Do feminejo a mulher comum: como a desinformação sobre o feminismo afasta mulheres do movimento.

Feminismo vai muito além de uma palavra.

Jaqueline Gouveia
Pirata Cultural
3 min readSep 28, 2017

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Recentemente duas grandes representantes do feminejo, nome dado para o sertanejo feito por mulheres, declararam que não são feministas. Marilia Mendonça disse ao G1 que não se considerava feminista e que “o feminismo diminui a mulher muitas vezes. Para haver igualdade, não temos que ficar pedindo nada, temos que trabalhar. Já Naiara Azevedo disse ao jornal Extra que não se considerava feminista, que é apenas uma pessoa justa.

Não dá para definir de forma simplória quais são os pensamentos e pautas defendidas pelo feminismo, visto que existem inúmeras vertentes, mas de um modo amplo, feminismo luta pela igualdade de gênero e pela autonomia das mulheres sobre suas vidas e corpos. Esse é o fundamento.

Com a ajuda de uma propaganda Antifeminista somada a uma desinformação sobre os seus reais pensamentos, criou-se o entendimento de que as mulheres já vivem em igualdade perante aos homens, que o feminismo quer a soberania feminina, e o estereótipo de mulheres que fazem apologia à morte masculina.

Esta imagem errônea colocada sobre as mulheres feministas nada mais é do que uma arma do patriarcado para desqualifica-las e colocar mulheres contra mulheres, afastando, assim, muitas do real significado do feminismo. Quando ambas as cantoras citam o feminismo com uma conotação diferente da denotação original, fica evidente que o feminismo não é apresentado a todas as mulheres e que a desinformação é geral.

Há muitos anos o feminismo vem lutando não só para que as mulheres possam trabalhar, mas para que tenham autonomia financeira, visto que o patriarcado se fortalece das estruturas criadas para colocar as mulheres inferiores e dependentes dos homens.

Naiara diz não ser feminista, e sim justa. O que é ser justa? É acreditar que ambos os sexos tenham direitos iguais e em equilíbrio? Se sim, o feminismo também defende isso.

Essas falas ajudam ainda mais a danificação da imagem do feminismo e faz com que o estereótipo hostil e o medo de conhecer mais sobre o assunto predominem.

Apesar de não se intitularem feministas, ambas as cantoras escrevem músicas que batem com a ideologia, assim como muitas outras cantoras do Feminejo, têm pensamentos progressistas e libertadores.

Na música “50 reais” Naiara Azevedo não aceita ser traída, e mesmo que tenha jogado a culpa também na mulher, da um basta na situação. Empoderamento. Em “ex do seu atual”, a cantora alerta a outra moça sobre o boy lixo e joga a real “Ele vai ferrar com a sua vida”. Sororidade. Em sua recente parceria com Ivete Sangalo, Naiara avisa que desistiu de quem não a quis e que chegou para dançar, beijar e errar. Liberdade feminina.

Marília Mendonça escreve letras em que expulsa homens infiéis da sua vida, diz na cara do atual que sente falta do ex que a acompanhava nos roles, que vai beber de novo e voltar para a casa louca. Ela por si só já é um grande ícone de representatividade feminina, fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade, sempre deu declarações empoderadoras sobre estar bem com si mesma.

As duas cantam pautas que o feminismo defende, e o feminejo, movimento que estão inseridas, tem muita semelhança com o feminismo. O feminejo veio para dar voz as mulheres dentro de um ambiente dominado por homens, o feminismo tem a mesma essência.

Questiono então: se o feminismo não fosse tão marginalizado, se o estereótipo de odiadoras de homens não fosse impregnado na sociedade, seria mais fácil a identificação com o feminismo? Questiono se o conceito de que feminista é mulher “mal-comida” e “reclamona” não estivesse tão vivo na sociedade cantoras como Marília e Naiara não teriam o interesse em conhecer mais sobre o assunto? E ao perceberem que o que cantam tem muito a ver com as pautas feministas, perderiam então o receio de se assumirem feministas?

Obrigada a Martha Raquel pela colaboração.

Esse texto faz parte da semana temática da Pirata Cultural “Qual é a da música popular brasileira hoje?”. Se curtiu bata palmas e siga a Pirata!

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Jaqueline Gouveia
Pirata Cultural

21 anos e uma mente que não para de pensar asneiras.