A eleição de 2022 já começou

E a esquerda ainda não sabe por onde seguir.

Antonia Moreira
Pirata Cultural
4 min readNov 14, 2018

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“Não espere por líderes, se torne um” by rob walsh on Unsplash

Nós precisamos de um líder. Para ontem. Após as eleições de 2014, o atual presidente eleito, Jair Bolsonaro, disparou como nunca na internet mirando estas últimas eleições. Impulsionado pelo espírito das ruas, ou melhor, da classe média nas ruas, Bolsonaro ganhou popularidade canalizando a insatisfação da maior parte do eleitorado, culminando em sua vitória. A esquerda deve buscar o mesmo.

Quem vai nos representar nesse novo contexto político? Que ícone nós vamos criar para ser competitivo em 2022 e barrar a campanha da extrema-direita?

Primeira coisa: Lula já era. A história da perseguição é muito boa, de fato nosso ex-presidente passa por um processo jurídico inconsistente e incoerente. Mas, querendo ou não, não podemos ser liderados por alguém que está preso e não tem respaldo de metade da população.

Os feitos do governo Lula ecoam até hoje. Mas ele não voltará a ser nosso presidente.

Fernando Haddad, desde que saiu da campanha encontra-se calado. Particularmente, só o vi em um vídeo, logo após a eleição, onde ele está entrando no portão de casa e é abordado por um jornalista da Globo. Haddad, quando perguntando sobre o que faria, responde que vai pegar seu material e dar aulas. Não podemos culpá-lo. Após participar de uma campanha confusa, com uma narrativa que convenceu a poucos, Haddad parece querer distância da política institucional nesse momento.

E Ciro Gomes? Bom, esse aí anda cometendo estelionato eleitoral. O cara pegou sua mala e família e se mandou para Paris no segundo turno (sério, se ele fosse pro Uruguai, pra praia, pros cafundós seria bem melhor, mas Europa, Ciro, jura?).

Agora, anda dando entrevista por aí querendo analisar o que deu errado e o porquê elegemos Bolsonaro. Para ele, as políticas identitárias dos últimos anos, como cotas e casamento homossexual, foram um desrespeito ao povo trabalhador, que votou contra tudo isso.

É sabedoria geral que em classes mais baixas a homossexualidade e correlatos têm maior rejeição, mas daí culpar os nossos DIREITOS por eleger o Bolsonaro? Vai tomar banho, né Ciro Gomes. Esse cara, que não se sabe onde estava antes de 2018, não tem as mínimas condições de nos representar.

A Marina Silva, que saiu pequena da eleição, com pouco mais de 1 milhão de votos, parece mais preparada que Ciro para liderar qualquer oposição ao governo do Bolsonaro.

Entre duas pessoas que falam besteiras, prefiro uma mulher preta de garra a um político de família.

No PSOL, Guilherme Boulos também saiu forte. O partido ganhou muito com a adesão dele e de todo o MTST. Tradicionalmente acadêmico, o partido ensaia uma adesão aos movimentos de trabalhadores, assim como tem feito muito bem com todos os movimentos sociais.

No próprio PSOL, aliás, estão as forças políticas mais interessantes e que devemos acompanhar de perto na próxima legislatura: Talíria Petrone, Marcelo Freixo, Érica Malunguinho, Sâmia Bonfim. Todos eleitos com grandes votações e nomes ainda sem expressão nacional. Ainda.

Outro destaque é Flávio Dino, reeleito em primeiro turno governador do Maranhão pelo PCdoB. O cara aumentou salário dos professores, desbancou a família Sarney da política maranhense e, esses últimos dias, fez um decreto que estipula o livre pensamento nas escolas do estado, uma dura resposta ao projeto Escola Sem Partido que circula no Congresso. Dino é, sem dúvida, um forte nome para 2022. Meu favorito, diga-se de passagem.

Como disse no começo do texto, Bolsonaro soube canalizar a insatisfação com os governos petistas e usou a internet muito bem. Do discurso à estética, tudo funcionou. E nós, comprometidos com justiça social, não representados por Bolsonaro, precisamos criar um novo discurso, estética e canalizar a insatisfação que já existe e que com certeza virá com as burradas de um governo fadado ao amadorismo.

Tem um texto ótimo da Vice, inclusive, falando sobre a estética da nova direita, que parece dialogar muito melhor com o eleitor do que o marketing eleitoral caro que vimos nas últimas eleições.

A imagem desse texto reflete bem o que quero dizer: Não espere por um líder, se torne um. Acrescento: não espere por um líder, crie o seu líder. Compartilhe o seu líder. Não se deixe tomar por nomes oportunistas. Desde já, saiba quem está com você. Estelionato eleitoral está em alta esses dias. Autenticidade política, não.

Portanto, nosso trabalho em apoiar lideranças — e por que não se tornar essas lideranças? — não começa em 2022. Começa agora. A direita reacionária aprendeu muito bem a usar a internet, embora grande parte desse aprendizado sejam mentiras virais. De todo modo, é nosso dever buscar candidatos que queremos e genuinamente nos representam para as próximas eleições. Nosso objetivo máximo deve ser evitar a sinuca de bico em que nos metemos esse ano.

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Antonia Moreira
Pirata Cultural

Bixa travesty em demolição. Redatora e produtora cultural.