Crítica: Parasita

Cainan Silva
pipocainan
Published in
3 min readDec 2, 2019
Divulgação

Parasita é um sinal de que preciso expandir meus horizontes, na questão geográfica mesmo, quando o assunto é cinema. O filme sul-coreano é irreverente, inteligente e traz a sensação de um sopro de ar fresco. Sem se prender a um gênero, o diretor Bong Joon-ho transita pelo drama, suspense e comédia de absurdos.

Quando surge a oportunidade de Ki-taek (Choi Woo-shik) dar aulas de inglês para uma menina de família rica, ele aceita e aproveita para levar sua família para trabalhar na mesma casa. Enganando os moradores de lá, eles fingem que não são parentes. Aí é preciso elogiar a atuação dos quatro atores que compõem o núcleo da família invasora. A forma como eles mudam completamente de personalidade quando estão dentro ou fora da casa é admirável. A dinâmica entre eles acontece com tanta leveza, que acaba gerando momentos cômicos, seja pela identificação do espectadores com os personagens ou pela destreza que eles têm de se livrar das adversidades.

Uma das coisas mais interessantes sobre Parasita é como são abordadas as visões sobre o outro. A família rica, por mais que tente, não consegue disfarçar o desdém que sente pelas pessoas que prestam serviços a eles. O cheiro é um dos artifícios utilizados para escancarar essa disparidade entre as famílias. Por mais que os “invasores” tentem se adaptar a aquele ambiente, a todo momento são lembrados que o cheiro impregnado neles os denuncia como não pertencentes. Funcionando como uma via de mão dupla, o desgosto eles sentem pelos donos da casa vai crescendo e tomando proporções drásticas.

Críticas são feitas sobre como cada núcleo leva suas vidas, como a ingenuidade excessiva e falta de comunicação que leva os residentes da casa a serem enganados tão facilmente. No entanto, o filme fica longe do aparente. Quanto mais o roteiro vai se emaranhando, novas surpresas vão surgindo, tornando envolvente a experiência do espectador. Novos elementos, como a violência e o sangue, que no primeiro ato nem aparecem, vão sendo adicionados para acompanhar o ritmo frenético das situações até chegar ao belo e caótico clímax.

A escolha do título para esse filme não poderia ter sido melhor. Um parasita é um organismo que precisa de outro para se alimentar e sobreviver. Se num primeiro momento, possa parecer de que se trata da família pobre invadido um novo espaço, aos poucos vai se desconstruindo essa ideia. Afinal, a família que lá residia também precisava de alguém os servindo, se não, a sua rotina pereceria ao caos. Esse é apenas um exemplo, mas Parasita não se detém a ele e faz com que seu público se questione, reflita e duvide de tudo até o final da trama.

Excelente

--

--

Cainan Silva
pipocainan

Há muito tempo eu já sabia que nem tudo é céu azul, que há também melancolia na vida de cada um