Em tempos de agonia, me agarro ao caos

A Poetisa Das Constelações
Pirata Cultural
Published in
3 min readJun 10, 2020
“Alegoria do Triunfo de Vênus” de Agnolo Bronzino.

Em tempos de agonia, me agarro ao caos… Pelo menos momentaneamente. Quero poder sentir como é viver fugindo dessas falsas ordens que nos impõem todos os dias, essa promessa de progresso que vendem e propagam pra gente até aceitarmos sem questionar.

Ultimamente tenho pensado de mais no futuro. Parece fazer parte de crescer: Ter que se preparar para coisas instáveis e imprevisíveis, perceber que nesse mundo a gente na verdade está sozinho mesmo. Ultimamente eu tenho me limitado, me delimitado da maneira para caber nas expectativas das outras pessoas… Pessoas que julgam me amar, que dizem estarem ao meu lado. E eu só tenho me colocado em cercas confortáveis e belas para evitar o conflito e para não alimentar o caos.

Mas a linha entre o caos e a beleza é bastante tênue. Existe momentos que há beleza no caos, assim como existe momentos que a beleza e o caos parecem a mesma coisa. A beleza defini-se em sua finitude, o caos em sua infinitude. A beleza é algo que um dia pode morrer e o caos é o vazio que, porém, um dia gerou a beleza do universo, segundo a mitologia.

Sinto a minha cabeça à venda. Sempre me dizem o que comer, o que vestir, o que fazer, o que gostar. Quem dá mais? Quem dá mais? “É para o seu bem”, “É para o seu futuro”, “É para o seu sucesso”. E aos poucos a gente vai se acostumando a escutar todas essas vozes de fora e a sufocar a nossa própria, começamos a duvidar dos nossos princípios e acha-los errados. Vamos esquecendo de pensar, de viver e de falar, isso tudo nos torna feios e mudos até que a vida perca o seu sentido em si.

Já eu me sinto no Limbo, em algum lugar entre a beleza e o caos. Todas as noites, isso fica martelando na minha cabeça: algo me dizendo que estou no lugar errado e no tempo errado. O pior é que não há “Muletas mentais”, rotas de fuga da realidade ou máscaras que me ajude a me sentir bem.

Pareço uma ingrata, mas é que eu não consigo me contentar com esse sopro de vida. É muito raso, é muito rápido, é muito ínfimo… Por isso, todas as noites sinto essa agonia e me entrego ao caos, assim eu posso ser eu mesma e sentir o que eu quero sentir, mesmo que momentaneamente. Ainda aguardo o dia em que a beleza e o caos farão parte da minha vida para além de momentos breves de liberdade interna.

Ismael Nery

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Por trás dessa minha calmaria, existem guerras. Mais além dessa minha juventude, existem eras. A noite sempre aguarda os gatos pardos