Como o jornalismo se adapta às redes sociais?

Pedro Vinícius
PETCOM UFAM
Published in
6 min readMay 21, 2019
Foto: iStock

A internet e os meios digitais pouco a pouco passaram a ser incorporadas no modo de viver em sociedade. A popularização e a crescente acessibilidade das novas tecnologias moldaram as formas de comunicação entre as pessoas. Hoje em dia, por exemplo, é raro encontrarmos alguém que não tenha um smartphone ou um perfil em uma rede social.

E já que os modos de se comunicar mudaram, o jornalismo também encontrou novas maneiras de se adaptar à nova realidade e encontrar o seu espaço nas plataformas que surgiram.

O Facebook, criado em 2004 e administrado por Mark Zuckerberg, conta com mais de 100 milhões de brasileiros ativos. A maior rede social em todo o mundo se tornou uma maneira dos veículos jornalísticos se aproximarem cada vez mais do público, principalmente os jovens, e divulgar suas notícias e reportagens.

No entanto, a forma de apresentar uma notícia mudou. A atividade jornalística nas redes sociais tende a atender o público majoritário das plataformas e se moldam ao mesmo tempo que a notícia é compartilhada, obedecendo a uma linguagem mais objetiva e aproveitando os recursos que a internet possibilita. Em consequência disso, elementos como a hipertextualidade e a interatividade são amplamente utilizados.

As publicações são acompanhadas de links para as matérias nos portais dos veículos, com o texto de legenda e com a interação do público, que reage às postagens tanto nos comentários quanto na quantidade de curtidas das publicações.

Para ilustrar essa situação, segue abaixo algumas publicações do portal de notícias do jornal O Globo e da Revista Exame.

Publicações nas páginas no Facebook do jornal O Globo (à esquerda) e da Revista Exame (à direita).

Agora, se comparados à outra rede social, como o Instagram, os perfis da revista Exame e do Jornal O Globo apresentam uma abordagem diferenciada. Em uma rede social em que, literalmente, uma imagem vale mais do que mil palavras, o compartilhamento de fotos e vídeos se tornou um hábito no cotidiano das pessoas.

Levando em consideração o foco do aplicativo, os veículos possuem suas publicações mais voltadas para a arte, o comportamento, a cultura e o entretenimento, porém, não deixando de englobar notícias de outras editorias, como política, economia e esportes.

Os textos de legenda dão uma prévia sobre o assunto a ser tratado nas matérias e notícias e são seguidas pelo link para o acesso ao assunto de forma completa.

Perfil no Instagram do jornal O Globo.
Perfil no Instagram da Revista Exame.

Por falar nessa rede social, o Instagram possui, atualmente, mais de um bilhão de usuários ativos por mês no mundo. Em outubro de 2018, o Brasil se encontrava em terceiro lugar no ranking mundial da rede social com 64 milhões de usuários. Além das publicações tradicionais na rede social, o compartilhamento de stories na plataforma ajudou ainda mais no domínio do Instagram na preferência da população.

Essa ferramenta possibilita o usuário publicar uma foto ou vídeo disponível por 24 horas em seu perfil, logo após o período determinado a publicação desaparece. Entre os veículos jornalísticos que utilizam a ferramenta de forma diferenciada, o jornal Estadão pode ser destacado.

Diariamente, o jornal publica um quadro nos stories do Instagram chamado “Drops Estadão” em que os principais acontecimentos do dia são apresentados de forma leve e descontraída. Com uma linguagem mais coloquial, dois apresentadores resumem o que de mais importante cada notícia apresenta e combinam vídeos, fotos e gifs que ilustram as situações a serem debatidas.

Prévia do quadro “Drops Estadão”.

Com o número cada vez maior de usuários em redes sociais é compreensível a busca por novas maneiras que façam o público ter acesso às informações, visto que o jornalismo tende a se adaptar às novas formas de comunicação da sociedade. Cabe a cada veículo de comunicação entender a dinâmica de informação atual e buscar novas possibilidades que evitem a perda de público e que consolidem a sua atuação no cotidiano das pessoas.

“Se tá na internet então é verdade”

O uso massivo das redes sociais faz com que a sociedade, de uma forma ou de outra, se informe prioritariamente por essas plataformas. Ao mesmo tempo em que as novas tecnologias renovaram diversas características do jornalismo, elas também garantiram o acesso cada vez mais imediato das informações e se popularizou pela grande circulação de notícias e informações falsas que são compartilhadas. A famosa frase “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” nunca foi tão atual.

Quantas vezes a morte de algum artista famoso ou o dia que o mundo iria acabar já foram anunciados nas redes sociais? O desejo de muitos blogs e sites de atrair cada vez mais a audiência, que na internet é medida através dos clicks, faz com que a veracidade e a relevância das informações publicadas sejam contestadas.

O clickbait, por exemplo, é extremamente utilizado. A veiculação de notícias com títulos sensacionalistas e chamativos ao mesmo tempo em que aumentam a quantidade de acessos a um determinado website também prejudicam a credibilidade e a confiabilidade desse portal. Conforme o leitor lê a matéria, ele entende que a informação divulgada na manchete é totalmente deturpada e não possui nenhuma ligação direta ao conteúdo da notícia.

As fake news também tiram vantagem no compartilhamento de informações de cunho político e social. É natural do ser humano a tendência de encontrar meios que comprovem a sua visão de mundo e a propagação de seus princípios e de tudo aquilo que ele acredita como verdadeiro.

Redes sociais, como o Facebook, incrementam muito essa situação ao utilizar-se de algorítimos que adaptam o que pode ser visto pelo usuário por meio da sua interação na rede social, o que facilita a exposição de assuntos baseados no seu gosto pessoal e assim mostram “o que você quer ver”. As notícias que apelam para esse lado são fortemente passíveis de compartilhamento. Não é à toa que após as eleições que elegeram Donald Trump como presidente dos EUA entrou em debate a grande circulação de notícias falsas que usavam fundamentos religiosos e sociais para favorecer o candidato.

Esse comportamento também pode afetar a credibilidade de muitos portais de notícias reconhecidos pelo público. Pela agilidade da informação, centenas de notícias são compartilhadas ao mesmo tempo e com a ânsia de noticiar tudo em primeira mão a apuração das informações muitas vezes é negligenciada.

E como fica o jornalismo nessa história?

Desse modo, a atividade jornalística é prejudicada, a falta de apuração dos acontecimentos e o compartilhamento de fake news são responsáveis por popularizar uma má fama ao jornalismo nas redes sociais. No Brasil, sites como a Agência Lupa, Agência Pública e Aos Fatos são especializados em fact checking e garantem a verificação da veracidade das notícias e o compartilhamento de informações corretas no País.

Além do jornalismo se adaptar às novas maneiras de noticiar nas plataformas presentes na internet, os veículos de comunicação de credibilidade, em meio a um mar de notícias falsas, são as principais fontes de informação verídica e de confiança e devem zelar cada vez mais na apuração e na verificação das notícias. É essencial que o público, por sua vez, também fortaleça o hábito de procurar fontes e confirmar a veracidade da notícia que está sendo lida antes de qualquer compartilhamento.

--

--