Uma Copa da América

Luiz Maritan
Petardos & Canetas
Published in
3 min readJun 10, 2016

Esta Copa América Centenário, que acontece nos Estados Unidos, não vem tendo no Brasil a atenção que deveria. Em parte, culpa nossa mesmo, que andamos virando as costas para o regional, afinal só vale o global, o lá na frente. Como se este processo de globalização esportiva nos fizesse melhores. Não faz. Culpa em enorme parte da nossa CBF de todo dia, que insiste em manter a insana ideia de tocar o Brasileirão em frente com o selecionado a disputar uma competição oficial. Culpa da própria seleção e seu desempenho pífio dos últimos tempos. Culpas de muitos, mas não da ideia da competição.

Afinal de contas, esta é uma Copa América verdadeiramente da América. Do Sul ao Norte, da Terra do Fogo ao Alasca, passando pela Amazônia e em seus diversos países, pelas ilhas caribenhas… Todas as facetas e realidades do continente estão representadas. A riqueza norte-americana, a miséria do Haiti, as peculiaridades do México, do Brasil, da Argentina, do Uruguai, Chile, Colômbia… O reggae da Jamaica, as flautas da Bolívia. A América é tudo isso e muito mais.

Futebolisticamente, acostumamos com um continente dividido entre Conmebol ao Sul e Concacaf ao Norte. Historicamente, a primeira se firmou como dona da bola, com sua trinca de campeões mundiais: Brasil, Argentina e Uruguai. A irmã, como um patinho feio, relegada apenas a lampejos mexicanos. Entre os clubes, o Sul tem a Libertadores da América. O Norte… Bem, nada de muito relevante.

A Copa América Centenário coloca-se como uma oportunidade de quebra deste paradigma. Uma chance de embrião para uma integração futebolística no continente. Reúne as dez seleções sul-americanas com seis da Concacaf, na América do Norte. Um formato simples, com 16 seleções. De todo o continente.

A Europa já pratica esta integração com competência há muito tempo e com muitos países, de Portugal à Rússia. As Eliminatórias para a Eurocopa, por lá, têm tanto interesse de público e patrocinadores quanto as Eliminatórias para a Copa do Mundo. Entre os clubes, a Champions League e a Uefa League dispensam apresentações. Todos os torneios — entre seleções ou clubes — disputados por representantes de todos os cantos do continente, com faixas preliminares que se afunilam para que os melhores ou mais competentes estejam nas disputam finais.

Já passou da hora de uma unificação entre Conmebol e Concacaf. Que exista uma grande Copa América a cada quatro anos, com fases preliminares e uma grande fase final. Que a Libertadores una todos os países, com seus representantes. Ainda que os Estados Unidos estejam mas para dominadores que libertadores, mas isso é uma outra discussão.

É hora de inteligência, de aproveitar que o nível técnico cresceu do lado de lá da Linha do Equador — ou que diminuiu aqui, sei lá. O que interessa é que hoje Estados Unidos e México estão em nível semelhante ao das boas equipes da Conmebol. E que o dinheiro circule para o crescimento do futebol no continente.

Chegando neste ponto e na palavra “dinheiro” fica um forte sentimento que esta integração é apenas uma utopia deste escriba que ainda tem sonhos ingênuos. Antes de o comum, quem comanda o negócio futebol enxerga o pessoal, “o dele”, sua sobrevivência e vantagens. Nesta visão, duas confederações, com seus privilégios e oportunidades, são mais interessantes que uma única, por mais que esta fosse mais forte.

Continuaremos parando para assistir a uma Eurocopa potente e relegando a um segundo plano uma Copa América capenga, que não cumpre seu papel de ser, verdadeiramente, uma competição da América.

--

--

Luiz Maritan
Petardos & Canetas

Jornalista, contador de histórias que viram livros ou não e uma pessoa com fortes laços de amizade com o Zorro