Atrapalhos
Lucas é uma criança especial, e isso não vem de um diagnóstico médico. Hoje, na escola, ele veio até mim e, já com as frases prontas, segurou meu pingente de coração:
— Ela não pode falar comigo, disse que não pode, está ocupada. Eu atrapalho?
— Ah, Lucas, acho que todo mundo atrapalha um pouco. Se ela está ocupada, espera. Logo ela termina o que está fazendo e você tenta conversar de novo.
— Mas quem atrapalha? Criança ou adulto?
— Os dois… eu acho.
E ele bateu em retirada rumo às escadas. Mas não demorou para cruzarmos novamente.
— Eu atrapalho? Estou bravo, ela está ocupada, disse que tinha que fazer uma entrevista. Homem grande atrapalha? Nunca vi homem grande atrapalhar.
Parafraseei o que ele disse enquanto lembrava das vezes em que vi homens grandes atrapalhando.
— Atrapalham sim.
Silêncio.
— Por que eu não posso ir para o mundo? Conhecer lá fora?
Mal sabia ele que agora, sem pingente, ele segurava meu coração. E antes que pudesse me recompor, já havia sumido — gozada essa mania de terminar as conversas em suspensão.
Taí, não sei Lucas. Mas parte dos meus caminhos será trilhada nessa busca. Por mim e por você.
(Será que o mundo está mesmo sempre lá fora?)