Por acaso
Naquela casa pré-fabricada nossos olhares após anos se encontraram, em meio à um ritual tribal ao som de tambores e palmas, quadris acentuados em vermelho, véus, sinos, desejos e amores contrariados.
Uma história de amor em microssegundos, escrita através do olhar e sorrisos. Envoltos em meio àquela agitação e aplausos da multidão, nossos desejos bailavam suspensos, inabaláveis, imperceptíveis aos transeuntes, protegendo o verdadeiro enredo por trás de toda aquela poesia romântica.
Pouco dormi naquela noite, você tumultuou meus sonhos ao som de Three O’clock Blues, amanheci com a lembrança do seu perfume, aparentemente algumas partículas deste misturado com o seu suor ainda estavam residindo em minhas narinas, algumas características tortas dignas de uma miragem pipocavam em minhas lembranças, somada à vontade incontrolada de provar o teu beijo.
Tentava afogar esse desejo incontrolável entre cigarros e cervejas, fixando o olhar na parede sem reboco do quarto, que só agravava a situação e me lembrava ainda mais do sonho da noite anterior.
Engarrafamento na interestadual, Emílio canta logo agora no som do carro e em meio a buzinas e palavrões dos impacientes motoristas a tela do celular se acende com uma mensagem sua dizendo que sonhou comigo noite passada noite sem qualquer pecaminosidade, não compreendia bem o que motivou esta loucura e se quer lembrava como tinha meu número, após algumas mensagem, piadas e trocadilhos, um encontro marcado para próxima sexta-feira.
Outro dia, novamente você tumultuou minha noite só que dessa vez quando meus olhos se abriram ao amanhecer os teus me sorriram de volta e desta forma, mas alegre se tornou os dias seguintes. Quem diria que a vontade não aguentaria tantos dias e que o destino sempre à espreita, de maneira arteira, nos colocou na mesma rotina ocasional e que após alguns sorrisos, apresentações, cafés e conversas a esmo estaríamos em seu apartamento dialogando sobre o sentido da vida, aprendendo um pouco mais de anatomia e confidenciando segredos de liquidificador entre nossas orelhas frias.
Ah! O amor esse danado!