“Artista do Desastre” soa como entretenimento para classe artística e se distancia do público

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
3 min readJan 17, 2018

O documentário “Jim & Andy” mostrou, recentemente, o processo de composição de Jim Carrey para interpretar o comédia Andy Kaufman no filme “O Mundo de Andy”, de 1999. Mostrando, pela primeira vez, os bastidores do longa, as imagens mostram o perseguição quase que obsessiva de Carrey para retratar o controverso comediante nas telonas, o que envolvia, inclusive, passar a agir da mesma forma que Kaufman. Essa dedicação, de certa forma, pode ser vista em “Artista do Desastre”, filme que deu o Globo de Ouro de melhor ator de comédia para James Franco.

Demonstrando o mesmo fascínio de Carrey por Kaufman, Franco se propõe a contar a empreitada do diretor Tom Wiseau em escrever, dirigir e estrelar “The Room”, considerado por muitos como o pior filme já feito. Para isso, o vencedor do Globo de Ouro assume as mesmas funções da figura retratada para reconstruir o ambiente das filmagens e a relação de Wiseau com o amigo Greg (Dave Franco).

Depois de um encontro em uma aula de atuação, Greg e Wiseau se aproximam e compartilham os desejos de conseguir um lugar ao sol. Os dois decidem, então, morar em Los Angeles para estarem mais próximos da indústria do entretenimento, que, logo de cara, se mostra difícil e hostil em relação a eles. Diante de reações negativas e indiferentes, Wiseau começa a escrever um roteiro e banca sozinho a produção de “The Room”, longa confuso que não inspira confiança nos envolvidos com o projeto.

Além de mostrar a forma como Wiseau se relaciona com o amigo, “Artista do Desastre” também retrata as limitações e excentricidades do diretor, que deixa toda a equipe à mercê de seu temperamento até a estreia do longa, que, mesmo com tantos problemas, acabou ganhando o status de cult e fez a dupla ser conhecida entre cinéfilos.

Apesar de lembrar, ainda que de longe, “O Mundo de Andy”, “Artista do Desastre” falha em um aspecto essencial: criar empatia e se comunicar com o público. O roteiro parece interessado em construir uma “piada interna”, um assunto para ser discutido apenas entre os pares da classe artística. Isso se dá pelo fato de a história não desenvolver a humanidade do personagem e da relação entre Wiseau e o amigo. O filme, inclusive, não consegue conectar o público ao sonho dos personagens em seguir a carreira artística.

Distante de quem assiste, o longa acaba encontrando eco apenas entre artistas e interessados por esse universo, desperdiçando, assim, um enredo curioso e divertido. A comédia do roteiro, aliás, funciona bem e cria momentos nonsense, que arrancam risadas. Nos momentos em que precisa ir para um lado mais dramático, o roteiro perde o eixo e ganha um tom mais piegas, que deixa de aproveitar, especialmente, os conflitos relacionados às inseguranças da relação de amizade entre Greg e Wiseau.

Como ator, Franco se sai bem e mostra dedicação ao retratar Tom Wiseau. Em uma construção quase obsessiva para retratar a realidade, o ator chega muito próximo aos trejeitos e ao modo de falar do personagem real. Para quem não tem nenhuma referência para comparar, isso fica claro nos créditos finais, em que cenas de “The Room” são colocadas ao lado das recriações de Franco.

Mesmo não sendo um filme ruim, “Artista do Desastre” acaba não se firmando como um filme marcante pela barreira construída pelo roteiro, que não permite uma comunicação mais eficaz com o público e imprime o tom de “obra para os colegas”. Se houvesse uma construção melhor da empatia dos personagens, para que os conflitos encontrassem um caminho direto em direção a quem assiste, o longa seria mais interessante.

ARTISTA DO DESASTRE

DATA DE LANÇAMENTO: 25 de janeiro

COTAÇÃO: ★★ (regular)

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