“Thor: Amor e Trovão” é preguiçoso e desleixado até dizer chega

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
3 min readSep 20, 2022
Divulgação/Marvel Studios

Impulsionada pela popularidade e, claro, pelos lucros, a Marvel apostou, lá atrás, não só em uma “fórmula” para os filmes de super-heróis, mas também em uma conexão entre histórias e em um calendário ambicioso de lançamentos para corresponder à avidez dos fãs. Criar esse ritmo industrial dentro de uma engrenagem maior e que funciona com a mesma lógica, que é Hollywood, fatalmente, traria consequências criativas e isso fica cristalino em “Thor: Amor e Trovão”.

Depois de percorrer o universo em missões com os Guardiões da Galáxia, Thor (Chris Hemsworth) descobre que Gorr (Christian Bale) está caçando e exterminando deuses. Essa busca leva o vilão a atacar Nova Asgard e sequestrar crianças para atrair o herói. Para deter o Carniceiro dos Deuses, Thor conta com a ajuda de Valquíria (Tessa Thompson) e Jane Foster (Natalie Portman), que aparece empunhando o antigo martelo do ex-namorado.

Depois de uma tentativa frustrada de conseguir a ajuda de Zeus (Russell Crowe) e outros deuses, Thor e companhia descobrem que Gorr planeja chegar até Eternidade, um lugar oculto no centro do universo, para conseguir aniquilar todos os deuses de uma só vez e, assim, concretizar uma vingança alimentada por uma tragédia do passado.

Nos produtos desenvolvidos para o streaming, a tal da “fórmula” Marvel já havia demonstrado desgaste. No cinema, o ponto crítico dessa estratégia foi atingido com “Thor: Amor e Trovão”, filme que parece reunir as piores consequências dessa saturação, a começar pela trama preguiçosa. O roteiro estabelece um fiapo de história e, preso a ele, o que vemos ao longo de duas horas são acontecimentos e soluções óbvias que se sucedem e despertam o mínimo de interesse.

Divulgação/Marvel Studios

Esse esgotamento criativo impede que o espectador se envolva, por exemplo, no conflito de Jane Foster e, até mesmo, com a construção do desejo de vingança de Gorr. Tudo aparece tão jogado e minimamente organizado em uma narrativa que cria uma distância, uma indiferença que não se resolve nem mesmo com a mistura de ação e comédia que ajudou a Marvel a chegar até aqui.

Desleixo é uma palavra que define “Thor: Amor e Trovão” de uma maneira geral e que cabe a outras etapas além do roteiro. Taika Waititi, que costuma se destacar pela personalidade e inspiração, faz uma direção genérica, até apática em muitos momentos. Desleixada também é a computação gráfica do filme, que parece ter sido feita com a falta de cuidado de quem tem prazos impraticáveis a cumprir.

Com o material limitado que tinha nas mãos, o elenco parece ter feito o que podia. Natalie Portman e Christian Bale, com as melhores chances de destaque, considerando o potencial dos personagens, ficam presos ao básico. Tessa Thompson, sempre uma presença marcante, é reduzida à comicidade barata e Chris Hemsworth, confortável na pele do herói, se movimenta para lá e para cá correspondendo ao pouco que é exigido dele.

“Thor: Amor e Trovão” é, pelo menos até onde a memória alcança, a pior produção da Marvel. Preguiçoso e desleixado, o filme é o resultado mais crítico de um projeto que chegou ao ponto de se preocupar mais em ter o que apresentar em eventos para fãs do que produzir bom entretenimento. Considerando o que foi construído até aqui, esse é só um tropeção sem grandes consequências, mas que prova que inspiração e acabamento não são artigos dispensáveis, nem mesmo quando o jogo parece ganho.

THOR: AMOR E TROVÃO

ONDE: nos cinemas e no Disney+

COTAÇÃO: ★ (ruim)

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