“Deadpool 2” fica preso à própria fórmula e perde chance de expandir abordagem do personagem

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
3 min readAug 19, 2018

Por mais que o humor esteja cada vez mais ligado ao universo dos super-heróis no cinema, em 2016, o politicamente incorreto Deadpool chegou às telonas propondo um personagem com uma abordagem mais anárquica e menos maniqueísta do gênero. A comédia mais ácida e cheia de referências da cultura pop foi o grande diferencial do filme de estreia e, como não podia deixar de ser, se repetiu na sequência, que chegou aos cinemas dois anos depois do original. “Deadpool 2”, no entanto, caiu na armadilha da repetição e perdeu a oportunidade de agregar algo novo ao personagem.

Sanguinário e impróprio para menores como sempre, Deadpool (Ryan Reynolds) começa a sequência mostrando a repercussão e a demanda de trabalho depois de ficar conhecido. O herói torto da Marvel, com ares de justiceiro irresponsável, não hesita em combater gangues e criminosos de qualquer natureza, deixando claro que os clichês atribuídos ao heroísmo clássico passam longe das decisões do protagonista.

Wade Wilson, a figura por trás da máscara de Deadpool, vive um momento delicado e depressivo na sequência da franquia. A morte de Vanessa (Morena Baccarin), durante o ataque de uma gangue, faz o protagonista perder o propósito de viver e buscar, inclusive, formas de acabar com a própria existência, especialmente pela frustração de ser privado de formar uma família com a amada.

A trajetória do protagonista ganha fôlego quando Deadpool conhece Russel (Julian Dennison), um jovem mutante que está sendo perseguido por Cable (Josh Brolin), que viajou no tempo para caçar o garoto. O plano de proteção envolve, também, a volta de antigos conhecidos, como Colossus (voz de Stefan Kapicic), e o recrutamento de um novo grupo, conhecido como X-Force, formado, entre outros, pela sortuda Domino (Zazie Beetz).

“Deadpool 2” se mantém fiel ao primeiro longa da franquia, resgatando o humor politicamente incorreto e verborrágico do personagem, que, de certa forma, sustentou a estreia do personagem nos cinemas. No segundo filme, no entanto, fica evidente que a história ficou presa à própria fórmula e não soube evoluir a abordagem do protagonista. As características de comédia do filme original, que podiam ser consideradas um trunfo na ocasião, agora, são apenas uma repetição de estilo, que não surpreende mais e, até mesmo, enfraquece as referências que saem da boca de Deadpool.

A redação das tiradas do protagonista ainda rende algumas risadas, mas não há mais a mesma força da novidade do primeiro longa, que, inclusive, servia para maquiar as falhas do roteiro. Por conta disso, na sequência, as escolhas óbvias da história, que cria uma trajetória ancorada em clichês para o personagem, que embarca em uma jornada de redescoberta de propósito e, a seu modo peculiar, de superação de dificuldades.

Além da repetição e dos clichês, faz falta ao roteiro de “Deadpool 2” uma evolução da narrativa e dos caminhos do personagem, algo geralmente esperado nas sequências. Não há novos elementos ou conflitos para fazer a trama andar e as adições ao elenco não mexem em nada, digamos, com o status da franquia, que fica estacionada na confortável posição deixada pelo longa de estreia.

Mais uma vez, Ryan Reynolds mostra afinação com a proposta para o personagem, já que, inclusive, se dedicou pessoalmente para levar o herói incorreto para as telas. É inegável que ele entende o protagonista e se encaixa bem ao ritmo verborrágico de comédia, mas, ao mesmo tempo, também não contribui com o enriquecimento de Deadpool. O resto do elenco fica na média e, mesmo não comprometendo, também não acrescenta grandes qualidades.

“Deadpool 2” não pode ser considerado um filme ruim, pois é inegável que a fórmula funciona. O “gesso” que prende a sequências às propostas do primeiro, no entanto, enfraquecem o roteiro e a comédia ácida. Estacionado no ponto deixado pelo original e sem a novidade da abordagem inicial, o longa perde a chance de caminhar para uma evolução da história e, especialmente, do personagem central. Melhor planejamento e novas ideias para manter o interesse na personalidade de Deadpool não farão mal em um possível terceiro filme.

DEADPOOL 2

COTAÇÃO: ★★ (regular)

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