A Intolerância LGBTQ na Rússia: o que temos a ver?

Tema da nova Semana Temática da Pirata Cultural.

Redação Pirata Cultural
Pirata Cultural
4 min readMay 11, 2018

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Essa imagem é atualmente ilegal na Rússia

Era um dos famosos encontros da ONG LGBT LaSky, que abriga em sua sede um encontro para promover a diversidade russa. Dois homens aparecerem à porta, entraram, mascarados. O primeiro homem visto foi Dmitry Chizhevsky, que levou um tiro na cabeça. Ele perdeu um olho. Os homens nunca foram presos, e o caso nunca recebeu nenhum agravante por crime de ódio.

Dmitry Chizhevsky

A agressão ganhou grande repercussão internacional e chamou atenção para a situação de pessoas gays na Rússia, porém, o que aconteceu na LaSky não é tão incomum assim na sede da Copa do Mundo de 2018. A Rússia tem um passado de discriminação contra LGBT’s, que se acentuou nos últimos anos. Por lá, é inadmissível assumir-se publicamente, pois todo o aparelho do Estado e a sociedade civil vão expulsar o indivíduo como uma espinha: gays, lésbicas e transexuais perdem seus empregos, família e direito à educação se manifestarem sua orientação sexual ou de gênero, além da possibilidade de serem agredidos.

A violência piorou após uma lei assinada pelo presidente Putin em 2013, proibindo a “propaganda” gay. A arbitrariedade dessa lei começa pelo fato de não definir o que é “propaganda”. No fim, acaba sendo uma autorização para grupos — organizados ou não — que se veem no direito de atacar verbalmente e fisicamente pessoas que não estejam de acordo com os “valores tradicionais” da Rússia.

Esse discurso é amplamente defendido pelo presidente Putin, que está no poder há 18 anos e ganhou sua quarta disputa esse ano. LGBT’s são considerados doentes, e vão contra o valor de família saudável amplamente difundido. Putin usa do medo dos russos de se “perderem”, seja lá pra onde for, pra incutir o ódio, sobretudo a gays e transexuais.

A situação por si só é preocupante. A Rússia é uma das maiores economias do mundo, possui relações com centenas de países e é um exemplo para as demais nações. Esse ano irá sediar a copa do mundo, mas enquanto nossos olhos estarão voltados para os campos de futebol, acontece no país uma perseguição, financiada pelo Estado, contra a população LGBTQ.

Em pequenos documentários disponíveis no YouTube é possível ouvir relatos de nativos que afirmam existir uma perseguição legal, apoiada pela polícia, pela grande mídia (controlada pelo estado), que transforma a população LGBTQ em culpada pelos problemas russos. Qualquer semelhança com o discurso pregado sobre os judeus não é mera coincidência.

E nós com isso?

Ao levantar essa assunto está longe de nossa intenção apresentar qualquer solução para a complexidade que uma cultura e nação representam. Mas isso não muda o fato de que é preciso trazer luz a esses acontecimentos no país que vamos respirar a cultura por um mês. Como forma de alerta, reflexão, empatia.

A Pirata Cultural, enquanto publicação independente, de opinião e amplamente conectada com a causa LGBTQ, levanta esse debate para pensarmos a intersecção do que acontece lá na Rússia, principalmente em contexto de copa do mundo, com o nosso país.

Qual posição tomar para contra argumentar o discurso de proteção da família que fica cada vez mais forte por aqui e pode prejudicar avanços obtidos nos últimos anos? Quais são as características comuns que assumem esses valores aqui e lá?

E podemos levantar questões de origem histórica para entender melhor o que acontece naquele país. Como foi construída essa intolerância? O que o governo ganha estrategicamente criando esse inimigo? Como era a situação na União Soviética?

Convidamos autoras e autores a refletirem sobre o tema, a tentarem responder ou nos guiar sobre essas questões. O objetivo principal é tornar as pessoas conscientes do que acontece na Rússia, tirar a nossa população da alienação, nos inspirar a levantar e fazer algo por nossa população LGBTQ que também sofre perseguição, por mais que claras conquistas tenham sido alcançadas nos últimos anos.

A Semana Temática da Pirata Cultural acontece entre 28 de maio e 4 junho, apenas duas semanas antes do início dos jogos, aproveitando a alta procura por conteúdos sobre o tema no momento.

Participe com sua reflexão, artigo, até mesmo literatura sobre o tema. Aceitamos textos até 27 de maio.

Se você já escreve com a gente, basta submeter o texto até o prazo.

Se for novo por aqui, entre em contato com um dos editores: Giovana Romanelli ou Marcos Antonio Moreira

Ou nos envie um e-mail piratacultural@gmail.com

Links:

Russian LGBT Network

ONG Stonewall

Jovem e gay na Russía

A Pirata Cultural é um projeto independente de conteúdo sobre cultura brasileira. Deixe suas palmas e nos siga!

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