A tecnologia na contramão do desenvolvimento intelectual

Anderson Dorneles
Pitaco
Published in
3 min readJun 29, 2018

Ter um smartphone em mãos durante as aulas ajuda ou atrapalha? Uma resposta simples para esta pergunta seria: sim, atrapalha. Porém, muitos estudos e pesquisas foram feitos para não tirarmos conclusões simplistas.

Por Anderson Dorneles

O uso de smartphones em salas de aula é um assunto tão sério que, no Brasil, por exemplo, tramita um projeto de lei na Câmara dos Deputados que procura proibir o uso de eletroportáteis durante as aulas. O projeto de lei n.º 2.246-a de 2007 visa banir a utilização de aparelhos portáteis sem fins educacionais, como celulares, jogos eletrônicos e tocadores de MP3, tanto nas salas de aula quanto em quaisquer outros locais em que estejam sendo desenvolvidas atividades de aprendizado.

Os smartphones estão em todos os lugares, hoje em dia muitas pessoas vivem em torno de aparelhos celulares. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2016, aproximadamente 116 milhões de pessoas possuem acesso à internet, o que é equivalente a 64,7% das pessoas com mais de 10 anos de idade no Brasil. Além disso, de acordo com a agência We Are Social, o Brasil tem 276 milhões de conexões via celular.

Os smartphones, além de realizarem ligações e trocas de SMS, também permitem que as pessoas acessem suas redes sociais, façam uploads de fotos, vídeos e naveguem na internet. Então, aqueles que detêm um aparelho deste tipo têm em suas mãos o tempo inteiro toda a sua vida digital. De acordo com um levantamento da We Are Social, os brasileiros passam cerca de 9 horas conectados à internet, ou seja, quase metade dos dias. Por ser pequeno e de fácil mobilidade, os usuários podem utilizá-los em todos os lugares de maneira discreta, inclusive durante as aulas, sem que os professores percebam.

O professor de neurorradiologia da Universidade da Coréia Hyung Suk Seo realizou um estudo com 19 jovens (com média de idade de 15 anos) que tinham dependência em internet/smartphone diagnosticada e com outros 19 adolescentes da mesma faixa etária que não possuíam dependência. Após analisar todos os 38 jovens e submetê-los a uma série de exames médicos, concluiu-se que os 19 que tinham dependência da internet tinham seus controles motores e emocionais muito instáveis comparados à outra metade, o que foi essencial para entender que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos pode comprometer a funcionalidade dos neurônios.

Se o uso exagerado de aparelhos eletrônicos prejudica a funcionalidade dos neurônios, consequentemente atrapalha o desempenho de estudantes universitários. A Universidade de Kent (EUA) realizou uma pesquisa com mais de 500 estudantes universitários para entender o fenômeno do uso de smartphones. Ao final do acompanhamento psicológico, análise de comportamento e monitoramento médico, os cientistas Jacob Barkley, Aryn Karpinski e Andrew Lepp chegaram à conclusão de que os alunos que utilizavam muito seus celulares tinham notas mais baixas que os demais, além de se mostrarem mais ansiosos e menos satisfeitos com suas vidas.

Como observamos, os smartphones trazem aspectos prejudiciais à saúde daqueles que os utilizam demais. No entanto, também é muito comum que nas salas de aula os alunos se distraiam com seus aparelhos, pois ao invés de prestarem atenção nos conteúdos ficam concentrados em suas redes sociais, fazendo com que não adquiram o aprendizado que está sendo passado e mergulhem ainda mais no universo digital.

Tudo que é consumido ou utilizado em excesso traz malefícios. Portanto, é primordial que se reflita sobre como estamos fazendo uso dos smartphones. Devemos nos monitorar e saber até que ponto utilizar aparelhos eletrônicos é algo benéfico. Precisamos acima de tudo entender que o motivo de estarmos em sala de aula é primordialmente um: assistir a aula, e não ser refém dos celulares.

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