“O Homem do Norte” usa elementos clássicos para criar potente épico viking

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
3 min readMay 25, 2022
Divulgação/Universal Pictures

Traições, poder, fúria, profecias, conflitos familiares, morte, assombração, vingança. O dramaturgo inglês William Shakespeare usou esses elementos para criar alguns dos textos mais conhecidos da história da dramaturgia, como “Macbeth” e “Hamlet”. As tragédias do autor acabaram inspirando um sem-número de outras histórias e não só no teatro. “O Homem do Norte”, do diretor Robert Eggers, combina todos esses ingredientes clássicos, mas consegue parecer diferente por conta da ambientação e da visão cinematográfica do cineasta.

No início do século 10, depois de uma longa missão, o rei Aurvandil (Ethan Hawke) volta para junto da esposa Gudrún (Nicole Kidman) e do filho Amleth (Oscar Novak), que começa a ser preparado para suceder o pai. Só que o líder é assassinado pelo irmão Fjölnir (Claes Bang), que assume o trono e promove uma caçada em busca do garoto, que consegue fugir.

Antes de deixar a terra onde cresceu para trás, Amleth jura vingar o pai, libertar a mãe e matar o tio. Anos depois, já vivendo com um grupo de vikings que saqueia aldeias, o príncipe (Alexander Skarsgard) tem uma revelação e decide procurar o tio para colocar a vingança em prática. Disfarçado de escravo, ele é enviado para as terras de Fjölnir, na Islândia, e conhece Olga (Anya Taylor-Joy), a mulher pela qual se apaixona e que o ajuda no plano.

“O Homem do Norte” é baseado em uma lenda viking que, não por acaso, lembra muito “Hamlet”, afinal, é apontada como a história que serviu de inspiração para o clássico escrito por Shakespeare, dramaturgo que acabou cristalizando esses elementos no nosso imaginário, mesmo entre aqueles que não conhecem diretamente a obra dele. A partir dessas referências, Eggers criou um épico potente e violento.

Divulgação/Universal Pictures

Estruturado de forma clássica, o roteiro do filme ganha muita força com o domínio cinematográfico do diretor. Elogiado pelos trabalhos anteriores, “A Bruxa” e “O Farol”, produções menores, Eggers tem, pela primeira vez, um grande estúdio custeando tudo, mas consegue fazer prevalecer uma personalidade criativa. Mesmo amparado pelos recursos financeiros da Universal Pictures, que incrementaram o zelo do cineasta pela reconstituição de época, ele consegue passar uma atmosfera de produto artesanal, pequeno.

Trabalhando em conjunto com o diretor de fotografia, Jarin Blaschke, a câmera de Eggers potencializa o sangue e o ódio que marcam a história. O trabalho do cineasta consegue imprimir vigor, brutalidade e crueza para uma narrativa que, mesmo já bastante explorada, ganha frescor e muita qualidade técnica.

A escalação do elenco só reforça as demais qualidades do filme. Alexander Skarsgard, por exemplo, consegue fazer o espectador esquecer o rosto dele e só visualizar um príncipe em busca de vingança, algo que nem todo ator é capaz de fazer. Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke e Claes Bang também estão ótimos, assim como Willem Dafoe e Björk, em participações especiais.

Em cartaz nos cinemas “O Homem do Norte” remodela uma trama clássica e a transforma em um épico viking vigoroso, marcado por violência e ódio. E é assim, com talento, técnica e novos olhares, que as histórias vão se reinventando e renovando o interesse das pessoas por boas narrativas.

O HOMEM DO NORTE

ONDE: nos cinemas

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)

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