Grupo de Tradições Folclóricas Raízes Nordestinas

Redação para Mídias Digitais
Pici Cultural
Published in
10 min readJun 2, 2019

Um grupo de danças regionais que surgiu no bairro do Henrique Jorge e que se movimenta por tradições, histórias e sonhos.

Apresentação de Xaxado — Fonte: https://cioffbrasil.org/grupo-raizes-nordestinas-ce/

Criando Raízes — Uma Nova História Que Nasce

É engrandecedor imaginar que realidades incríveis existem em muitos lugares do universo. Cotidianos diferentes, culturas fantásticas, as verdades da humanidade contadas, recontadas e modificadas a cada instante por nós mesmo naturalmente, a cada dia, mas contadas também por pessoas que se dedicam a preservar nossas histórias.

O Grupo de Tradições Folclóricas Raízes Nordestinas (GTF Raízes Nordestinas)é um projeto que nasceu do desejo de não estar parado, nem no palco, nem na sociedade, do bombeiro militar Francisco Oliveira. O ano era 1996, e o jovem Francisco, até aí já tinha participado dos grupos do Centro Social Urbano César Cals (CSU) e no SESI (Serviço Social da Indústria). Sem dar chance para a inércia, ele criou o grupo Raízes Nordestinas, que começou com seus primeiros ensaios em uma escola privada, já contando com a participação de mais ou menos 25 integrantes. No início o principal objetivo do grupo, e do Francisco, era vivenciar e aprender mais sobre as danças tradicionais cearenses, interesse esse que se fortaleceu e se expandiu com o passar dos anos.

Após isso os ensaios passaram a acontecer em outra escola, em um salão paroquial e por fim no Centro Social Urbano, local onde se reúnem até hoje e que antes era visto como perigoso, devido à situação de abandono, fazendo com que algumas pessoas deixassem de ir aos ensaios devido à sensação de insegurança. Francisco tem a esperança de ter uma visibilidade maior após a inauguração do CUCA do Pici, e espera que, após isso, o grupo atraia mais pessoas. Este novo equipamento será construído no mesmo local do antigo CSU e tem como objetivo destinar sua estrutura para atividades esportivas, educacionais, culturais, artísticas e de entretenimento. Francisco ainda fala sobre a importância de um espaço para esses os projetos do Bairro Planalto Pici, pois reconhece a potência das produções artísticas já existentes no mesmo.

Hoje, o grupo traz aprendizagens de outras regiões do Nordeste, do Brasil e do mundo. Nesses 23 anos que se passaram, muitas pessoas contribuíram para o GTF Raízes Nordestinas. As danças são as mais diversas possíveis, dentro do recorte que as caracterizam como danças tradicionais.

A origem no nome do grupo está relacionada com a cultura tradicional popular e, no início, com a representatividade das danças nordestinas. O projeto vem crescendo com as contribuições de várias pessoas que se descobrem dentro do grupo e dentro da própria história. Fica claro que não é só a dança a única linguagem trabalhada, mas também a montagem, a encenação, a criação de vestimentas e, principalmente, é construída a socialização de todos os integrantes entre si e com a sociedade.

Fonte: Elaborada pela equipe

Disseminando Sementes — Viagens

As viagens transformam as perspectivas do GTFRN. Para facilitar, podemos dividir em quatro tipos de deslocamentos: pesquisas, regionais, nacionais e internacionais. Cada ida à um festival, concurso, evento ou novo espaço, é mais do que uma simples experiência, mas uma troca de vivências, conhecimentos, sonhos, tudo isso agregado com bastante empenho individual e coletivo, dedicação e disposição de tempo para frequentar os ensaios. Para que as danças sejam projetadas, há a locomoção de alguns participantes para estudo, geralmente o Francisco, membro idealizador e fundador da equipe de dança, e mais duas ou três pessoas. Normalmente as pesquisas são apenas pelo Ceará, com o intuito de buscar mais sobre danças que eles ainda não dispõe no catálogo, e para que possa ensaiar, apresentar e manter viva a tradição.

Em 2000, o GTFRN fez sua primeira viagem para Teresina, onde ocorreu o Encontro Nacional de Folguedos, um espaço onde coletivos são convidados a representar o folclore regional do seu local de origem. Há apresentações de bonecos gigantes, capoeira, versos cantados e vários outros. Esse momento permitiu a comunicação com outros grupos bem mais experientes e vindos de todos os lugares do Brasil, além do reconhecimento do projeto por outras pessoas. Sete anos após esse avanço, o Raízes já demonstrava toda a sua força no Festival de Olímpia, o maior festival de cultura folclórica do Brasil, no estado de São Paulo.

Outro ponto importante é como eles interagem nos percursos. As locomoções por ônibus, por exemplo, são bem diversas. Quando existe a necessidade da ida de todos, há uma dinâmica bastante fluida com conversas, cantigas, danças, contudo, tem quem prefira ficar ouvindo música nos fones ou lendo um livro.

Em 2015, eles fizeram seu primeiro vôo internacional, para o México, representando o Brasil. Foram feitas apresentações em cinco estados mexicanos. Poliana Braga, integrante do Raízes há 22 anos, afirma que para a equipe, que surgiu dentro da comunidade do Pici, estar simbolizando o Brasil foi uma conquista grandiosa. E, claro, há muito trabalho para arrecadar dinheiro para a concretização desses sonhos, antigos e novos, já que quem paga tudo são os próprios membros. Francisco, por amor a esta tradição, fez um empréstimo e vendeu o seu carro, para que todos os membros pudessem ir. A ida a cada destino é um ponto de união entre todos.

Fonte: Elaborada pela equipe
Apresentação do GTF Raízes Nordestinas no V Festival Internacional de Folclore do Ceará (2016)

Desabrochando a Cultura — As danças do Sertão

A dança é parte fundamental para manter a memória do Ceará, o GTFRN, além de unir pessoas em um só ritmo, mostra que a cultura popular nordestina vai além do forró. Através de pesquisas e estudos das expressões locais, o grupo monta as suas coreografias e apresentações o ano inteiro, tendo até 8 apresentações em um mês. São mais de 40 estilos apresentados, entre eles: xote, xaxado, maneiro pau, samba, frevo, coco, boi do ceará, boi da Paraíba, reisado do congo, dança do camaleão, cavalo piancó, cana verde, curiá e carnavalito.

A partir das pesquisas eles desenvolvem as projeções cênicas, tornando-as mais atrativas para os dançarinos e para o público que assiste, e coletam músicas autênticas, para se utilizar de recursos novos, que antes era impossibilitado para os praticantes, colocando alguns arranjos, mas sempre mantendo a originalidade, e dando a cara do grupo ao trabalho. Poliana considera o conhecimento essencial para a produção de qualquer apresentação, pois, é importante que haja uma valorização cultural a partir dos integrantes. Um dos projetos para destacar esse valor é o “Ceará, minha terra, meu viver”, com formações teóricas, oficinas de dança e visitas às comunidades tradicionais, oferecidas aos membros.

Fonte: Elaborada pela equipe

Os grupos de projeções tem o compromisso de ser guardião de muita coisa, algumas destas expressões apresentadas são exclusivas do GTFRN, como a dança do camaleão e o cavalo piancó. Outros coletivos não fazem porque ou a cultura já desapareceu ou caíram no esquecimento. Através dessas apresentações e estudos, a associação contribui para manter o patrimônio-cultural vivo! Como no caso do cacuriá, movimentação típica maranhense, um membro do Cacuriá da Dona Teté ensaiou o GTFRN durante uma semana, para que os integrantes tivessem domínio para representar o legado, tendo noções do corpo e de como as coisas funcionam lá, cumprindo papel fidedigno nas indumentárias e passos.

Em janeiro de 2019 iniciaram-se estudos e ensaios da dança Marujada da Granja, típica de cidade da Granja, ameaçada de esquecimento no imaginário popular. Há visitas e pesquisas para estudar a tradição e realizar a montagem da apresentação, o embasamento teórico antecede qualquer planejamento. Os resultados práticos podemos ver nos registros abaixo, mas são experiências que se expandem através do amor que todos desenvolvem pela dança, na vontade de representar essa cultura de forma voluntária e na união dos participantes.

Danças:

| Cana verde

Pesquisado pelo GTFRN em 2000, no Iguape, através de entrevista com o Mestre Edvar, filho do mestre Paulinho (In memoria), é uma dança de origem portuguesa, que se pratica na época do carnaval, e chegou no Ceará pelo Aracati e veio se expandindo até chegar ao Mucuripe, onde quem organizava era a D. Jefa (In memoria), e o grupo está inativo porque a sua filha não conseguiu continuá-lo. Em Portugal chamava-se Fandango, mas aqui ganhou características próprias. Há poucos estados que ainda o fazem, como o Rio Grande do Sul, mas eles apresentam com a indumentária Gaúcha, e aqui no Ceará o GTFRN o grupo entra no palco com uma camisa amarela, e uma calça estilo medieval, chamada de braga, na cor verde.

| Coco

O coco surgiu em Alagoas e se espalhou em todos estados nordestinos. Há vários estilos, mas o que o grupo costuma apresentar são apenas dois: Coco de Praia e Coco do sertão. Ela se caracteriza pelo som do sapateado, acompanhada dos arranjos musicais. Um dançado apenas pelo sexo masculino, e o outro em pares, respectivamente. O coco do sertão é encontrado muito nos municípios da região Sul: Crato; Barbalha, Juazeiro e Assaré.

| Xaxado

Diz-se que é uma dança pernambucana porque lampião foi um dos maiores divulgadores, e a maior parte dos estudos vem de Pernambuco. É considerada nordestina porque existiram cangaceiros em 8, dos 9 estados nordestinos, apenas Maranhão não teve passagem do cangaço, e onde ele passou houve xaxado. O nome se explica através de duas versões, uma de Câmara Cascudo, que fala que “xaxado” é a onomatopeia das sandálias de couro com o solo arenoso da caatinga. Já o Onildomar, membro de um grupo de Pernambuco chamado Cabras de Lampião, defende que se originou a partir de um movimento que os agricultores fazem quando estão cultivando o feijão, o “xaxar” o feijão.

Quer sentir um pouco essa paixão? Escute a playlist com os ritmos que inspiram o GTFRN.

Apresentação da dança Rendeira — Fonte: https://cioffbrasil.org/grupo-raizes-nordestinas-ce/

Colhendo Frutos — Festival Folgança

22 de agosto é comemorado o dia do Folclore no Brasil. A data surgiu em 1965 com a necessidade de mostrar a importância de valorizarmos nossos conhecimentos, costumes, danças, mitos, festas e tudo mais que se relaciona a nossa cultura e região. Porém, até 2006, por mais que já houvessem grupos folclóricos na cidade de Fortaleza, não havia nenhuma comemoração para a data. Foi de um desejo interno do GTF Raízes Nordestinas, de celebrar o folclore, que surgiu o Folgança.

O Folgança é um festival nascido de um anseio singelo, mas que logo cativou os grupos de tradições da região. Em 2006, quando contatados, todos os outros grupos apoiaram o evento. Isso contribuiu não só para que o dia 22 fosse comemorado, mas também para que aqueles que trabalham o nosso folclore se unissem em prol de uma grande festa. Já passadas mais de 10 edições, o Folgança envolve quem participa e encanta a todos que por ele passam, com todos os momentos que oportuniza as pessoas vivenciarem.

O evento é regado de apresentações belíssimas, que mostram muito da história da nossa região. Conta também com palestras informativas, cursos e oficinas de danças populares, permitindo que, quem participa, possa conhecer mais sobre a cultura e experienciar todo o múltiplo de sensações que trazem nossas raízes. Dessa forma, é estimulado o empoderamento da pessoa nordestina, a valorização da cultura e das tradições, fortalecendo a nossa identidade como povo.

Em 2016, o evento teve um grande salto quando foi estabelecida uma parceria com a Universidade Estadual do Ceará, permitindo, desse modo, que o universo cultural vivenciado pelos grupos perpassasse também por projetos da academia. Além disso, são pensadas, para a programação do festival, atividades que permitem o envolvimento de pessoas de todas as idades, desde rodas de conversa, que geram diversos debates, a momentos para contação de histórias, que encantam as crianças.

O festival foi idealizado pelo Raízes, mas não prosseguiu limitado ao grupo. Hoje, o Folgança é um evento que tem importância para toda a cidade de Fortaleza. Certamente, um marco na luta pela terra, pelo sertão, pelas tradições cearenses. Um símbolo da união, lugar onde grupos trocam ricas experiências, as pessoas interagem, cantam, se reconhecem e vivenciam um verdadeiro resgate de sua ancestralidade.

Fonte: Elaborada pela equipe
Apresentação em Tamaulipas- México — Dança: Cana Verde — Fonte: https://cioffbrasil.org/grupo-raizes-nordestinas-ce/

Entre em contato com o grupo

O GTF Raízes Nordestinas é aberto para novos integrantes. A idade mínima para participar é 14 anos. Às terças e quintas-feiras o grupo se reúne para ensaios na Escola Julia Giffoni ( Rua Coronel Matos Dourado, 1349 — Pici, Fortaleza — CE) e aos sábados no Centro Social Governador Cesar Cals ( Rua Coronel Matos Dourado, 1499 — Padre Andrade, Fortaleza — CE). Você também pode descobrir mais sobre o grupo nas plataformas abaixo:

https://www.facebook.com/gruporaizesnordestina/
https://www.instagram.com/gtfraizesnordestinas/?hl=pt-br
https://www.youtube.com/user/GTFRaizesNordestinas
http://gtfraizesnordestinasce.blogspot.com/
gruporaizesnordestinas@gmail.com
(85) 9 8776 3640 — Francisco | (85) 9 8776 3642 — Poliana

Sobre a produção deste trabalho

Equipe

Neste semestre vivenciamos o novo. Acreditamos que, coletivamente, saímos da nossa “zona de conforto”. Somos um grupo formado por estudantes de Publicidade e Propaganda e de Sistemas e Mídias Digitais (SMD). Além de já nos aventurarmos, juntos, durante as atividades da disciplina de SMD, chamada Redação para Mídias Digitais, nos aventuramos e crescemos também com as aulas, entrevistas e visitas fora da sala de aula. É inegável nosso crescimento profissional, social e cultural durante esses últimos meses e principalmente durante o período de produção deste trabalho.

Fonte: Elaborada pela equipe

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Perfil da turma da disciplina de Redação para Mídias Digitais 2019.1 do curso de Sistemas e Mídias Digitais da UFC.