Nem tudo está perdido

Como dialogar com Bolsonaristas e fazer política de verdade.

Antonia Moreira
Pirata Cultural
3 min readOct 5, 2018

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Temos de ter esperança, todos nós comprometidos com justiça social e com a democracia. Na iminência de um segundo turno entre Fernando Haddad (PT), candidato indicado por Lula e Jair Bolsonaro (PSL), um deputado do baixo clero na Câmara conhecido por falar asneiras e incitar o ódio, a disputa aproxima-se de um plesbicito sobre o menos pior.

Para quem deseja um país mais diverso e comprometido com todos os cidadãos, fica claro qual projeto abarca essa diversidade. Infelizmente, o discurso reacionário — que dialoga com um saudosismo de um passado bom que nunca existiu — é sedutor. É sedutor para a elite, que sente-se rejeitada pelos governos do PT, mesmo que esse partido pouco tenha feito para mexer nos privilégios dos mais ricos. É sedutor para os mais pobres, desanimados com a política e com desejos de ares novos.

Bolsonaro pode ser o novo para eles, pois não está metido em casos de corrupção (embora esse argumento seja questionável), pode ser o novo porque fala o que pensa e hoje em dia essa é uma característica valorizada.

Mas como disse no começo desse texto, temos de ter esperança. Uma thread do murilo araújo no twitter resume bem meu ponto de vista. Ele fala sobre como mudou alguns votos que iam para o Bolsonaro numa simples conversa em seu condomínio.

Sua aposta foi justamente nos pontos mais caros à população pobre: emprego e renda. Bolsonaro é uma grande incógnita em termos econômicos, e é irresponsável votar em um cara que não põe suas propostas para escrutino público. O que ele fará na área econômica se chegar ao poder? Qualquer coisa. Entre elas, a diminuição de direitos, pois ele representa um liberalismo inconsequente e já deu sinais fortes nesse sentido. É só ver o seu vice, general Mourão, criticando o 13º salário.

Para a faxineira, para o porteiro, para o motorista do Uber, pouco importa se o Bolsonaro é racista, homofóbico e machista. Essas discussões ainda não chegaram a todo mundo, sabiam? Porém, mais uma vez, emprego e renda afetam todos. Todos mesmo.

E nem todas as pessoas que pretendem votar no Bolsonaro tem consciência disso. Mal sabem o que é um deputado que ficou 27 anos na câmara e aprovou 2 projetos. Projetos, que isso? A política, minha gente, é abstrata para a maioria das pessoas.

Nós precisamos trabalhar com símbolos se quisermos eleger um presidente comprometido com a sociedade plural que o Brasil é. Dessa forma, precisamos dialogar com quem vai votar no Bolsonaro só porque está insatisfeito. Precisamos encontrar os argumentos certos.

Esses dias uma senhora que trabalha como terceirizada no meu escritório perguntou-me em quem eu votaria. Respondi. Ela rebateu dizendo que estava na dúvida entre Haddad e Bolsonaro (!). Perguntei o porquê dela cogitar o voto no candidato do PSL, e expliquei o projeto que ele representa. Ela estava em dúvida, pois estava cansada e o Bolsonaro podia dar em qualquer coisa, quiçá em algo bom.

Ela apostava nele, e como sabemos, não é uma boa ideia. Conversando com ela tentei transmitir meu medo em relação a um possível governo Bolsonaro. Ela captou a ideia.

Não desistam de dialogar, política é isso. Não desistam de encontrar argumentos que toquem as pessoas e as façam perceber como a democracia é frágil e precisa ser protegida.

Se encontrar alguém que repete as asneiras da direita, como “cotas são ruins” ou “o Lula é o maior ladrão do história do país”, não precisa se irritar. Mas entenda que nesses 30% de intenção de votos do Coiso há muita gente desinformada, inconformada e necessitada de mais informação para escolher com discernimento nosso próximo presidente.

Pratique a política hoje, dialogue e toque as pessoas. Vamos lutar, honestamente, pelo país que queremos.

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Antonia Moreira
Pirata Cultural

Bixa travesty em demolição. Redatora e produtora cultural.