Ansiedade e meus 20 e poucos anos.

Antonia Moreira
Pirata Cultural
Published in
6 min readOct 29, 2017
O sinal de alerta piscou quando quando a preocupação tomou conta de mim.

Nunca havia passado por minha cabeça que poderia sofrer de ansiedade, dessas que paralisam e tornam o mundo um lugar péssimo para viver. Para mim, sempre foi uma coisa muito distante, e a ansiedade nunca significou algo alarmante. Mas aconteceu. Felizmente, em um processo de muita leitura e contato com amigos próximos que sofrem do mesmo mal, consegui perceber em mim os efeitos da ansiedade fora de controle, e a perceber os gatilhos para minhas crises. Nessas reflexões, cheguei a duas coisas:

· As redes sociais

· O último ano da graduação

As redes que nos viciam

Há algum tempo noto em mim a necessidade constante de compartilhar minha vida com a rede de pessoas que estou em contato. Na era do Orkut não era bem assim, e até quando ganhei meu primeiro smartphone em 2011 (meio que por último entre meus amigos), a relação com a tecnologia móvel era diferente. Me perdi provavelmente entre o Instagram e o Snapchat, em 2015–2016. Essas redes favorecem o compartilhamento de nossas vidas diariamente.

Até então uma foto no Facebook era muito bem planejada, de vez em quando, apenas se extremamente necessário. Já Instagram e Snapchat, principalmente o último, permitem uma efemeridade única, não precisa de foto bonita, nem mesmo os melhores momentos, qualquer coisa pode ser uma história engraçada para se compartilhar. E acompanhar, insanamente, a vida dos seus amigos.

O WhatsApp também é outro gatilho para mim, com diversos grupos; família, amigos, colegas de trabalho, faculdade, projetos pessoais. Não consigo ler e responder tudo, e me deixa nervoso imaginar que todos tenham tanto tempo para conversar o dia inteiro e eu paralisado. Descobri que esse sentimento não é só meu, talvez você sinta esses problemas nas relações à distância e via internet.

Com isso em mente, procurei por informações que pudessem confirmar que as pessoas estavam tendo sérios problemas com a internet. O professor Glenn Geher, em matéria para a Folha, aponta algumas características do comportamento online que estimulam a ansiedade e a depressão em jovens. O primeiro é a comunicação não individualizada; o ser humano sempre se comunicou frente a frente, e essa mudança não é insignificante na forma como nos relacionamos. Para a psicologia social as pessoas agem mais agressivamente e de maneira antissocial quando sua identidade está oculta, logo, a capacidade de anonimato na internet criou uma geração muito mais maldosa. Além disso, como o outro é apenas uma foto numa tela, isso também pode agravar a crueldade com a qual nos relacionamos com as pessoas. Quem nunca recebeu críticas enérgicas num post do Facebook, mas pessoalmente a pessoa nem mesmo citou o problema? Às vezes nem olha na sua cara na rua.

Outro ponto é a dependência real que os celulares geram nas pessoas, como maconha ou tabaco. Dessas que nossos pais sempre nos alertaram, e que deram até resultado, pois boatos que a geração dos nascidos a partir de 1995 bebe, fuma e usa drogas em menor proporção, mas estamos igualmente viciados em tecnologia.

Segundo pesquisa da Statista, em 2016 o Brasil era o país em que as pessoas mais passam horas no celular, numa média de quatro horas e 48 minutos (quase 20% do nosso dia!), mais que o dobro do registado em 2012, apenas quatro anos antes, quando não chegávamos a passar em média duas horas. Só para comparação, os chineses, em segundo no ranking, passam em média três horas e 3 minutos.

Estamos tão desesperados, que desbloqueamos nosso celular sem ter recebido uma nova notificação. Segundo a Apple, seus usuários desbloqueiam em média 80 vezes por dia o celular, o que dá 2400 vezes no mês! Essa necessidade de estar constantemente procurando por novidades pode ser analisada sob a ótica da FOMO (Fear of Missing Out), que seria o medo de perder algum evento importante rolando na internet, o que nos faz rolar o feed das redes infinitamente, ou ficar no celular durante o bar ou na presença de amigos. Isso acontece, em partes, porque ainda não sabemos lidar com as novas tecnologias. Afinal, as primeiras redes sociais surgiram nos últimos 20 anos, e ainda são apenas jovens buscando seu lugar no mundo e em nossas relações.

A FOMO é mais uma faceta dos transtornos de ansiedade que se agravam na era das redes sociais. A princípio, esse texto tem a proposta de ser esclarecedor para àqueles que possam estar identificando em si problemas mais sérios com a ansiedade. Como não sou médico ou profissional da saúde, indico que procurem um profissional que possa te ajudar.

A pressão da faculdade

Além do bombardeio de informação diariamente via internet, a graduação representa outra fonte inesgotável de conhecimento que, a princípio, é boa por emancipar mentes e construir o pensamento daqueles que guiarão a sociedade no futuro. O outro lado dessa moeda é a pressão e o fluxo infinito de mensagens transmitidos por semestres cansativos e cheios de matérias. É uma fase de cobranças, de incertezas, de medo e tudo isso faz lembrar os dramas da adolescência, mas com uma carga emocional muito mais complexa.

Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que 56% dos alunos brasileiros entrevistados estão entre os que ficam mais estressados na hora de estudar. Conheço amigos que têm crises de pânico em semanas de prova em suas universidades. O psiquiatra e escritor Augusto Cury em seu livro “Ansiedade: como enfrentar o mal do século” diz:

“O sistema educacional clássico está doente, formando pessoas doentes para uma sociedade estressante, pois leva os alunos, da pré-escola à pós-graduação, a conhecer milhões de dados sobre o mundo em que estamos, mas quase nada sobre o mundo que somos, o planeta psíquico”.

A fala de Cury diz muito sobre a necessidade de existir uma educação psicológica, pois precisamos aprender a gerenciar nossos sentimentos em meio aos transtornos psicológicos frequentes em todas as camadas sociais. Para aprender a lidar, por exemplo, com as perspectivas desanimadores que nós jovens temos. Os jovens são os mais afetados pelo desemprego, e nós que fomos inebriados pela conversa do “faça uma graduação para ser alguém na vida”, estamos percebendo que a história não é bem assim. O texto abaixo é uma boa leitura sobre o que está acontecendo em outro nível da educação no Brasil e as perspectivas de quem segue a carreira acadêmica.

O que quero com esse texto não é patologizar o cotidiano, como bem observou minha amiga e psicóloga Tassiana Santos. Não estou dizendo que nossas vidas estão todas erradas. É um relato pessoal sobre os problemas que venho enfrentando, e a possíveis causas que identifiquei. Para me aprofundar nisso, sei que preciso procurar por ajuda profissional, e sei também que nem todos podem pagar ou ter facilmente acesso à esses serviços. Por isso, abaixo indico algumas opções que pesquisei e que podem ser úteis a quem se interessar.

As redes sociais são ótimas, um espaço que permite a Pirata existir, por exemplo. Mas também podem ser maléficas para seu bem-estar, e o mais importante é dar atenção a isso. Nosso corpo grita por ajuda às vezes, por uma reflexão a respeito de onde você gasta suas energias, e nós não podemos ignorar. É melhor dar atenção e trabalhar em cima disso o quanto antes para prevenir mais problemas. Não menospreze o que você está sentindo, o tempo pode ser fundamental.

O Zenklub é uma plataforma bacana onde você pode pagar por serviços de psicólogos remotamente, em sessões de 50 minutos. O preço é bem mais em conta do que sessões particulares.

Aqui em Campinas/SP, onde moro, existem psicólogos que atendem de acordo com o que você pode pagar, mande uma mensagem se quiser a indicação!

Procure também por psicólogos e psiquiatras em sua universidade, muitas instituições possuem centros de apoio.

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Antonia Moreira
Pirata Cultural

Bixa travesty em demolição. Redatora e produtora cultural.