Sau fala da evolução do rap, da sociedade e a correria do MC hoje

Victor Santos
Pilaco Vaps
Published in
3 min readMar 10, 2017

Sauenga Santiago, vulgo Sau, é morador do Imirim, zona norte de São Paulo. Rima desde 1996, começou sua caminhada como BBoy em São Carlos, interior paulista. Nos encontramos numa tarde quente de sábado, no próprio Imirim.

Fala da potencialidade da dança que teve um forte papel no posicionamento do hip hop como arte e também na sua evolução na cidade interiorana.

“Comecei dançando break com amigos, tinha uma gangue chamada City Bronx, outra chamada Break Rockers. Tinha um amigo do break, o Paulo, que já era mais avançado e começou a fazer umas rimas. Nisso, disse que eu tinha uma voz dahora”, conta.

Faixa “Assim que vem parte 2”, que dá nome ao álbum de Sau:

O hip hop tinha espaço numa oficina cultural em São Carlos, o que Sau entende como algo fora da curva já que acontecia em meados de 1990 e num contexto de interior.

O camarada Paulo escreveu a primeira rima de Sau, que começou a pensar no texto e na próxima oportunidade já estava escrevendo. Isso tudo no extinto grupo N2F (Nervosidade na Fala).

Foi um dos primeiros a rimar na cidade e se sente muito gratificado por ver artistas de São Carlos na cena hoje, rappers como Sara Donato e J Gueto. “Nada como jogar uma semente, regar e ver uma árvore lá dando frutos depois”, explica.

Foto: Julio Carneiro (uzigang)

Nessa época, foi convidado por seu pai, William Santiago da Zimbabwe Produções, um dos pioneiros a trabalhar com a black music no Brasil, a se mudar para São Paulo e trabalhar com os Racionais Mc’s no ano de 2002. “Só que eu parei com as rimas, fiquei uns seis anos parado, fiquei só como ouvinte”, pondera.

Nessa época, se aproximou de seu irmão mais novo, o rapper Bitrinho, e na casa dele, gravou um rap, os dois ficaram satisfeitos com o resultado, mesmo sem lançar nada. “Naquela época, a internet ainda não estava bombando, era mais difícil. Mas o gosto de fazer a música já retornou”, comenta.

Bitro já era integrante da Afrika Kidz Crew e somava na batalha da Santa Cruz, batalhava por São Paulo enquanto Sau vivia um momento de ouvinte de rap.

Foto: Julio Carneiro (uzigang)

Ao lado de Felipe Twix e Saimen, Bitro integrava o grupo Cafofo Records e Sau somou no bonde. “Foi um puta desenvolvimento musical. Minha cena de rap era mais fechado, tinha um compromisso com as letras no sentido de fazer uma música de protesto. No Cafofo Records era mais tranquilo, podia falar sobre amor, rolê, coisas que eu nunca tinha feito antes e foi muito bom porque nada como escrever uma coisa boa”, explica.

Vê que o rap se transformou em vários sentidos, “Antigamente se cantava num tempo de batida muito mais lento. Hoje o pessoal rima em cima de um trap, que representa hoje o que o house representou nos anos 90”, explica.

Ainda avalia o movimento como natural, o processo que aconteceu com o rap se deu em outras dimensões da sociedade também.

Foto: Julio Carneiro (uzigang)

“Grupos consolidados do rap não conseguiram fazer essa transição e pararam. A carreira deles ficou estagnada, vieram vários moleques da evolução. Hoje em dia é difícil mas nascemos na guerra tá ligado, tem que lutar todo dia pra ficar vivo”, finaliza.

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