou bem e não ganhou nada. Tudo bem, os fatos estão corretos, mas é bom lembrar que a seleção também foi campeã em 58, 62 e 70, com uma visão de futebol bem diferente. E Espanha e Alemanha não tinham este pragmatismo todo quando foram campeãs em 2010 e 2014, não é?

É certo que minha geração e algumas mais antigas têm sua parcela de culpa, quando, depois das decepções de 82 e 86, defenderam que o bom era ganhar, não jogar bonito. Aí, volantes e zagueiros eram mais importantes que meias e atacantes. Pontas seriam substituídos por laterais que apoiavam o ataque. Força física, marcação e carrinhos…

Se não tínhamos mais Pelé e Garrincha, pensava-se que jogadores com o nível de Gerson, Jairzinho, Zico, Sócrates, Falcão e Careca apareceriam para sempre. Romário estava ali para comprovar a tese. Só esquecemos que, como disse o poeta, “o pra sempre sempre acaba”…

Ficamos com jogos modorrentos quando a seleção brasileira entrava em campo. A camisa que encantava o mundo passou, com o tempo, a ser um arremedo de si mesma. Já não se tem um estilo de jogo brasileiro, uma maneira de se portar em campo, toque de bola, lançamentos precisos, dribles, cobranças de falta no ângulo com curvas impossíveis. Jogos amistosos, só na Europa, Ásia e América do Norte, que é onde o dinheiro está. Nem mesmo craques para resolver o jogo por si, como Romário e Bebeto ou Ronaldo e Rivaldo. Agora, quando muito, o Brasil tem um solitário Neymar. Mas não sempre.

O tal futebol de resultados (que agora tem qualquer outro nome mais bonitinho) pode até ter dado dois títulos mundiais para o Brasil, mas vem tendo como seu “principal resultado” matar a paixão do brasileiro por sua seleção. Se duvida, pergunte a quem nasceu nas últimas três décadas o que sente por este time que entra em campo vestido de amarelo…

--

--

Luiz Maritan
Petardos & Canetas

Jornalista, contador de histórias que viram livros ou não e uma pessoa com fortes laços de amizade com o Zorro