Reunião de heróis e vilão bem construído são os grandes acertos de “Guerra Infinita”

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
4 min readApr 30, 2018

As luzes se apagam e, rapidamente, as conversas afoitas cessam e dão lugar à expectativa. Logo na primeira sequência, os primeiros rostos conhecidos aparecem e a plateia segue atenta pelo anunciado grande vilão, que surge em seguida e ocupa os espaços da tela. O filme anda e, a cada nova aparição de herói, o público se empolga, aplaude, reage. Cada êxito do antagonista, cada morte não esperada, cada tentativa de salvar o universo tem impacto nas pessoas sentadas nas poltronas. O desfecho faz alguns lamentarem, outros tencionarem os músculos, alguns reclamarem. Terminou “Vingadores: Guerra Infinita” e, enquanto os espectadores não se mexem, esperando a tradicional cena pós-crédito, é possível olhar para os lados e entender que aquilo é cinema.

Cercado de expectativas, o terceiro filme dos “Vingadores” chega para coroar os dez anos do Universo Cinematográfico da Marvel, iniciado em “Homem de Ferro”, de 2008. A empreitada era um desafio cheio de armadilhas, mas o produto entregue aos fãs dos personagens e de cinema não decepciona, inclusive aprimorando aspectos que deixaram a desejar anteriormente.

Retomando os acontecimentos a partir do gancho deixado em “Thor: Ragnarok”, “Guerra Infinita” foca as atenções no vilão Thanos (Josh Brolin), que coleciona as Joias do Infinito com a intenção de “salvar” o universo. Isso mesmo! A cruzada do antagonista tem um propósito: tendo visto e sentido planetas se dizimarem pelo que classifica como superpopulação, Thanos quer o equilíbrio, mais nada.

Conscientes da ameaça, começam a surgir os primeiros movimentos dos heróis. Na Terra, Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), Homem de Ferro (Robert Downey Jr) e Homem Aranha (Tom Holland) enfrentam os primeiros sinais da chegada de Thanos e tentam proteger a Joia do Tempo.

Enquanto isso, os Guardiões da Galáxia também tomam conhecimento dos avanços do vilão e têm um encontro rápido e definitivo com Thor (Chris Hemsworth), já marcado pelo implacável vilão. Eles também se direcionam para o enfrentamento com Thanos, sendo que Gamora (Zoe Saldana) é parte crucial dessa trama.

A aguardada reunião dos heróis fica completa quando Capitão América (Chris Evans), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Hulk (Mark Ruffalo), Wanda (Elizabeth Olsen) e Pantera Negra (Chadwick Bosemann) se unem para proteger Visão (Paul Bettany), que também carrega um dos artefatos que Thanos deseja.

A reunião de tantos heróis em um mesmo filme era o principal motivo de apreensão causado antes da estreia de “Vingadores: Guerra Infinita”, afinal, como destacar tantos personagens em algumas horas de projeção? Essa preocupação vai se diluindo ao longo do filme e, no final, tudo parece ter sido feito a partir de uma estrutura correta de roteiro.

Divididos em grupos, os personagens têm suas importâncias dosadas e equilibradas com os demais. A construção do roteiro por núcleos, chamemos assim, se mostrou inteligente e mais interessante do que um encontro apressado entre eles. Cada um toma conhecimento da ameaça e reage até o ápice, que efetivamente reúne a maior parte deles.

A direção dos irmãos Anthony e Joe Russo parece fundamental para que isso tenha dado certo. Já com uma certa experiência em reunir muitos personagens, como aconteceu em “Capitão América: Guerra Civil”, os diretores souberam respeitar a “bagagem” trazida pelos heróis de seus filmes solos e, ao mesmo tempo, misturar com coerência essas personalidades entre eles.

A construção de Thanos é outro, senão o principal, acerto do filme. Deixando para trás um histórico de antagonistas superficiais e mal construídos, um pouco redimido por Killmonger (Michael B. Jordan), de “Pantera Negra”, “Guerra Infinita” apresenta ao espectador um grande vilão, estruturado por objetivos bem definidos e contradições.

Thanos é um vilão que acredita estar fazendo o certo, mesmo que para isso tenha que sacrificar vidas inocentes e das pessoas que ama. Sim, esse é um vilão que ama, daí as contradições que o tornam tão rico. Imbuído de sua “missão” de equilibrar o universo, o antagonista não quer dominar tudo para si e colocar seu ego acima dos demais. Ele quer apenas sentar e ver os mundos livres do que considera injustiças. Todo esse arco é bem desenhado pelo roteiro.

Mas, há defeitos em “Vingadores: Guerra Infinita”? Há alguns, começando pela sensação, que surge em alguns momentos, de que a “corrida” de Thanos pelas Joias do Infinito poderia ter ganho mais destaque, mesmo que em poucas cenas, nos filmes que construíram o caminho até aqui. A acelerada conquista dos artefatos que faltam soa frágil em sequências pontuais, mas é inegável que funciona no resultado final.

Apesar de inteligente quando constrói a reunião dos heróis, alguns acontecimentos e ganchos permitem que o público deduza cenas futuras, mesmo que os principais desfechos consigam se manter até o fim. A tradicional característica da Marvel em acrescentar humor aos filmes é exagerada e desnecessária em alguns momentos. Certos alívios cômicos acabam prejudicando o ritmo de algumas sequências, interrompidas pela irresistível oportunidade da piada.

Elencando os principais acertos, e os poucos erros, de “Vingadores: Guerra Infinita”, observando, também, as reações dos espectadores na sala, surge a principal qualidade: a reunião da Marvel é, antes de tudo, cinema de ótima qualidade, que causa comoção, apreensão, torcida, lágrimas, tensão. É entretenimento claro, mas é cinema na essência. Não é profundo como Truffaut ou Fellini, mas é parte importante da estrutura que sustenta a sétima arte.

VINGADORES: GUERRA INFINITA

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)

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