Além da Universidade

Bruna Jacobovski
Pitaco
Published in
4 min readJul 3, 2018

A obra cinematográfica “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas”, publicado em 1985, aborda a vida de sete amigos recém formados na universidade. O primeiro projeto do diretor Joel Schumacher e seu primeiro grande sucesso. Schumacher tem 42 anos de carreira e um longo currículo de 29 filmes e duas séries. Dentre eles destacam-se “Tempo de Matar” (1996) e “O Fantasma da Ópera” (2004). Mais recentemente, em 2013, ele dirigiu dois episódios da primeira temporada da série “House of Cards”. Ele é reconhecido por algumas imagens surreais em suas obras, que são atribuídas ao seu envolvimento com bebidas e drogas no passado.

Apesar do longa-metragem ser de 1985, ele marcou época por quebrar padrões. Não só por tratar sobre a fase adulta dos personagens, mas também por mostrar que mesmo depois de formado pode não se ter plena certeza do que se quer para a vida, salientando que é um eterno processo de descobrimento. Com isso, acaba por provocar uma reflexão no espectador, de que nem sempre estamos convictos de nossas escolhas e que essa incerteza é mais comum do que imaginamos. Por conta disso, o filme também é muito comparado com a série “Friends”, embora ela trate o tema de uma forma mais humorística, enquanto o filme tenta focar mais a realidade cotidiana. Isso prova que a questão das dúvidas na vida adulta é uma discussão antiga, mas que ainda está em pauta.

Buscando se aproximar dessa realidade, a obra retrata como o grupo de amigos seguiu diferentes caminhos após o término da faculdade, entretanto, mostra que eles ainda possuem uma ligação com seus antigos hábitos. Essa rotina vivida pelos personagens é marcada pelas seguidas visitas ao bar da faculdade, o St. Elmo’s Fire, que inclusive dá nome ao filme na sua versão original, em inglês.

Um fator que o relaciona com outras películas e também com nosso cotidiano são os estereótipos dos personagens. Jules, papel de Demi Moore, é a tradicional patricinha, filha de pai rico, mas que não recebe a atenção necessária e acaba viciada em drogas. Além disso, ela se torna responsável por cuidar da madrasta, da qual nunca gostou e que está em coma. Alec, interpretado por Judd Nelson, é o nerd da história, que após a faculdade virou assessor de um político. Apesar de ter se “dado bem” ele vive um caos em sua vida amorosa e desconta essa frustração por meio de traições. Mare Winningham dá vida a Wendy que é a clássica personagem “bobinha”, uma garota doce e apaixonada por Billy, um babaca, interpretado por Rob Lowe. Billy só possui duas “qualidades”: tocar saxofone e magoar as pessoas ao seu redor. Existe também aquele personagem gente boa e amigo de todos que no caso é Kevin, interpretado por Andrew McCarthy. Entretanto, ele mantém em segredo sua paixão pela namorada do amigo Alec. Já a personagem vivida por Ally Sheedy, Leslie, é insegura porque ainda não encontrou a si mesma, tanto na sua vida pessoal, quanto na profissional. E por fim, Kirby, interpretado por Emilio Estevez, é o verdadeiro apaixonado, que acaba se tornando bobo e pensa até em trocar de carreira devido ao seu amor platônico. Apesar dos personagens serem estereotipados, o longa-metragem se propõem a dar certas quebras de expectativas em relação à vida deles e nos mostra que as hesitações vividas no período acadêmico não se encerram com a formatura, muito pelo contrário, além de permanecerem, para alguns se tornam realmente um problema.

De maneira geral as atuações são sólidas, de forma que nos remetem à mensagem que a obra quer passar. Todavia, a maneira como Demi Moore e os outros atores agem na cena em que sua personagem (Jules) tenta se matar por hipotermia a deixou menos realista. Poderia ter sido abordada de outro modo, pois a forma humorística como foi tratada acaba tirando um pouco da credibilidade do episódio e foge do contexto do filme.

As características da obra nos remetem à época em que ela foi produzida, e um exemplo disso é uma trilha sonora. Como melodias são marcantes e se tornaram clássicos como, por exemplo, a própria “St. fogo de elmo ”e“ Desta vez foi mesmo noite ”, de maneira que é possível escolher o filme que foi rodado. Outra marca de tempo é uma fotografia, incluindo os cenários utilizados, e também o figurino dos personagens, tanto quanto os penteados, são característicos dos anos de 1980.

Uma mudança significativa é o objetivo, porque o público pelo público é sempre uma solução para o problema, mas não o filme faz o oposto. Pois, o resultado final que será apenas o primeiro ano - com os primeiros problemas - que eles fazem durante o resto de suas vidas.

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