Largados na Mente Livre do Aloha Crew

Victor Santos
Pilaco Vaps
Published in
4 min readApr 7, 2017

Entrevistamos o grupo de rap da zona norte de São Paulo, com dois rappers e um DJ, o Aloha acaba de lançar disco duplo com 20 faixas e 8 participações

DJ Viriato (esquerda), Dasguero MC (centro) e Fat Léo (direita) — Foto: Julio Carneiro (uzigang)

Leonardo Caamaño é Fat Léo, Renan Viriato é Dj Viriato, ambos com 22 anos e Eduardo Magrone é Dasguero MC, 24 anos. Os três formam o Aloha Crew, grupo de rap da zona norte de São Paulo que acaba de lançar um CD duplo com um total de 20 canções.

Durante a quase uma hora de conversa, falaram muito dos camaradas, integram um grupo entrosado de tempos. Entre eles, o grande Caire que recebeu a entrevista em sua casa no Jardim Primavera, zona norte de sampa, numa noite quente de quinta-feira.

Viriato foi o primeiro a se jogar no hip hop. Inicialmente em festas na zona leste, com uma controladora básica, depois se aproximou da rapaziada da norte e conheceu Dasguero, ou Du como é chamado pelos camaradas. O encontro se deu na Praça do AB, no bairro Jardim Primavera.

“Tudo começou na brincadeira, pessoal começou rimando na praça”, conta Viriato. A cena caminhava mais na zueira, freestyle de rap e de funk. Na rua, tirando uma onda, mais pelo rolê que pelo hip hop.

Veja o vídeo da entrevista abaixo:

Os membros do Aloha e muitos outros camaradas têm uma tatuagem com o escrito “Young, Wild and Free” (traduzido: Jovens, Selvagens e Livres), referência à música de enorme sucesso da dupla Wiz Khalifa e Snoop Dogg, que aborda diversos aspectos da juventude, como o meter o foda-se para os outros e não ter medo de fumar maconha e tomar goró.

Rolês na quebrada e no centro da cidade foram cruciais para a construção do Aloha Crew — Foto: Julio Carneiro (uzigang)

Foi a partir dos amigos, dando rolê, bebendo e fumando que se deu a vivência da rapaziada. Entre rolês na zona norte e idas ao centro de São Paulo, em lugares como Matilha Cultural, Sintonia, Batalha do Safra, Hole Club, que se deu a real influência para a formulação do grupo. “Isso nos influenciou a querer estar lá também”, analisa Viriato.

Viriato e Dasguera já estavam unidos, Léo foi o último a entrar no grupo, isso em 2013. Quando se tocaram que o rap era um caminho, começaram a se movimentar no sentido de deixar a bagunça acontecer em paralelo ao trampo.

Léo conheceu o rap ainda moleque, na época que começou a conviver com seu padrasto, jogador basquete e fã de hip hop, já ouvia “Jesus Chorou” quando ainda nem tinha barba. Dasguera cita Doctor Mc’s, Thaíde, Consciência Humana, como influências, o DJ já traz outras referências que vão desde a MPB até rock anos 1970, sem esquecer o hip hop.

Ouça abaixo o primeiro disco do Aloha:

Até hoje, já se apresentaram nas quebradas da zona norte e subiram aos palcos da Hole Club, Centro Cultural Rio Verde, CCSP, CCJ. Já abriram shows de diferentes nomes do gênero como Síntese e Costa Gold. Questionados sobre as diferentes caminhadas dos dois grupos, e o que representam no rap, afirmam que a pluralidade do gênero só traz ganhos para todos.

Segundo Dasguera: “as tretas desfragmentam o bagulho”.

Um episódio chave foi a primeira oportunidade que tiveram de gravar, em que encontraram o rapper Bitrinho, hoje membro do Afrika Kidz Crew e Damassaclan. Bitro viu a molecada indo gravar sem as rimas estruturadas e deu uma ideia profissional para os dois MC’s e o DJ.

Outro espaço de crescimento foi no coletivo “Turma do Bagulho”. Uma união de grupos e rappers da região, como PPS Crew, Coligação SP, Muka, o próprio Aloha, entre outros. A rapaziada promovia o encontro entre diferentes gerações, o coletivo não existe mais, mas a articulação não só permaneceu como rendeu um Cypher recentemente e outros trampos em coletividade devem sair em breve.

Abaixo, a Cypher “Lucros e Devaneios”, com Fat Léo do Aloha Crew:

Inicialmente gravavam em estúdio na lapa, mas, para poupar dinheiro e tempo, montaram um estúdio no porão da casa de Dasguero, onde reside a Porão Norte Records.

Ainda no começo da banda, gravaram o EP “Um Ano de Aloha”, com oito faixas. Na sequência, começaram a trabalhar no CD “Largados Numa Mente Livre (LNML)”. O trabalho foi intenso, todos os dias das 10h às 17h, com tempo dividido para ouvir música, produzir, cantar, gravar, entre outras tarefas necessárias.

O álbum tem 20 faixas, com oito participações especiais e seu nome segue a mesma inspiração da tatuagem, o hit de Wiz Khalifa e Snoop Dogg. Próximos passos? Trabalhar o álbum na rua e lançar trampos audiovisuais do Aloha Crew.

Ouça o álbum “LNML” completo:

Clique aqui e veja também a entrevista com o rapper Sau

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