“Tico e Teco: Defensores da Lei” debocha de relançamentos de filmes com inteligência e ousadia

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
3 min readJun 22, 2022
Divulgação/Disney

Investir no resgate de sucessos virou rotina em Hollywood, seja através de continuações ou refilmagens que atualizam enredos e personagens. Um dos estúdios que mais aposta nisso é a Disney, que, há pouco mais de uma década, vem se dedicando a relançar histórias que ficaram consagradas em animação utilizando, agora, uma fórmula que mistura live-action e computação gráfica.

Esse projeto de relançamentos é o principal alvo das piadas do filme “Tico e Teco: Defensores da Lei”, disponível no Disney+. Sem qualquer cerimônia, o roteiro assinado por Dan Gregor e Doug Mand debocha desse movimento da indústria cinematográfica colocando-o no centro da história.

Depois de terem protagonizado uma série animada de sucesso nos anos 90, Tico (voz de John Mulaney) e Teco (voz de Andy Samberg) se separam por conta de um desentendimento em relação à carreira. O primeiro corta todos os laços com o show business e o segundo vive quase que no ostracismo e tenta retomar o status de celebridade que tinha.

A dupla de esquilos volta a se encontrar quando um antigo parceiro da série é sequestrado por uma quadrilha que captura personagens animados para “falsificá-los” e vendê-los para um mercado paralelo de produção de filmes. Esse grupo é liderado por Sweet Pete (Will Arnett), uma versão do Peter Pan nada parecida com aquela que nos recordamos.

De uns anos para cá, cada vez mais filmes passaram a utilizar o humor e a ironia para debochar deles mesmos, o que tornou o recurso quase banal. Porém, quando é feito com inteligência, sempre funciona e esse é o caso de “Tico e Teco: Defensores da Lei”, que não só cria tiradas muito inspiradas com a onda de relançamentos de Hollywood, como também retrata, com uma percepção aguçada, aspectos e personalidades impactadas pelo sucesso ou pela falta dele.

Divulgação/Disney

Visando oportunidades nessa tecnológica indústria do entretenimento, Teco, por exemplo, se submete a um procedimento estético que o transforma em uma animação 3D. Escanteado pelo mercado e esperando emplacar um novo projeto, o esquilo vive do contato com fãs saudosistas em feiras e eventos, movimento, se formos analisar, muito comum em uma realidade que constrói e espreme talentos até não se interessar mais por eles.

“Tico e Teco: Defensores da Lei” não se leva a sério em nenhum momento e merece elogios pela coragem de ousar tirar sarro, além dessa tendência de relançamentos, da animação em si, assunto muito caro para a Disney. Os cumprimentos, aliás, devem ser estendidos ao estúdio, que, ainda que por um momento, desceu de um pedestal e se permitiu rir de si mesmo.

Do meio para o final, o roteiro cede às soluções mais fáceis e o filme perde um pouco desse astral, descambando para o tradicional. Isso, no entanto, não desqualifica a produção, que pode agradar os adultos, pela nostalgia e referências, e ainda estimular uma renovação de público para os personagens.

Ousadia e inteligência são os elementos que fazem de “Tico e Teco: Defensores da Lei”, além de uma boa surpresa, uma diversão que não deve ser ignorada, ainda mais quando a realidade nos dá tão poucas. Certamente, terá um lugar merecido nas tradicionais listas de fim de ano de melhores filmes.

TICO E TECO: DEFENSORES DA LEI

ONDE: Disney+

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)

--

--