Encarando o medo de frente

Helena Fiore
Pirata Cultural
Published in
4 min readOct 9, 2018

Resumo de uma consulta à psicóloga- 1° experiência

Desde muito cedo eu percebi que carregava comigo certo desconforto que, ora parecia tristeza, ora não sabia descrever, mas como nunca me incentivaram ou sequer me levaram a um profissional especializado para que eu pudesse conversar e quem sabe dessa forma tentar entender o que se passava comigo, cresci fazendo pouco caso de um bom desabafo e desconhecendo o poder que ele podia ter.

Divã

Acredito que todos prezam por uma boa conversa, uma pessoa que ouça seus problemas e que pelo menos por um momento transpareça não possuir nenhum para lhe apresentar em contrapartida.

Eu nunca tinha vivido essa experiência de ser ouvida por um [a]problemático, porque todas as pessoas com as quais eu conversava sempre tinham problemas pra me devolver ao mesmo tempo em que ouviam os meus desabafos doentios, e era assim que mantínhamos sempre essa troca de favores constantes e necessários para que a vida pudesse correr bem e nós pudéssemos ficar um pouco mais leves dos fardos da alma.

Mas, naquele dia foi diferente. Lembro que eu estava nervosa e preocupada com as palavras com as quais eu iniciaria o dialogo. Por onde começar? O que dizer? E procurando forças dentro de mim, respirei fundo e tomei coragem. Adentrei a sala, enquanto minha amiga me esperava do lado de fora.

Para quem diz não criar expectativas sobre as situações até que eu tinha várias. A começar pelo divã, que busquei encontrar na imensidão da vasta sala branca, sem, no entanto, lograr êxito algum. Até aí, tudo bem. Afinal de contas, é possível alcançar uma boa conversa sentada em uma cadeira confortável, sem necessariamente ser um divã, pensei. Vamos adiante.

Quando me abanquei e fitei-a de perto, pude notar que possuía uma expressão tão afável e agradável, que poderia passar o resto da noite ali conversando com ela, embora não fizesse a mínima noção do que dizer, não queria chorar antes que alguma frase com sentido pudesse sair da minha boca. Foi aí que a frase que eu mais temia surgiu.

— Como você está? Ela me questionou.

Na verdade, o que me ocorreu na hora foi que aquela era uma pergunta meio idiota porque era obvio que eu não estava bem se eu estava ali pra conversar, mas ao mesmo tempo pude compreender que era uma ótima pergunta para iniciar uma conversa interessante com um estranho.

— Não muito bem… ,respondi temerosa.

E por incrível que pareça a conversa andou e a máscara que eu usava daquela porta pra fora havia ficado exatamente do lado de fora do recinto e naquele momento eu senti que podia dizer qualquer coisa que eu jamais seria julgada por isso. As lágrimas vieram também contribuir para aquele comento de sinceridade. Aquelas mesmas que eu escondia atrás das altas gargalhadas, as mesmas que ocultei das pessoas que não se importam com meu sofrimento, a fim de parecer que sou mais forte, e não apenas parecer pois sei que sou mais forte e estou trabalhando nisso.

Depois de muitas perguntas e desabafos, pude ser diagnosticada com tristeza aguda (kkkkk), na verdade não foi bem esse o diagnostico, mas isso talvez pudesse exigir minha exposição detalhada sobre o problema e, no momento, não me sinto muito à vontade para falar sobre ele, então continuemos.

De tudo que ela me falou filtrei várias coisas interessantes e posso lista-las para vocês:

· Eu sou forte! Não preciso que ninguém reconheça isso, mas é claro que se reconhecerem é bom, porém a pessoa que tem que aceitar e conviver com isso sou eu mesma, pois eu convivo com meus desafios diariamente e venço-os dia após dia.

· As pessoas que são importantes para mim também me veem como importante para elas! Temos a mania de achar que as pessoas que nos rodeiam não nos consideram importantes, mas elas confiam em nós e dependem de nós também assim como nós, delas.

· Trace rotas! Ninguém está proibido de sonhar. O sonho nos motiva e nos faz acreditar em dias melhores. Então, sonhe sempre que possível.

· Saiba seu limite! Não guarde suas dores somente para você acreditando que ninguém pode lhe entender. Converse com alguém que entenda, seja um amigo, um psicólogo. Jamais carregue o peso do mundo sobre suas costas.

· Crie expectativas! Criar expectativas é bom e traz paz ao coração, quando na medida certa, não exagere.

· Você é responsável por suas decisões! Não culpe o universo quando as coisas não dão certo ou não saem como o esperado, talvez você fez algo que mudasse o curso das coisas, então participou como agente direto da mudança.

São ricas lições para uma visita só. E para se bem sincero, caro leitor, nunca fui muito fã de psicólogos. Sempre tive a pior das impressões sobre eles, embora tivesse o sonho de cursar psicologia para compreender meus próprios devaneios, mas após essa experiência acima descrita tenho certeza que meus conceitos foram modificados e desse encontro valoroso pude carregar aprendizados para minha vida e me tornar uma pessoa melhor do que fui ontem. E a todos os que leram, peço que repassem essas lições aprendidas a outros, e se quiserem conversar procurem alguém. Procurem um profissional. Conversar faz bem, o que faz mal é guardar as mazelas do mundo dentro da alma e se deixar envenenar por elas.

OS: Embora o problema real não tenha sido abordado durante o relato, o mesmo é baseado em fatos reais.

Obrigada por ler.

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Helena Fiore
Pirata Cultural

Há quem se refira a intimidades de um jeito diferente. Já eu, acredito que abrir a minha alma para um estranho é o maior ato de bravura que se possa demonstrar.