Sobre dormir abraçado

PITACO NOVO
PITACO NOVO
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2 min readAug 9, 2017

Por Valsui Júnior

Ninguém nunca me ensinou a dormir abraçado. Quando eu tinha lá pelos meus cinco, seis anos de idade, minha mãe conta, já não gostava muito de toque. Se alguém vinha me abraçar, eu já dizia ‘chega pra lá! aqui não!’. E, de fato, quem não respeitava meu território certamente não era bem quisto aos meus olhos.

Depois disso, na pré-adolescência, talvez por ter vivido rodeado por livros e filmes B, uma educação estritamente cristã até meus 13 anos de idade, passei a fantasiar. Não o ato sexual em si (que, deus me livre, poderia até ser libidinoso) — mas o toque, a sensação.

Já na erupção dos hormônios, meu primeiro namoro na adolescência, foi quando, pela primeira vez senti a segurança do toque. (Mas demorou). Depois disso, algo em mim se abriu, uma nova forma de comunicar que era muito diferente daquilo que eu tinha experimentado até então. Desatamos laços e segui a vida.

Na descoberta da minha sexualidade também. Era uma época que jazia a minha necessidade de carinho e eu andava por entre a necessidade do sexo pelo sexo e na busca de uma afeto constante. Dormir abraçado com meu primeiro namorado, de alguma forma, sanou essa minha necessidade.

Quando terminamos, um vazio. Definitivamente faltava alguma coisa. Não, não era ele — era a necessidade de algo material, físico, corpóreo. Tudo que eu experimentava, daí em diante, era irrisório. Não satisfazia.

Com o tempo aprendi a me satisfazer com simbolismos, pequenos amuletos que guardava no dia a dia para me compreender, lembrar dessa necessidade. Meu ascendente, Câncer. O regente, a Lua. Talvez um dos signos mais sensitivos (leia-se sensitivo, jamais sensível) do zodíaco.

Abracei esse arquétipo e passei a entender o que me fazia tanto sentir necessidade pelo calor do Outro — não necessariamente d’O Outro, mas de Um Outro. Foi assim que passei o outro terço da minha vida um pouco mais consciente de que não precisava dormir abraçado com ninguém, eu já tinha a mim mesmo.

Hoje já tem noites que durmo sozinho pensando que é tudo bem dormir abraçado consigo mesmo.

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