Dear White People: Existe sim, racismo na faculdade

Tamires Rodrigues
Pitaco
4 min readJun 27, 2018

--

O filme Dear White People (Cara gente branca como é conhecida no Brasil), premiado no Festival de Sundance em 2014, foi transformado em uma série de 10 episódios lançados na Netflix em 2017. Em maio de 2018, a sua segunda temporada chegou ainda mais impactante que a primeira. Anteriormente, já se tinha visto como o racismo está impregnado nos estudantes da Ivy League — Clássico campus norte-americano, predominantemente, branco –, com o episódio da festa temática blackface (bastante comum no século 19 onde pessoas brancas pintavam suas caras de preto de forma exagerada nos teatros dos Estados Unidos) e sua repercussão.

Os personagens são moradores de um alojamento exclusivo para negros, que nesta temporada está sendo dividido por pessoas brancas.

O diretor Justin Simien (também diretor de curtas metragens como Rings e Minhas Mulheres: Inst Msgs), teve uma impecável capacidade de transformar a realidade em ficção, com a utilização dos episódios para responder aos ataques que a série sofreu na sua estreia — acusada de racismo inverso — e com utilização de metalinguagem, para exemplificar com paródias os ataques e trazendo durante a temporada exemplificações de racistas.

O primor técnico e as questões de preconceito racial abrilhantaram ainda mais essa temporada de Cara Gente Branca (Dear White People). O seriado obteve uma evolução na sua identidade visual, fortemente inspirada nos ângulos e planos dos clássicos do cinema independente negro africano. Além da excelente atuação dos atores, que estão mais maduros na comparação com a temporada anterior, a série mostra uma evolução dos personagens que têm mais espaço nos episódios para expor sua narrativa. De forma cômica, o seriado discute o racismo de uma forma mais leve, mas deixando em evidência o preconceito que existe na universidade. Em seus episódios, a série traz contextos do passado (anos 1840,1930,1970) sobre a luta racial na Universidade de Winchester, como as sociedades secretas, exemplificações de comportamentos segregacionistas e como na geração contemporânea ainda há reflexos desse passado.

O protagonismo está mais dividido, Samantha White (Logan Browning) e seus cinco amigos trazem mais complexidade e intensidade para a narrativa, principalmente ao tratar sobre a desonestidade intelectual de quem faz discurso de ódio, disfarçado de liberdade de expressão.

Todos os personagens conseguem mostrar como o racismo, ainda que no sentido institucional, possui diversos desdobramentos. Nessa nova temporada são vistas histórias como a do personagem Reggie (Marque Richardson), que tenta lidar e superar o trauma de ver um policial apontando uma arma em sua cabeça, enquanto Joelle (Ashley Blaine) passa por uma situação delicada ao conhecer um rapaz negro, que após conversarem percebe-se que ele é um “hotep” (Uma expressão pró-negros que consideram “agendas” gays e feministas como ataques estratégicos contra a luta pela libertação dos negros). Outra situação de preconceito que essa temporada trouxe foi com o personagem Lionel (DeRon Horton), no episódio foi abordado questões muito delicadas do cotidiano do rapaz que ficam bastante em evidência ao serem mostradas em cena, como numa festa em que um rapaz diz não flertar com homens negros pois, segundo ele, são questões de preferência — esse é um exemplo de racismo construído socialmente, além de mostrar que as minorias sociais têm seus próprios preconceitos disseminados.

Alguns personagens até tentam se familiarizar com a luta contra o racismo. Um exemplo é Coco (Antoinette Robertson), uma personagem negra que tenta agradar a todos, principalmentes os brancos, totalmente o oposto de Samantha. Por ser uma personagem que se encaixa nos padrões, mesmo sendo negra, Coco obtém relevância na universidade e usa isso para fortalecer os grupos negros já existentes na instituição, de forma menos militante.

A personagem que une todo o elenco negro da série é Samantha. No seu programa de rádio “Cara Gente Branca”, Samantha faz monólogos expressivos contra racismo e fala sobre o cotidiano do negro na universidade. Nesta temporada, Samantha tenta lidar com problemas familiares e amorosos que vão se desenrolar ao longo dos episódios. Além de sofrer ataques racistas de haters nas suas redes sociais, e durante os episódios é visto como isso afeta a personagem e quem está por trás dos ataques. Entretanto, essa segunda temporada traz um suspense para o telespectador, ao mostrar signos e evidências ligadas às sociedades secretas universitárias, lideradas por estudantes negros da época.

A última cena da temporada deixa suspense no ar, motiva um questionamento para o telespectador sobre a identidade da pessoa que aparece no final. Além do suspense, o telespectador fica ansioso para a próxima temporada.

--

--