Carta aberta a quem vota 17

Breno P. Andrade
Pirata Cultural
Published in
5 min readOct 14, 2018

O que está em jogo é o direito a vida

Caros amigos e família,

Relaxa, eu não vou atacar seu candidato, porque eu não estou aqui pra falar de política.

Eu não sei quais suas motivações para seu voto, mas eu só queria que você soubesse uma coisa: eu estou com medo.

Eu, euzinho. Não uma pessoa que você não conhece ou uma pessoa que você só viu nome e foto por 5 minutos numa reportagem. Mas eu. Eu e você provavelmente temos uma história. Nos conhecemos em algum lugar e depois nos adicionamos aqui. Não sei se temos aquela proximidade que teoricamente deveríamos ter, a vida muitas vezes nos coloca em caminhos diferentes. Mas me diz uma coisa: mesmo você tendo me conhecido pessoalmente e termos trocado uma ideia, você se sentiria bem recebendo uma notícia de que atiraram em mim na rua? Você gostaria de receber a notícia de que eu fui espancado até a morte? Eu acredito que você não gostaria que isso acontecesse. Mas isso é bem possível caso o seu candidato vire presidente.

Eu sei que ele não vai sair lá de Brasília matando mulher, negro, pobre, favelado, LGBT e afins com as próprias mãos. Mas ele fala coisas que ofendem outras pessoas. E quando a gente ofende alguém, a gente se desculpa. Não foi assim que nossas mães ensinaram? A gente nunca sabe as todas as histórias que o outro vivenciou e até onde esse assunto é delicado pra ela. A gente tem que ter respeito com a bagagem psicológica alheia, nunca se sabe o quão ferida aquela pessoa é. Por isso que quando a gente ofende alguém, a gente pede desculpa. Eu fui criado assim e tenho certeza de que você foi.

“Mas você quer que ele se desculpe em rede nacional?”

Seria ótimo, mas sei que isso não vai acontecer. Mas se ele pensa essas coisas, ele poderia, no mínimo, não falar. Porque assim, pensa comigo: ele é uma figura de autoridade, certo? Se você vê seu chefe comendo na mesa ao seu lado, você vai presumir que se pode comer na mesa na empresa, certo? Quando seu candidato fala aquelas coisas que ofendem as minorias, as pessoas que o seguem também acham que podem fazer o mesmo. E assim, você pode não ofender ninguém, mas tem muita gente que não gosta de minorias e acha que tem liberdade para reproduzir as coisas que o seu candidato fala. Então, quando ele fala que vai metralhar petista, uma pessoa que o segue pode achar razoável matar um petista também.

“Mas, o PT fudeu o pais…”

Mano, o PT errou PRA CARALHO e enfiou sim o país numa crise merda. Só que o presidente não governa sozinho, ele precisa da Câmara e o Senado e lá dentro, muitos com a ficha suja não são do PT. Obviamente, o presidente precisa saber fazer manobras administrativas, coisas que a Dilma, por exemplo não soube fazer. Mas essa não é questão, pois não vim falar de política. A questão aqui é que a continuidade do governo PT pelo menos acha um absurdo pessoas como eu estar sentindo o medo que eu estou. Medo de perder a vida. Vocês tem noção que eu tenho medo de simplesmente sair de casa e perder a vida? Eu. Não uma pessoa que você não conhece. Eu.

E gente, ninguém tem o direito, muito menos o dever de tirar a vida de alguém. Muito menos por posição política ou mera cor da pele ou com quem essa pessoa se relaciona. Isso é problema delas.

As pessoas são muito mais do que isso. As pessoas têm sonhos. Tem desejos. Tem família e amigos. Tem amores. Têm pratos preferidos e viagens anda por fazer. Tem aquele curso ou aquele casamento que está planejando desde os 20 anos. As pessoas são tantas coisas maravilhosas para que somente um mero detalhe invalide a sua existência. E acima de tudo, muitas dessas pessoas têm medo. E eu estou entre elas.

Não sei se você conhece a minha mãe ou a minha irmã, mas eu tenho e quero estar lá por elas. E tenho medo de sair na rua e não voltar mais pra casa, não podendo cumprir essa minha missão. Me destruindo, vocês vão deixar uma marca permanente na vida delas e na de quem me cerca. Inclusive na sua vida. Porque eu e você temos uma história.

O candidato que você está votando dá carta branca para que me matem na rua. E joguem todos os meus sonhos, direitos e deveres no lixo.

Alguma vez eu ameacei a sua existência? Veja bem, alguma vez eu ameacei a sua EXISTÊNCIA? Então, porque agora a minha existência está ameaçada?

Eu sou um cidadão como você. Trabalho, estudo, pago impostos. Ajudo a fazer a roda da economia girar. Quero ter um emprego estável e família também. Quero comprar um carro, ter minha casa própria, fazer aquele intercâmbio dos sonhos, sei lá. Quero ser feliz.

E você pode não estar me ameaçando agora, mas o candidato que você vota dá carta branca pra me ameaçarem. É sério mesmo que você se sentiria bem sabendo que eu estou sendo ameaçado?

O que foi que eu fiz pra você? O que foi que eu, a pessoa que você conhece (não um estranho que apareceu no jornal) fiz pra você?

É só isso que eu quero que você pense na hora de votar. E se mesmo assim, você votar 17, eu quero que pese na sua consciência de que você é responsável por CADA UMA das estatísticas. E que você vá “dormir” com isso na cabeça. Quero que você vá dormir sabendo que contribuiu para a ruína de milhões de famílias.

.

Gostou desse texto? Deixe suas palmas aqui (elas vão de 1 a 50).
Siga a Pirata Cultural aqui no Medium e acompanhe os autores!
Se quiser escrever com a gente, só clicar aqui

Gostou desse texto? Deixe suas palmas aqui (elas vão de 1 a 50).
Siga a Pirata Cultural aqui no Medium e acompanhe os autores!
Se quiser escrever com a gente, só clicar aqui

--

--

Breno P. Andrade
Pirata Cultural

Latino-americano. Mestrando em História. Bacharel em RI ávido pelas entrelinhas. Reflexões totalmente pessoais sobre o que der na telha. Escrita como terapia.