Um caso a ser estudado

Luiz Maritan
Petardos & Canetas
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4 min readOct 7, 2016

O Corinthians de 2016 já é um fenômeno a ser analisado pelos estudiosos do futebol mundial. A tese poderia se chamar “Como uma infinidade de erros pode acabar com um legado campeão em tão pouco tempo”. Ou então, sendo menos político, “Como a incompetência joga tudo pelo ralo”.

Mais impressionante é que o atual momento corintiano é fruto da incompetência coletiva e unânime. De cabo a rabo, os erros foram se acumulando em uma velocidade poucas vezes vista, como em um enxame de gafanhotos a devorar uma plantação que, se não traria safra recorde, não mataria o agricultor de fome. Em futebolês, se a equipe não buscaria o título, era suficiente por uma vaga na Libertadores de 2017, o que, como consequência, deixaria o clube em situação mais confortável para cumprir suas obrigações com o pagamento do estádio e fazer girar a roda do futebol.

Vamos a alguns fatos e atores principais que explicam a derrocada alvinegra neste ano.

A diretoria, como de costume em terras brasileiras, tem grande parcela de responsabilidade no desastre. E não pela tal austeridade apregoada pelo presidente Roberto de Andrade. Afinal, primeiro a responsabilidade financeira é o que se espera de dirigentes ou quem quer que comande algo que não lide apenas com seu dinheiro. Depois, porque a atual diretoria apenas está corrigindo rumos de administrações recentes que são do mesmo grupo político interno.

A culpa dos dirigentes está em fazer contratos ruins com os campeões de 2015, o que deixou o clube vulnerável à investida chinesa do início do ano. E por ter gastado muito mal o dinheiro que tinha para jogadores. Em outras palavras, por contratar mal. Afinal de contas, será possível que não existiam opções melhores que André, Vilson, Willians ou Giovanni Augusto no início do ano? E que Gustavo no meio da temporada? Será que não tem ninguém melhor que ele na base? Se a resposta for negativa, o caos é muito maior do que se pensa.

A contratação de Cristóvão Borges e a manutenção de Fábio Carille também vão para a conta de Roberto de Andrade e companhia.

Tite, tratado como Deus por muitos, também tem sua larga parcela de culpa no cartório. Primeiro, por avalizar as contratações duvidosas da primeira parte da temporada. E, justiça seja feita, se não era um primor, com ele a equipe até tinha um padrão. Abaixo dos últimos anos, mas tinha. No entanto, a principal responsabilidade do técnico é ter deixado o time no meio do ano e, não contente, desmontar a espinha dorsal da comissão técnica, levando o povo para a Seleção Brasileira. As saídas de junho bagunçaram o coreto e deixaram todas as condições necessárias para a desgraça.

O ex-treinador também tem o pecado de não saber trabalhar com a molecada, o que fez com que alguns que pudessem ajudar acabassem indo parar em outras freguesias. É o caso do meio de campo. Primeiro, Marciel foi trocado por Willians (!!!). Depois, Maycon foi emprestado para a Ponte Preta. Os dois, de longe, são melhores que muitos os que estão no alvinegro hoje. Bastaria um pouco de confiança é uma sequência.

Os técnicos que vieram a seguir também têm sua porcentagem. Cristóvão por, ao tentar colocar suas ideias em prática, acabar com o legado de Tite de um time compacto, de triangulações e movimentação constante. Carille, que nem técnico é ainda, por não conseguir encontrar uma forma de o time criar chances e fazer gols. Uma lástima.

Na conta dos jogadores, pode se colocar a falta de competência mínima para cumprir seu papel em campo. Mesmo os destaques do time, raros talentos, estão bem abaixo do que podem render. É o caso do agora machucado Cássio, de Fagner e de Marquinhos Gabriel.

A torcida organizada também fez das suas, como de costume. Até interdição de parte do estádio como punição — que reflete diretamente nos cofres para o pagamento da arena — tivemos. Mas desse pessoal não dá para esperar muito mesmo.

Neste cenário obscuro, o futuro do Corinthians não é promissor. Nem a transformação do G4 da Libertadores em G6 será capaz de dar um alento ao time para estar na principal competição sul-americana no ano que vem. Mais correto seria tentar ganhar alguns dos jogos que faltam no Brasileirão para terminar o ano com dignidade, ver até onde é possível ir na Copa do Brasil e começar a pensar em 2017, em busca de voltar aos trilhos.

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Luiz Maritan
Petardos & Canetas

Jornalista, contador de histórias que viram livros ou não e uma pessoa com fortes laços de amizade com o Zorro