“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” vai da pobreza criativa ao entretenimento glorioso

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
3 min readMay 2, 2022
Divulgação/Marvel Studios

A Marvel já não precisa mais provar para ninguém que sabe criar produtos audiovisuais que contemplem as expectativas dos fãs devotados de quadrinhos e, ao mesmo tempo, agradem a plateia em geral, que não necessariamente acompanha esse universo fora das telas. “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” é um êxito justamente por ser um projeto que não foge dessa regra em nenhum momento. É um filme cheio de fan service e um ótimo entretenimento para aqueles que querem apenas divertimento, sem conjecturas ou discussões sobre referências.

A trama do filme se desenvolve imediatamente após os acontecimentos de “Homem-Aranha: Longe de Casa”, quando Mysterio (Jake Gyllenhaal) revela a todos a verdadeira identidade do herói. Acusado pela opinião pública e investigado pela morte do vilão, Peter Parker (Tom Holland) tem a vida vira do avesso. A revelação também passa a prejudicar aqueles que estão à volta dele, como May (Marisa Tomei) e MJ (Zendaya).

Preocupado com a tia e os amigos, Peter procura o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para pedir uma solução mágica que faça com que todos esqueçam que ele é o Homem-Aranha. Só que algo não sai como o esperado e o feitiço acaba trazendo para aquela realidade personagens de outros universos que estavam perseguindo diferentes Peter Parkers.

Mesmo proporcionando o maior fan service do longa, o recurso da chegada de personagens de outros universos, como o Duende Verde (Willem Dafoe) e Doutor Octopus (Alfred Molina), também é o principal defeito do roteiro. Convenhamos, a motivação que faz o Homem-Aranha procurar o Doutor Estranho é de uma pobreza criativa absurda. Esse primeiro ato, que apresenta a trama e a encaminha para o desenvolvimento, além de parecer a escolha mais fácil, também apela para explicações rasas e preguiçosas para justificar o conflito do filme.

É interessante observar, no entanto, que esse comodismo criativo, que poderia comprometer o interesse pelo longa, não resulta como um problema e isso acontece por um único motivo: funciona. A presença daqueles personagens e a forma como o roteiro constrói a dinâmica entre eles fazem com que esqueçamos logo as explicações de como eles foram parar naquela situação. A empolgação com o entretenimento proporcionado fala mais alto do que a razão.

Divulgação/Marvel Studios

Depois desse início, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” só cresce e melhora. Além da ação e do humor característicos das produções da Marvel, o filme também explora o drama ao dar destaque para o dilema de Parker, que, em determinado momento, sofre uma perda e precisa fazer uma escolha clássica dos heróis: promover o bem para o coletivo ou preservar algo que tem valor para ele?

Tom Holland prova, mais uma vez, que é o melhor Homem-Aranha. O ator, obviamente, foi beneficiado pelo fato de ter acesso a um personagem mais bem construído no papel do que os antecessores, Tobey Maguire e Andrew Garfield, mas não é só isso. Holland e Jon Watts, que dirigiu os três filmes dessa fase de parceria Marvel/Sony, encontraram a composição mais harmônica do herói, que se divide entre a ingenuidade e a responsabilidade.

Em relação ao elenco, também merecem destaque: Zendaya, Marisa Tomei e Jacob Batalon, além, é claro, das ótimas participações de Benedict Cumberbatch, Willem Dafoe e Alfred Molina. J.K. Simmons aparece em poucos momentos e faz um bom trabalho concentrando em J. Jonah Jameson as principais características de figuras insuportáveis que, infelizmente, tem ganhado cada vez mais espaço na comunicação.

“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” vai de zero a cem em quase duas horas e meia. O filme se desenrola a partir de uma ideia criativamente pobre e termina como um entretenimento glorioso, que faz esquecer o início preguiçoso com um crescimento sólido da história e, especialmente, uma louvável habilidade de produzir diversão.

HOMEM-ARANHA: SEM VOLTA PARA CASA

ONDE: plataformas digitais de aluguel

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)

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