“Viúva Negra” é boa história solo que demorou muito a chegar às telas

Erick Rodrigues
Pipoca & Projetor
Published in
4 min readJul 22, 2021
Divulgação/Marvel Studios

Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) fazia parte do primeiro escalão, chamemos assim, de integrantes dos Vingadores, mas, ao contrário dos companheiros de equipe, não teve um filme solo de apresentação antes da estreia do primeiro longa do grupo, em 2012. A ex-espiã surgiu como coadjuvante em “Homem de Ferro 2” e, até ganhar uma posição de destaque no time de heróis, apareceu articulada a outras histórias. As insinuações e poucos detalhes sobre a personagem sempre pareciam insuficientes, mas a origem dela nunca tinha a atenção merecida. O motivo? Falta de apelo comercial? Escassez de projetos que fizessem jus? Machismo? Puro desinteresse? Talvez, um pouco de tudo.

“Viúva Negra”, o filme solo da personagem, chegou aos cinemas e ao Disney+ com muito atraso. Sim, é verdade que o longa foi adiado em cerca de um ano por conta do novo coronavírus, mas a pandemia é a menos culpada. A Marvel perdeu tempo “empurrando com a barriga” ou nem mesmo considerando produzir a história. Isso não sai da cabeça durante a exibição, especialmente pelo fato de o espectador já saber qual é o destino de Natasha.

A infância é a primeira fase do passado da personagem detalhada em “Viúva Negra”. Natasha (Ever Anderson) aparece inserida na rotina de uma família. Não demora para descobrirmos que aquela estrutura familiar é, na verdade, uma célula espiã, formada por integrantes sem nenhum laço sanguíneo. Melina (Rachel Weisz) e Alexei (David Harbour) desempenham os papéis de pais, enquanto Yelena (Violet McGraw) vive como a irmã mais nova. As crianças, é claro, incorporam mais a fantasia e chegam a acreditar naquela encenação.

Toda a ilusão desmorona após três anos, quando a farsa é desmascarada e todos eles precisam fugir dos Estados Unidos. O fim da missão não separa apenas as meninas dos falsos pais, mas também distancia uma da outra. Elas crescem afastadas, mas se encontram 21 anos depois para capturar Dreykov (Ray Winstone), o responsável por recrutar garotas e mantê-las sob controle utilizando uma composição química.

Ao lado de Yelena, Natasha se empenha em reunir o resto da “família” para ajudá-la na tarefa. Enquanto organiza esse encontro com Alexei e Melina, a personagem é perseguida pelo governo norte-americano e por alguém do passado, mesmo que essa pessoa não tenha tanta consciência de quem está caçando.

Na linha do tempo da Marvel, os acontecimentos de “Viúva Negra” estão localizados logo após a trama de “Capitão América: Guerra Civil”, mas não é por isso que o filme deixa a sensação de ter demorado a estrear. Mesmo com um passado interessante, Natasha já concluiu a trajetória no universo compartilhado construído pelo estúdio e não vai ter desdobramentos, a não ser que surja em um multiverso ou flashback futuramente.

Divulgação/Marvel Studios

A verdade é que a Marvel “perdeu o bonde”, o timing de lançamento de “Viúva Negra”. Seria mais empolgante acompanhar a história de Natasha na mesma época em que os demais integrantes dos Vingadores estavam sendo apresentados ao público. E por que isso não aconteceu? Talvez os executivos duvidassem da força, inclusive comercial, da heroína ou, quem sabe, não tinham chegado antes a um bom projeto. Seja por covardia, machismo ou falta de visão, o bom resultado deve estar fazendo o estúdio pensar no tempo que perdeu.

“Viúva Negra” é um filme de trama consistente, que não faz questão de inventar a roda. Há elementos comuns do gênero de espionagem, lembrando, especialmente, aqueles ambientados no período da Guerra Fria. É uma história bem amarrada, com atos bem definidos e um desfecho coerente. O enredo é construído como uma alegoria sobre o controle patriarcal da sociedade, que historicamente subjuga as mulheres e tenta conter qualquer movimento de rebeldia ao que foi estabelecido.

O longa também traz uma representação importante sobre família, elo que não precisa ser construído pelo sangue. Um núcleo familiar deve ser formado, antes de tudo, por laços afetivos, ainda que a estrutura possa ser julgada como pouco tradicional por alguns.

Dona da personagem, Scarlett Johansson surge à vontade e mostra compreender o papel por inteiro, deixando transparecer as camadas da ex-espiã em detalhes, como o olhar. Outro ótimo desempenho é de Florence Pugh, que imprime uma personalidade marcante e certa doçura interpretando a irmã postiça de Natasha. Rachel Weisz e David Harbour também se destacam.

“Viúva Negra” chegou às telas em um contexto em que o público pede por mais representatividade, inclusive nos filmes de super-heróis, ainda tão sustentados por visões masculinas. Porém, do ponto de vista da trajetória da personagem, o longa solo de Natasha Romanoff demorou demais, o que, de alguma forma, impacta no interesse do espectador. A produção acaba, no entanto, ganhando um tom de homenagem à jornada de Scarlett Johansson na Marvel, que merecia ter sido valorizada antes.

VIÚVA NEGRA

ONDE: nos cinemas e no Disney+ (requer pagamento adicional)

COTAÇÃO: ★★★ (bom)

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