Suspiro de esperança

Luiz Maritan
Petardos & Canetas
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3 min readOct 7, 2016

Tite não é perfeito. Ninguém é. Mas o que ele conseguiu em tão pouco tempo à frente da Seleção Brasileira é digno de todos os elogios e mostra que o treinador é realmente muito bom. A ponto de oferecer um suspiro de esperança ao torcedor depois de vitórias contra Equador, Colômbia e Bolívia. Esta última aliás, desconte-se a fragilidade do adversário, um atropelamento e uma atuação que há tempos não víamos.

É impressionante, aliás, como o trabalho de Tite fez tanta diferença em tão pouco tempo. Afinal de contas, ele não inovou tanto assim nos jogadores se compararmos com os que eram frequentemente convocados por Dunga. A novidade está, sim, no trabalho, na formação de um grupo em que cada um oferece sua contribuição dentro do que pode render melhor.

Mas os exemplos do treinador não se restringem a dentro do campo, com posicionamento moderno, marcação pressão, valorização da técnica e do toque de bola ou com a movimentação baseada em aproximação e triangulações. O papel dele vai além, ultrapassa os limites das quatro linhas e atingem o brasileiro comum.

O primeiro resultado neste sentido é o próprio início da recuperação do orgulho pela seleção. Ainda durante o jogo contra a Bolívia, um primo que vive no Maranhão escreveu sobre a satisfação de ver o time brasileiro jogando bem. Ao mesmo tempo, um amigo do Rio decretou: “bom demais sentir alegria ao ver a Seleção Brasileira jogar”. Outro amigo, este de Mogi, viu semelhanças do time de Tite com a seleção de Telê.

A felicidade pelas boas atuações atingiu todas as regiões e também demonstra que o torcedor brasileiro não tinha desistido da Seleção de uns anos para cá, como muitos supuseram, inclusive este escriba. Ele estava, sim, desiludido e carente por boas atuações, o que esta nova seleção conseguiu entregar nos últimos três jogos.

Agora, o segundo legado de Tite vai além do esporte e talvez seja mais importante para o país. É mostrar que o “vamos que vamos que uma hora a gente dá uma sorte e algum enviado de Deus (no caso, Neymar) resolve nosso despreparo” não funciona mais. É um golpe duro no jeitinho. Ao se preparar, estudar, montar uma tática em que todos têm sua importância, o treinador da Seleção aponta um caminho que deveria ser seguido fora do futebol ou do esporte. Este espírito podia ser levado para o dia a dia, deixando que as condicionalidades e o acaso sejam os fatores decisivos para o sucesso. A vida não precisa e não deve ser assim.

É um pensamento que deveria ser adotado, aliás, dentro do próprio comando do futebol nacional. Afinal de contas, poucas entidades possuem um quadro mais despreparado para lidar com sua atividade original que a CBF ou das federações estaduais.

Dentro de campo, a Seleção Brasileira ainda dá seus primeiros passos rumo à recuperação do que já foi um dia. Onde poderá chegar ainda é um mistério que, talvez, nem o final destas Eliminatórias seja capaz de dizer com certeza. Mas, pelo menos, é justo ter a esperança de que, depois de muitos anos, temos um projeto consistente de Seleção. Na conjuntura do futebol por aqui, isso é já um imenso avanço.

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Luiz Maritan
Petardos & Canetas

Jornalista, contador de histórias que viram livros ou não e uma pessoa com fortes laços de amizade com o Zorro