O Twitter e as dificuldades de diálogo entre os governantes e a população
Uma das novas configurações estabelecidas pelo governo atual é, sem dúvida, a forma de comunicação entre o Estado e a população. O Twitter se tornou a plataforma oficial de interação e pronunciamentos políticos do presidente Jair Bolsonaro, que desde o período eleitoral já havia elegido a rede social como um segmento de sua atuação política, e esse arranjo é refletido em todas as outras esferas do governo e suas autoridades.
Além disso, é claro que os ministros do presidente não ficariam de fora. Recentemente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge de Oliveira Francisco, criou um perfil na rede social alegando seguir as “diretrizes determinadas pelo presidente”. A ação do ministro recém empossado pela presidência se alinha ao que já tem sido feito por seus colegas chefes de outras pastas do governo.
O que tem chamado atenção é justamente o comportamento dessas autoridades ao utilizar a rede social. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, vem causando polêmica com algumas de suas declarações, como a feita no dia 27 de junho: “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”, escreveu Weintraub referindo-se ao episódio dos 39kg de cocaína apreendidos num avião da Força Aérea Brasileira que acompanhava a comitiva do presidente Jair Bolsonaro.
O comentário gerou muita controvérsia e crítica de opositores. Tais críticas que foram respondidas, em alguns casos, com o bloqueio por parte do ministro aos perfis que atacaram a declaração feita. Dado o fato, entra em pauta as questões referentes a até que ponto o público pode ser separado do privado na vida de um ministro do governo e se esse tipo de atitude cerceia a atividade política do cidadão e pode ser considerada como um ato de censura.
Caso semelhante também aconteceu no governo de Donald Trump, a quem Bolsonaro já manifestou admiração, que popularizou a estratégia de utilizar as redes sociais como canal de comunicação presidencial do Estados Unidos. O presidente foi obrigado a desbloquear sete usuários do Twitter, em uma decisão da juíza do distrito de Manhattan, Naomi Reice, ao considerar a atitude do presidente contrária à liberdade de expressão.
Aqui no Brasil, um grupo de 111 advogadas protocolou um mandado de segurança contra o ministro da Educação exigindo o desbloqueio imediato da professora e pesquisadora Debora Diniz, uma das críticas à declaração de Weintraub. Como resposta, o ministro declarou: “Meu Twitter minhas regras!” e aquele que quisesse ter acesso ao seu perfil não poderia ser “chato e comunistinha”.
O problema é que quando o ministro e outros agentes do governo utilizam suas redes sociais para manifestações políticas e que atingem diretamente diversos setores da sociedade não há como afastar a sua imagem pública da pessoal. Ao utilizar o Twitter como um espaço de debate, a plataforma se torna a voz de um agente público, desconsiderando qualquer possibilidade da rede social possuir um cunho privado e sem interferência de seu cargo político.
Um dos grandes trunfos do presidente Jair Bolsonaro, a sua popularidade e influência nas redes sociais é algo que vai continuar sendo estimulado e refletido nas diversas áreas de seu governo. Se levar os seus ministros a criarem contas nas redes sociais ajuda na manutenção desse poder para aqueles que os apoiam, é contraditório impedir com que opiniões opostas e contestações ao que está sendo declarado em um perfil público ocorram. Manifestações desse cunho vão contra ao exercício da democracia e ainda aumentam a barreira de comunicação entre diferentes grupos de opinião.
Outro ponto que entra em conflito é a utilização do Twitter como uma ferramenta de participação política. Os usuários aos seguirem líderes políticos procuram preencher seus anseios ao fazer parte do processo político e não somente de se tornarem receptores passivos de informação. Além, é claro, da rede social ter um caráter de ferramenta de negócio para quem trabalha com política ou faz a cobertura de notícias acerca do tema.
Uma figura política deve estar aberta ao escrutínio público e é direito do cidadão manifestar e contestar as ações de seus representantes. Por mais que estejam protegidos em suas “contas privadas”, no fim do dia eles ainda não deixam de ser agentes políticos. Atitudes como as do ministro não ajudam na manutenção de sua imagem pública tampouco contribuem para o andamento das pautas educacionais do País.