Viva Luiz Melodia!
Em homenagem ao cantor e compositor falecido hoje, dia 4 de agosto, a Pilaco Vaps traz um pouco da sua história e de sua obra, além de uma seleção de 10 músicas de Luiz Melodia interpretadas por outras e outros músicos
Luiz Carlos dos Santos herdou o sobrenome artístico e o dom da composição de seu pai, o sambista e boêmio do Estácio: Osvaldo Melodia.
Cresceu entre o Morro de São Cláudio e o Largo do Estácio, zona central do Rio de Janeiro. Largou cedo o colégio, era moleque de jogar bola e cantar música, mesmo que seu pai Osvaldo quisesse um filho doutor. Ao mesmo tempo, ouvia não só os clássicos sambas do Estácio e o tradicional choro, como também muito rock, como The Beatles, e soul com o The Foundations.
Já tinha trabalhado em bares cariocas, tocou em bandas de rock na pegada da jovem guarda, a moda da elite na época, além de uma série de concursos de auditório. Aos 18 anos, foi para o exército e, na volta, trazia canções que viriam a se tornar clássicos como “My Black” e “Farrapo Humano”, mas nada parecia acontecer.
Em 1970, o Brasil foi tri-campeão da copa do mundo de futebol, o presidente era militar, o mais duro deles, chamado Emílio Garrastazu Médici (1905–1985). A gestão foi de 1969 até 1974, uma época de muito assassinato, sequestro e exílio por parte do governo brasileiro.
Em 1971, com Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio, havia um vácuo no cenário musical.
Ouça “Pérola Negra” em performance de Luiz Melodia com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais:
Na época, uma tentativa de preencher o vazio cultural juntou grandes nomes de diferentes manifestações artísticas: a cantora Gal Costa, o artista plástico Hélio Oiticica (1937–1980), o músico Jards Macalé, o poeta e jornalista Torquato Neto (1944–1972), além do poeta Waly Salomão (1943— 2003).
Numa pegada meio bata e cabeleira, o grupo carregava uma forte influência dos hippies dos EUA, que viviam um momento de bastante visibilidade no mundo inteiro.
Waly poeta baiano frequentador do morro de São Cláudio, encontrou o jovem Melodia, sua poética própria e acordes que causavam estranhamento aos músicos mais tradicionais. Waly sugeriu a mudança do nome de “My Black” para “Pérola Negra” em homenagem a um(a) homossexual famosa(o) do Estácio. Gal gostou da ideia.
Nessa, Luiz Melodia decolou. A galera da cabeleira hippie preparava as apresentações de “Gal a Todo Vapor” e foi quando o tal do Luiz apareceu para a cena da MPB.
Na sequência foi gravado por Gal, Maria Bethânia, Jards Macalé, depois Gal de novo e muitos outros artistas. Em 1973, lançou o disco “Pérola Negra” (link abaixo), mesmo ano de “Secos e Molhados”, de “Krig-Ha Bandolo!” de Raul Seixas e “Eu Quero é Botar Meu Bloco Na Rua” de Sérgio Sampaio.
Ouça o álbum “Pérola Negra” de Luiz Melodia:
Até hoje é referência para grandes nomes da música brasileira, como Carlinhos Brown, Seu Jorge e até Rappin Hood no rap “Sou Negrão”.
Luiz morreu na manhã de hoje, dia 4 de agosto, no Rio de Janeiro, mas a poesia… ela é eterna.
Confira abaixo uma lista de composições de Luiz Melodia, cantadas por outras e outros artistas.
1. Gal Costa — “Pérola Negra”
2. Maria Bethânia — “Estácio, Holly Estácio”
3. Jards Macalé — “Farrapo Humano”
4. Barão Vermelho — “Vale Quanto Pesa”
5. Elza Soares — “Fadas”
6. Emílio Santiago — “Dores de Amores”
7. Raça Negra — “Salve Linda Canção Sem Esperança”
8. Zezé Motta — “Onde o Sol Bate e se Firma”
9. Lazzo Matumbi — “Surra de Chicote”
10. Natiruts — “Pérola Negra”
Mais uma da Gal:
11. Gal Costa — “Presente Cotidiano”