O que aprendi com a comunidade Transvestigenere

Antonia Moreira
Pirata Cultural
Published in
3 min readJan 30, 2019
Eu estranha e gótica numa festa na Unicamp nas lentes de Rafa Kennedy.

Eu era só um garoto que gostava de vestidos da mãe. Lá pelos meus 8 anos adorava experimentar roupas de mulher e colocar tamancos. Guardei esse segredinho por muito tempo e só voltei a experimentar o prazer de fluir após adulto.

Com a liberdade veio também uma crise de identidade. Sofri por me sentir rejeitado em uma comunidade gay excludente que não conversava comigo. Teimava em buscar meu lugar, seja participando de coletivos na universidade e frequentando lugares “LGBT’s” que eram na verdade ambientes gays.

Sabia que tinha algo que me incomodava, e só consegui colocar isso em um pensamento lógico quando encontrei as manas do Ateliê TRANSmoras. O espaço é uma ocupação de pessoas TRANSLGBQIA+, pura resistência nesses tempos difíceis. Me aproximei porque achava lindo aqueles corpos negros e afeminados gritando nas ruas de Barão Geraldo, distrito boêmio e universitário de Campinas.

Fui acolhido de forma muito fácil. Elas viram de algum jeito meu incomodo na forma em que vivia e só me acolheram. No Ateliê descobri novas formas de afeto e um respeito ao próximo e solidariedade que nunca vi antes.

A gente lê Teoria Queer, Foucault e Butler, ouve Linn da Quebrada, se incomoda por algo que ainda tentamos descobrir exatamente o que é, mas foi com todos os integrantes do Ateliê TRANSmoras que vi a pluralidade de identidade de gêneros, o corpo transgressor e a revolução travesti ao vivo, real, acontecendo. É teoria na prática e é tão lindo.

Com Rafa Kennedy, Weyla Pompom, Vicente Perrotta e outras tive acesso a uma rede de apoio mútuo, artistas, putas, intelectuais e estudantes com o mesmo objetivo: crescer os seus. E sem essa ladainha segregacionista que uma vertente gay, em geral, possui.

Por essa rede pude dançar usando um modelo de Vicente Perrotta no show da Linn da Quebrada, Boss In Drama e BadSista. Com elas conheci Alice Guél, entendi porque travestis gritam e que eu não sei nada. Nada. Só aprendo. Me transformo e ajudo a transformar o meu redor.

Foi um encontro entre o que eu pensava e sentia, e por falta de referências não conseguia colar em prática.

Sugiro isso a todos vocês: ouçam as não-binária, as travestis, as putas.

Janeiro é o mês da visibilidade TRANS. Não é isso?

Eu vos digo: quando a gente descobre outras possibilidades de construção do afeto, de produção de conhecimento e renda, de socialização do que é produzido e também conquistado e ums busca por objetivos em comuns percebemos como o movimento T é fundamental na luta contra opressões. A Revolução não vai acontecer sem as manas travestis, é isso.

Transvestigenere

Conheci o termo por Vicente Perrotta e sei que ela o conheceu por Herika Hilton, co-deputada estadual pela bancada ativista em São Paulo (PSOL). É uma reflexão sobre a identidade Queer, americanizada, para uma realidade brasileira. Um debate interessante para começarmos aqui na Pirata Cultural.

#VisibilidadeTrans29deJaneiro 🌈

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Antonia Moreira
Pirata Cultural

Bixa travesty em demolição. Redatora e produtora cultural.