Ode à autoestima

Uma reflexão sobre o cuidado comigo mesma no ano que se foi

Taynara Rafaela
Pirata Cultural
4 min readDec 27, 2017

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Nola Darling, a mulher negra dona do seu destino em She Gotta Have it (Netflix).

Ainda estou avaliando o legado de 2017 em minha vida. Foi com certeza um ano inesquecível. Resolvi escrever esse texto, mesmo ainda não tendo o saldo desse ano, porque um dos meus erros em 2017 foi com certeza a negligência: Me comprometi em escrever na Pirata no início do segundo semestre, os meses se passaram e as tarefas se acumularam, e eu não consegui escrever um texto sequer, nem ao menos iniciei algum deles.

A consciência pesava mas nada podia fazer a respeito, pelo menos era o que eu achava.

Porém, eu estava redondamente enganada porque para tudo dar-se um jeito nessa vida, e eu poderia ter escrito os textos, do mesmo jeito que eu poderia ter me cuidado e não ter tido duas pneumonias consecutivas.

Sim, duas pneumonias. Eu estava muito preocupada em trabalhar, concluir a graduação, fazer estagio, manter uma relação, fazer parte de um grupo de pesquisa em dança-teatro, e ainda queria estar no movimento negro da faculdade.

Esqueci ou me deixei esquecer que não poderia fazer nada disso estando morta. Não consegui admitir que minha carreira de fumante era um desastre, pois eu não levava o menor jeito, pois meu pulmão, coitado, é fraco. Como ouvi de um artista incrível, “ou vc bate o pulmão no chão ou vc fuma, os dois não dá” . E realmente não dá.

Mas já era tarde, quando dei por mim estava tomando oxigênio, e isso foi tão devastador que ainda estou colhendo os frutos e tentando entender como foi que deixei chegar a esse ponto, o mesmo penso a respeito do meu relacionamento que também se foi, assim como a vontade que eu tinha de fumar.

Se você fuma, pense o porquê você faz isso, não quero ser a ex- fumante chata até porque todo mundo sabe que faz mal, é que eu realmente fiquei abalada e não queria que ninguém passasse pelo o que eu passei.

Aos poucos vou mapeando tudo de ruim que aconteceu comigo nesse ano e tentando me preparar para as possíveis reviravoltas que podem acontecer ainda no primeiro semestre de 2018. A gente tem que ser positiva e forte, né?

Ouço isso o tempo todo, enquanto mulher negra sei que a gente tem que lutar diariamente contra o auto-ódio e a auto-sabotagem, nos deparamos com meritocracia e temos que ser 5 vezes melhor que muito branco medíocre que tem por aí, mas ainda temos que ser fortes e aprender a caminhar sozinha e além de tudo, ser positiva, é muita pressão, mas não podemos desistir porque o mundo precisa da nossa força e do nosso talento.

Mas apesar de tudo isso que vivi nesse turbulento 2017, algo serviu pra eu perceber que tenho que parar e prestar atenção em mim, uma auto análise não faz mal a ninguém, mas tem que ser sincera e realmente se ouvir, ok?

Seguir a intuição as vezes também pode ser incrível e reconfortante. Porque nada adianta querer lutar contra afromisoginia, querer fazer arte ou amar alguém se você não se amar o suficiente pra perceber que tem algo errado com você e/ou ao seu redor.

Cuidar da saúde física é muito importante, um corpo bonito é legal mas você não vai conseguir ostentá-lo se morrer porque saiu de cabelo molhado. Coma direitinho também, para de frescura com legumes e se abre pra novas experiências culinárias, giló e beterraba fazem muito bem pra saúde e podem ser preparados de maneira gostosa.

Se possível, procure algum sentido na vida, uma espécie de espiritualidade só sua, não precisa ser uma religião, só algo que explique o porque das coisas, alimente de alguma maneira a sua alma, que te conforte e te basta. Se você achar isso nada a ver, tudo bem, você pode ter razão mas isso foi só uma dica.

Nem vou dizer sobre a necessidade de cuidar da saúde mental porque existem textos aqui sobre, mas só pra reforçar, procure terapia se achar necessário, namorado, amigo e parente podem te ouvir mas eles tem envolvimento afetivo com você e não são profissionais.

Sendo assim, espero que 2018 e nos próximos anos eu nunca esqueça de mim, que o negralismo continue servindo de inspiração, que eu continue a fazer arte e me nutrir dela, pois sem arte não vejo mais sentido na minha vida e muito menos nesse Brasil. E que, acima de tudo, eu me ame e nunca deixe de acreditar em mim. #blackgirlmagic

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