Personagens sustentam interesse por narrativa arrastada de “Licorice Pizza”

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
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3 min readMar 8, 2022
Divulgação

O diretor e roteirista norte-americano Paul Thomas Anderson tem uma filmografia bastante variada e que demonstra não apenas versatilidade, mas também um olhar apurado e uma inventividade incontestáveis. Entre as características que mais se destacam nos trabalhos dele, estão o domínio da câmera e a criação de personagens fascinantes. Essas qualidades saltam aos olhos em “Licorice Pizza”, filme mais recente do cineasta, que só não proporciona uma experiência melhor por conta do ritmo da narrativa.

A história do longa é ambientada na década de 70, na região de San Fernando Valley, em Los Angeles. Gary Valentine (Cooper Hoffman) é um garoto de 15 anos que faz pontas e pequenos papéis em filmes e comerciais. Na fila para tirar uma foto na escola, ele se apaixona por Alana (Alana Haim), dez anos mais velha do que o estudante, que trabalha na empresa responsável pelas fotografias.

Valentine faz de tudo para convencer Alana a namorá-lo, mas a garota não esconde a resistência de se relacionar com um adolescente. Mesmo assim, eles gostam da companhia um do outro e se tornam parceiros de trabalho. O jovem vive investindo em novidades que possam fazer algum dinheiro e Alana aceita as ideias e ajuda a executá-las.

Dessa convivência, aparece o amor, mas que não é, logo de cara, experimentado. Alana parece perdida sobre o futuro e resiste ao fato de se envolver com um garoto imaturo, que começa a fazer a transição para a vida adulta e ainda fica cercado de outros adolescentes. Já Valentine é movido pela novidade das sensações provocadas pelos hormônios e sentimentos difíceis de descrever.

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“Licorice Pizza” é um filme sustentado por criatividade e nostalgia. Anderson constrói, a partir de memórias afetivas e referências estéticas, sequências e personagens que deixam o espectador fascinado. Dos protagonistas às participações especiais, o cineasta forja esses tipos mesclando o real e o lúdico, dando a eles um “colorido” e valorizando as idiossincrasias de cada um. Essas personalidades surgem em cenas leves e inspiradas pela bagagem rica do diretor.

Ainda que as qualidades do trabalho de Anderson sobressaiam, a forma como a narrativa é construída prejudica a experiência como um todo. A história é arrastada e cai em repetições que poderiam ter sido suprimidas, deixando o roteiro mais enxuto. A insistência em situações que reforçam a hesitação do amor entre Valentine e Alana cria uma sensação de que o filme anda em círculos até se encaminhar para o desfecho. O que empurra o espectador até o fim são os personagens carismáticos, a ponto de não nos importarmos com o que acontece no filme se pudermos seguir vendo mais deles.

Para dar vida ao casal protagonista, o diretor não poderia ter escolhido melhor. Alana Haim e Cooper Hoffman conquistam pelas ótimas performances. Bradley Cooper, Sean Penn, Skyler Gisondo, Maya Rudolph e John Michael Higgins são alguns coadjuvantes que aparecem na história e chamam atenção. É preciso, ainda, fazer menção à excelente trilha sonora do filme, que traz canções de David Bowie, Paul McCartney, The Doors e Nina Simone.

Em cartaz nos cinemas e com três indicações ao Oscar 2022, “Licorice Pizza” reforça algumas das caraterísticas mais marcantes da filmografia de Paul Thomas Anderson, entre elas, a criação de personagens cheios de substância, ricos em emoções e complexidades. A narrativa arrastada, que anda em círculos durante boa parte do desenvolvimento da história, só não prejudica mais o filme graças aos tipos criados pelo cineasta. São eles que fazem essa jornada nostálgica e afetiva valer a pena no fim.

LICORICE PIZZA

ONDE: nos cinemas

COTAÇÃO: ★★★ (bom)

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