Indígena Originário Nativo Tradicional da Terra Pindoramista de Aby Ayala

Em fluxo livre, novo ensaio do ator, diretor e dramaturgo Adanilo enfoca o ser e a identidade dos povos originários, o direito à terra e as mazelas políticas da nossa triste Pindorama

Pitiú Textual das Artes
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5 min readAug 28, 2021

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Adanilo. Foto © Diego Pascal

23 de Agosto de 2021

no século em que Projetos de Leis são caravelas navegando em nossa direção. normas regras generalizadas em prol da destruição. projetos sem projeção, sem prospecção, sem proteção, sem diálogo com o orgânico. a organicidade. as organizações que estão aqui têm tantas eras que já foram seres de água de terra, de luz de sol, criaturas antes de sermos humanos. desumanos são. desumanização. mas não. já não vai ser a lei do mais fraco a beneficiar beneficiários. quem somos nós os benfeitores não tão bem estruturados pela cultura do não-daqui? quem somos nós, que seguimos sendo as veias dos braços dos rios? nós, que da tentativa de nos apagar no nosso chão, brotamos feito as plantas de sempre. e a questão é: indígenas são as plantas do sempre.

já autodeclarado, eu, possivelmente descendente de um povo original. originalmente originalidade autopesquisada. eu e mais quantas pessoas têm o sangue pintado de urucu no brasil. e mais: brasília? brasilidade? brasileiros? paus-brasileiros, pombas brancas de paz mal-fudendo o que viria a ser país. pátria. padre. catequizar obrigatoriamente, impor e te empurrar à força conscientemente aos inconscientes a consciência de um cara branco barbudo pregado em paus. sendo que o cara era preto. evangelizar angélico. que nossos deuses nos defendam, e pelo amor das deusas. respeitem nossas etnias, a diversidade da pluralidade. o infinito, as tradicionais tradições. fora suas traições e traduções. estamos justamente onde estão nossas vozes agora sempre estiveram. você é o eco da alegria dos festejos de seus parentes, parente. e o bem viver tá logo ali.

mas, sem compensação, república federativa para matar gente indígena e preta. mas não, bando de desgraçados sem coração sem corpo. malditos escrotos, que vossas trajetórias vos condenem. das tuas existências não sobrará nem o pó que tu cheira. as palavras, nas histórias, te serão espelho às chicotadas, tiros, as bombas, o fogo. cada árvore que tu e teus comparsas puserem ao chão, um pesadelo pela escolha que tu fizestes, espírito esfacelado. ecogenocídio. te fode aí, segura tua onda de dejetos mineralizados. grandes poderes trazem grandes impossibilidades: não sejas feliz, atual presidente, tu, teus filhos, teus ministros, tua politicagem, que os venenos do planeta te busque, te ache. te faz de doida que o pau te acha, bolsa, nora. desembolsa, desembucha, dizimado. pelado, pelado, não tira a mão do bozo. pouco engraçado o que passamos sinceramente.

ouro, gado, soja. ou seja, não teríamos que ser a peste do mundo pessoal. nos toquemos, tomemos em conta. respira e se esforça, se toca. fecha os olhos e sente a força natural. ainda temos tempo de fazer. bora, caramba, bora lá. reconhecer a importância da pajé da aldeia. dos traços. encontremos o caminho para a construção de um lugar valorizando e conhecendo os habitantes mais antigos de norte a sul deste país. pais, ensinem suas crianças as histórias indígenas, procurem saber de onde vem sua família. ensinem que indígena é como podemos aceitar que nos chamem, mas nem é o correto. eu não vim da índia, eu estava aqui o tempo todo e só você não viu. vamos. se entendermos as conexões da resistência que nos aterram aqui. sejamos, tentemos. comer as frutas que plantamos, plantar sementes sentimentos que nos alimentam. começando por aqui, por se entender parte do todo, seguindo ser parte de todo. vibrar cada vez mais amplificados os sons das manhãs das noites tardes em si. poetizar a poética do piegas voo da borboleta. parar. no ar. deixar sair os jaguaretês cruzar as estradas. não fazer estradas. não voar de avião? não voar. pausar um pouco, resetar. acho que precisamos parar. um pouco. não se deixar consumir. não queremos mais ser parados à base de bala. não pise nas flores que crescem todos os dias em nossos corações. não nos deixem essas tristes feias marcas desses marcos temporais. não nos ameacem com estes temporais, se nos protegem as entidades raios, se trovão são conversas que temos com os céus, se nascemos da chuva, não preciso de posse.

se eu demarquei, junto de meus familiares mais longínquos, cada rastejo de cada cobra cobra do solo vida selvagem. se me ofende selvagem? a selva salva a floresta reflorestando tudo de novo. repensando a teoria: se a humanidade deixasse de existir, a natureza tomaria de conta de tudo de novo em cem anos. repensando a humanidade: se a gente refizer todas as teorias da humanidade, em quantos anos seremos de novo a mata? rio.

ah, a educação poderia incluir matérias afro-originárias no ensino de nossas criações. desde pequeno, instruídes a conhecer nossas localidades, nossas regiões, nossos continentes. nossa visão mais tempo acostumada ao nosso pulsar eterno. injetar ricos conteúdos sobre a amplidão do que é mais velho nosso. nossos hábitos. habitar de fatos nossas mentalidade do hoje em diante do hoje de ontem. ancestralidade futurista já.

já pensou em todos os tipos de felicidade dos milhões de ancestrais que me formou? olha nos meus olhos. todas as almas-corpos. todos os pensamentos, futuros e passados.

I S O L A D O S.

desfrutem das distâncias naturezas entre nós e quem escolheu não querer saber de nós. não teríamos mais que comer carne, né? não desse jeito? você quer caçar? não consumir tanta farinha branca, tantos milhões, explorações monetárias, mau uso das águas minerais, poluição contaminação corrupção. a gente corrompeu os arquivos do planeta. reinicia, doido. isoladamente temos algo ainda para aprender. não evoluir mais tecnologicamente. é necessário? tecnologia velocidade acelera a merda toda. não rompamos ser essa grande fossa que estamos cavando para nós mesmos, o mundo. a internet, isso. Tentemos!

mas não, invoquemos sim o nosso levante pela terra. Desperte!

“as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes”.

é o que rege, a legislação do existir.

mas não, é muito mais. é a realização do sonho de ver nossas áreas territoriais evoluídas sem a invasão. imagino as nossas guerras internas, nossa evolução independente e cuidadosa, nossa própria loucura. me sobe o ódio pensar no desleal que foi batalhar com vocês. retomo. digo não às tuas ideias e teus ideais. regresso. que um vento te traga regressões, tu, que não lerás isto, talvez, o responsável da cagada que se anuncia. tu, eu quero aprender contigo o que não fazer. tu me faz ser melhor. sou melhor com quem é. eu busco ser sou. ser indígena originário nativo da terra pindoramista de aby ayala.

Adanilo. Foto © Diego Pascal

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