Em memória de meu velho eu

Helena Fiore
Pirata Cultural
Published in
3 min readOct 10, 2018

Contando minha história no Setembro Amarelo

Era qualquer dia, para mim não fazia muita diferença. O sol de fim de tarde invadia o cômodo onde eu me encontrava refletindo sobre como era difícil lutar uma batalha que eu considerava perdida, em minha concepção.

Insistia em procurar dentro de mim, em algum lugar que fosse, motivos que pudessem justificar o que eu estava prestes a fazer, o iminente acontecimento que mudaria a vida de muita gente, a minha não. Não a minha vida propriamente dita, somente a dor que eu carregava.

E a única justificativa que pude encontrar foi que, jamais fiz parte daquele pedaço de terra, jamais havia sido amada como uma mulher, embora ainda não me considerasse uma mulher completa. Os meus dias se arrastavam repletos de tristeza continuamente, enquanto que meninas da minha idade se divertiam beijando garotos bonitos, conhecendo o mundo que eu, até o momento, não tinha tido o prazer de vislumbrar, sequer.

Não tinha ideia de como aquele poço de tristeza havia surgido dentro de mim, só sabia que tinha medo da solidão, ela me aterrorizava e me fazia perder o sono. Tratou de levar para o meu subconsciente memórias que eu fiz questão de esquecer.

Mas, aquele dia era diferente, para mim. Era o dia em que eu resolveria todos os meus problemas, toda a dor iria embora, e eu não precisaria mais que os garotos me desejassem, nem que quisessem passar um tempo ao meu lado para me trazer um pouco de alegria e algumas boas memórias. Pode até parecer bobagem para quem quer que esteja lendo essa minha curta narração, mas o medo de ficar sozinha e sem amor, e a constante insistência desse cenário querer ancorar em minha vida, fez brotar em mim a tristeza profunda da alma.

A dor da depressão, para quem não sabe, é uma dor muito cruel. É uma doença que ataca a alma e que suga sua vida com uma força que nem sei explicar direito.

Há muitas pessoas que não entendem mesmo, outras fingem que sabem do que estamos falando quando reportamos a elas o nosso dilema. Mas, no fundo acredito que, só entende realmente quem passa ou já passou por isso.

A DOR DA ALMA

As suas forças vão embora, sua vontade de viver se esvai e tudo o que permanece é o medo e a dor. Ambos são importantes para lembrar que a pessoa ainda está viva. Somente as emoções são capazes de nos fazer recordar que ainda esse estado de vida e sem elas somos só vegetais que pensam, andam, comem e fingem que vivem de qualquer jeito. Afinal, o importante é sobreviver, não é? Seja como for!

E é nessa rotina agonizante que perdemos o significado da vida.

É claro que sobreviver é importante, mas viver não tem preço. Sobrevivemos todos os dias ao levantar da cama, ao olharmos para o céu, ao respirar. Vivemos quando amamos, odiamos, arriscamos, quando fazemos história.

E sobre aquele dia em que a morte quis me engolir…Quando olho para ele, me sinto uma vitoriosa porque posso ver em mim o que as demais pessoas não podem, me conheço melhor do que qualquer outro poderia e encarar a morte foi o ápice da minha vida.

A inspiração desse texto veio de minha história, da qual não tenho vergonha e a escrevo dia após dia. Sou uma mulher que foi vitima de um falso conceito de beleza e felicidade, que oprime e deprime, porém em meio a tudo isso, superei e supero todos os dias tendo fé em minhas crenças e acreditando que eu posso vencer a batalha de cada dia contra o monstro da tristeza que habita em mim.

Não somente no Setembro (Amarelo) devemos conversar ou buscar ajuda. Procure ajuda! Seja ela profissional ou simplesmente para uma boa conversa.

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Helena Fiore
Pirata Cultural

Há quem se refira a intimidades de um jeito diferente. Já eu, acredito que abrir a minha alma para um estranho é o maior ato de bravura que se possa demonstrar.