SÉRIE PITIÚ: PANDEMIA E JOVENS ARTISTAS DE MANAUS

Dimas Mendonça: ‘Parte de mim espera pela passagem da pandemia; a outra me movimenta, me inquieta’

Pitiú Textual das Artes
Pitiú Textual das Artes
14 min readMar 14, 2021

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A pandemia de Covid-19 promoveu uma espécie de suspensão no curso das coisas, como se o sinal tivesse passado ao vermelho e só restasse parar e aguardar a luz verde. Se para alguns essa pausa forçada é bem-vinda, para outros, todavia, ela traz uma inquietação diante da imobilidade. Entre esses se inclui o ator e performer Dimas Mendonça, para quem o isolamento social e as outras restrições do mundo em pandemia de hoje trouxeram um desejo ainda maior de vivenciar esse mundo e suas possibilidades.

“Em mim, muda tudo. Me faz viver mais intensamente as experiências ao meu redor, expandir as possibilidades, me relacionar com o outro, questionar mais o que acredito, minhas seguranças, voar ainda mais, me cuidar ainda mais na saúde, no aprender outros saberes”, afirma o ator da peça “Tartufo-me” (2018). “Mesmo sem sair de casa, mesmo sem recursos, uma parte de mim espera pela passagem da pandemia; a outra me movimenta, me inquieta, me atenta”.

Em entrevista ao Pitiú Textual das Artes, como parte da “Série Pitiú: Pandemia e Jovens Artistas de Manaus”, Dimas comenta que a pandemia, como a todas as pessoas, impôs mudanças profundas também no seu cotidiano: “Precisei sair da casa de meus pais, precisei cuidar da minha saúde, precisei ir pra longe, precisei estudar mais, ‘produzir’ de um jeito como nunca quis, rever algumas verdades empoeiradas sobre ser Artista, sobre ser cidadão do mundo, sobre espiritualidade, sobre sexualidade, sobre minhas emoções. Precisei ver a vida por minha conta e risco”.

Para o artista, a pandemia evidenciou realidades já existentes, como a da desigualdade social, ao mesmo tempo trazendo a nova realidade das tecnologias de comunicação que se impõem como mediadoras da experiência social. Essas realidades e as reflexões que elas demandam, por sua vez, afetam a criação artística, na visão de Dimas.

“Muda os modos de ver o mundo, a humanidade, logo, muda o modo de propor as cenas, muda estética, muda a forma. Parte dessa mudança está, inevitavelmente, ligada às plataformas de transmissão. E pensar o sentido de presença, de corporalidades, de interação, de afeto, de conexões para além do conhecido, tornou-se um grande desafio e material”, avalia.

Na entrevista ao Pitiú, Dimas fala ainda sobre política cultural e políticas de auxílio emergencial, sobre ser artista em tempos de pandemia e sobre seus sonhos. Aqui ele relata o sonho de um mundo (“MundA”) possível, que começou no sono e seguiu no despertar ganhando escala de utopia. “Sonho de MundA possível em breve, onde você quiser e decidir!”

Confira o relato do artista e mais na íntegra da entrevista.

Dimas, qual sua idade?

Subjetivando: tenho muitas idades, em muitos corpos diferentes, vivendo tempos diversos. Mas a idade deste corpo, neste tempo, é de 33 anos. Segui a tradição cristã e me dei em sacrifício ao chegar nessa idade. E não paro de ressuscitar a cada dia. Amando.

Como você está se virando pra sobreviver economicamente nesse período da pandemia?

Sempre tive minha primeira família (pai, mãe e irmãos) como apoio financeiro, enquanto estudava e arriscava os primeiros passos como Artista. Concordando ou não, acreditando ou não, sempre foram eles os que me seguraram por muito tempo. Agora me alio a outras famílias, outras forças, outras relações, e me arrisco a outros modelos de sobrevivência. Além de apoios financeiros de amigos que investem em algumas produções que tenho proposto, estou beneficiário do auxílio emergencial do “governo” federal e tentando recursos possíveis de editais emergenciais. Apesar de alguns gestores culturais (culturais! Pasmem!) reproduzirem discursos elitistas, meritocráticos, sobre não tornar os editais deste momento, assistência social. Abutres. Que se fodam.

O que esse período pandêmico afetou seu cotidiano? E no que te intimidou?

Me afeta em tudo. Me intimida em tudo. Eu estou sempre intimidado. Eu cresci rodeado de medos, monstros e demônios que me deixavam intimidado até por relâmpagos. Em outras épocas, num estado de pandemia como este, eu estaria em pânico, orando, me preparando para chegar no céu puro e santo. Mas tenho me livrado desses demônios e promessas e me atentado ao que está diante de mim. E o que encontrei nesse momento foi que precisava tomar as rédeas de algumas decisões sobre mim, precisei sair da casa de meus pais, precisei cuidar da minha saúde, precisei ir pra longe, precisei estudar mais, “produzir” de um jeito como nunca quis, rever algumas verdades empoeiradas sobre ser Artista, sobre ser cidadão do mundo, sobre espiritualidade, sobre sexualidade, sobre minhas emoções. Precisei ver a vida por minha conta e risco. E precisei ficar trancado em casa por longos meses (ainda estou). Usar máscara, lavar mais as mãos. Pedalo desesperadamente, por muitos quilômetros, ouvindo música clássica, funk, samba, carimbó, MPB… Precisei olhar mais para o entorno, me ligar mais nos problemas que antes, eram só dos outros. Passei a assumir esses problemas como meus, ou pelo menos, atento à existência deles. Antes eu me afetava por tudo, demais, mas só pra perturbação. Agora me afeto ainda mais, só que com algum equilíbrio e procurando ser prático ao que fazer com tudo isso. E encarando a possibilidade de não saber ou ter o que fazer por tudo sempre.

Mas atenção: a Pandemia não fez isso tudo acontecer em mim. A pandemia chega nesse momento, quando esse movimento em mim já acontecia há alguns anos. Penso que a vida não para pra capítulos e episódios, separando momentos. Eles se somam, se alimentam, se devoram, acontecem constantemente. A vida é um caos ininterrupto. A gente precisa aprender a fazer tudo em alguns momentos, e em outros desaprender, não fazer nada… uma confusão. A pandemia é, dos caos, o mais dramático, sem dúvida. O número diário de mortos pelo vírus, no mundo, no Brasil, deveria afetar a todos os seres humanos, intimidar todas as nossas decisões e atuações.

Arte de Dimas Mendonça. 2020.

A pandemia tem afetado economicamente você?

Viver como Artista, num país governado por um grupo de pessoas que se preparam para encontrar um velhinho de barba branca, numa nuvem em um céu azul, e obrigam todos a essa mesma espera, é algo que destrói qualquer outra economia, que não a dos dízimos, ofertas e sonegações. Com a pandemia, a situação piora. A possibilidade de encontro com o público, nas ruas, nas salas, dificulta a apresentação de obras artísticas, em que estar junto, corpo a corpo, é necessário. Diminui as possibilidades de ganho financeiro. Não há teatros abertos, programação de espaços culturais, não há ajuntamento da população nas ruas, para apresentações públicas, onde o chapéu já ajudou muito em outros momentos. Alguns editais foram cancelados, de onde eu esperava recursos. Outros foram criados. Tem ajudado. Algumas soluções virtuais, em plataformas digitais têm sido propostas. As perspectivas conhecidas, de ganho, desaparecem, e surgem outras, que precisam de um tempo, até que se provem positivas e possíveis. Vale estar aberto e vivenciar esse momento, com tudo de traumático que ele traz.

Em que a pandemia mudou seu modo de encarar o mundo?

Para alguns, esse momento significa se fechar ainda mais numa religião, numa família, numa bolha de proteção e em um emocional cada vez mais pressionado por uma única ideia de direção. Como se nada tivesse sentido, relevância, duração, segurança, e o melhor fosse se preparar para deixar este mundo e esperar. Somente esperar. Isso acontecia antes da pandemia, afastando as pessoas da luta social, dos questionamentos e posicionamentos de mudança. Em mim, muda tudo. Me faz viver mais intensamente as experiências ao meu redor, expandir as possibilidades, me relacionar com o outro, questionar mais o que acredito, minhas seguranças, voar ainda mais, me cuidar ainda mais na saúde, no aprender outros saberes. Ouvir outros corpos que não os parecidos com o meu. E sim, saber que tudo pode acabar a qualquer momento, para todos, em todo lugar. Mas em estado de espera, eu não estaria disposto a ficar. Mesmo sem sair de casa, mesmo sem recursos, uma parte de mim espera pela passagem da pandemia; a outra me movimenta, me inquieta, me atenta.

Você acha que a pandemia é consequência de quais fatores?

Pergunta difícil. Cada grupo no mundo tem uma resposta que cabe em seus discursos de convencimento e salvação da humanidade. Para parte da ciência, é um fato da mais perfeita normalidade no universo biológico, que sempre aconteceu e sempre vai acontecer. Para outra parcela, a destruição das florestas, rios, povos originários, espécies de animais, aquecimento da atmosfera, favorecem o aparecimento desses corpos de vírus que, tendem a se tornarem mais frequentes. Tem os religiosos, que veem em mais uma pandemia, mais um castigo de um deus desses, que não aguenta mais tanto pecado. Eu acredito que a vida na Terra está sujeita, sim, a constantes momentos como este, por motivos corriqueiros na estrutura física, biológica. Acredito que a destruição dos ecossistemas naturais (humanos, animais e vegetais) favorecem em muito, momentos como esse. E acredito também que a natureza, o universo, a vida, nos dá oportunidades pra aprendermos, pra evoluirmos, pra mudarmos nossas relações e modos de vida. Em castigo… eu não acredito mais. Em deuses… acredito em todos. Deusas. Presentes em cada corpa de cada espécie sobre a terra. Amém. Amém muito.

Arte de Dimas Mendonça. 2020.

Muitas mortes, muitos enfermos, muitas pessoas contaminadas pelo coronavírus, mas as pessoas continuam se comportando como antes da pandemia. Precisaria de Lei, multa para quem não usa máscara nas ruas? Não bastaria o sentimento de Amor coletivo e de Afeto pelo Outro?

Refletindo na questão, penso que pode não existir “sentimento de amor coletivo”. E sobre “afeto pelo outro”, só quando esse “outro” mora na mesma casa, é do mesmo sangue, crença e faz o que quero. Num momento específico como este, a criação de leis dá abertura para decisões que, em outros momentos, seriam abusivas e inconstitucionais. Alguém com competência jurídica precisa vigiar de perto. Decisões que ajudem a minimizar os efeitos da pandemia. Penso que o ser humano é um animal em aprendizado constante. Já usamos as ruas como banheiros. Já comemos animais recém-abatidos, e morremos por isso. E fomos aprendendo a sobreviver mudando hábitos, costumes e modos de ver cada situação. E em algumas pessoas, isso leva mais tempo. Vale sim uma lei, uma multa, advertências e o exemplo de outra parte da população, que já aprendeu a usar a máscara. Depois, aprendemos, e se torna mais naturalizado no dia a dia. Tem gente que é difícil… atrasa o caminhar pra frente da humanidade… emperra… faz birra… resiste… acha que homens são líderes e mulheres auxiliadoras, que afrodescendentes são inferiores, que povos originários são preguiçosos, que eu posso falar por essas pessoas, que minha vontade está acima da vontade dos outros, que meu deus é melhor e mais verdadeiro… um porre. Mas a gente vai aprendendo. Ou não?

Em relação às questões sexuais, em que a pandemia afetou?

Em nada. As questões sexuais já estavam em movimento há muito tempo. E seguem acontecendo. Se libertando, experimentando, vivenciando. Por sorte, fora das plataformas digitais. Aff…

E no que tange sua arte, qual o impacto da pandemia no seu ofício? Mudou?

Mudou muito. Primeiro, reconhecendo o privilégio de ter tempo, espaço, comida e saúde para ler, estudar, quando tantos precisaram se sacrificar pra terem o que comer, nas ruas, sem chance de escolha. Foda. Pensar em tudo isso afeta a criação artística. Ouvir artistas mais velhos, de outros períodos, vivências. Obras que foram pensadas em contextos semelhantes. Cursos que discutem essa fase. Muda todo pensamento crítico que acompanha a criação. Muda os modos de ver o mundo, a humanidade, logo, muda o modo de propor as cenas, muda estética, muda a forma. Parte dessa mudança está, inevitavelmente, ligada às plataformas de transmissão. E pensar o sentido de presença, de corporalidades, de interação, de afeto, de conexões para além do conhecido, tornou-se um grande desafio e material.

Arte de Dimas Mendonça. 2020.

Quanto à Lei Aldir Blanc, ela não pode ser uma armadilha do governo Bolsonaro, como uso eleitoreiro? Ou melhor, você não acha que ao invés dos artistas aceitarem a existência dessa Lei, nós não deveríamos é nos rebelar e insurgir contra esse governo com fortes tendências fascistas? Essa Lei não é uma maneira de nos silenciar, nos cooptar, nos fazer colaborar com esse governo autoritário e com os políticos corruptos, que nos bastidores compactuam com as decisões do governo; decisões que precarizam e subalternizam as vidas de nós artistas trabalhadores?

De novo, esse “governo” é sobre preparar a população para encontrar “deus” nas nuvens brancas, sob um céu azul (Antes fosse! É sobre poder. Sobre dominação econômica. E para isso, vale qualquer estratégia. Até abusar da fé das pessoas). Nisso, não tem apoio às culturas, artes e expressões que não fortaleçam essa espera por “deus” (Aqui, deus é apenas estratégia de dominação e controle). A intenção é criar movimentos de resistência a esse “governo”, insistindo em pautas progressistas, mesmo contra a ideologia do mesmo. A criação da lei, a aprovação e apoio, é parte dessa maneira de resistir. Legal. Eu adoraria ganhar uma parte desse recurso para atravessar esse período, junto com colegas. Aproveitar para assegurar o que é direito de todos. Todos os que se dizem “artistas” e produtores, desejam o mesmo. Alguns com um pouco menos de pudor. Quantos de nós, antes dessa fase de emergência e crise sanitária, social, econômica, questionávamos as “soluções” oferecidas pelo Estado? Quantos de nós se dispuseram a não aceitar um recurso público, por discordar dos princípios do Estado, governando naquele momento? Quantos de nós não foram vencidos pela necessidade básica e urgente, imediata, sem tempo pra debater outras soluções? Quantos de nós, independente da situação global, local, só queremos manter nossos pequenos luxos, dispostos a qualquer negócio para isso? Quantos de nós… vivemos indiferentes ao social, ao que grita do lado… apenas aproveitamos os momentos, as circunstâncias, para nos projetarmos com temas, corpos, ideologias, movimentos de resistência, discursos identitários, para não parecermos atrasados e descontextualizados? Tudo para não ficarmos longe dos recursos. Quantos? Não sei quantos! Mas pela pouca visibilidade de movimentos contrários, parece que somos muitos. Os que só acham incrível ter uma lei, um recurso, seja de quem for, para manter a porra da minha “arte”. A onda corporativa que tomou conta da produção artística (Produção??!) no país sugere que não tenhamos inimizades, discordâncias, desafetos. Pois todos são investidores em potencial. Você vai precisar de todos, em algum momento. Sugere que silenciemos nossas angústias, nossas lutas, nossas reclamações, pois não pegarão bem na hora de pedir recursos. Ah… só se todo mundo estiver falando da mesma coisa, e o discurso progressista já estiver unânime. Aí os “empreendedores culturais” estão liberados para reproduzirem as mesmas falas e parecerem “cools”, “daora”. Meu cu.

Com a pandemia, você sentiu que tem mais responsabilidades com você, seu ofício artístico e com o mundo/Outro?

O ofício artístico sempre foi um lugar de tensão, questionamento e insegurança pra mim. Nunca foi de conforto, certeza, comodidade. Por várias razões e situações. E tive o privilégio de encontrar Artistas mais velhos, alguns mais jovens, que se perguntavam mais que respondiam. Me confundiam e ainda confundem. E isso é mel pra mim. Amo muito esse lugar. Então, esse questionamento sobre as responsabilidades do “ser artista”, do “criar”, esteve sempre presente. Vai além do “sempre sonhei em ser artista”, vai além do “amo a arte”. Pensar esse lugar com o máximo cuidado e buscar entender “Pra Quê?”. Por que fazer o que quero fazer, por que quero, como quero. A pandemia acentua essa atenção sobre o que é necessário. Os espaços fecharam. Alguns faliram. Alguns “artistas” mudaram de área. Outros, precisaram aprender outros meios de sobrevivência financeira. Os que ficaram, precisaram se adaptar. Outros podem esperar e esperam. Outros se perguntam. É um movimento no mundo, na humanidade, que não passa sem deixar marcas profundas. Mas terá os que fingirão que nada aconteceu, e voltarão a propor as mesmas soluções, os mesmos corpos, discursos e valores.

Arte de Dimas Mendonça. 2020.

Você tem sonhado muito nesse período pandêmico? Se sim, poderias nos narrar um sonho que te impressionou, nesse período…

Se eu pudesse eu só apagava. Sem sonhos. Me dá um nervoso essas viagens da mente, que não controlo. Sou controlador. Não poder controlar a “mise-en-scène” do meu próprio sonho é traumático. Por isso, costumo lembrar muito pouco dos sonhos. Mas juntando tudo, tenho sonhado mais, sim. No geral, pessoas do passado, sinalizando reaproximações. Familiares. Colegas da atualidade inventando coisas. Poucos pesadelos. Graças. Outro dia me apareceu Selma Bustamante… pode?! Prometendo acabar com as religiões e deuses alienantes, e com o exército brasileiro. Nem de longe ela quieta. Peguei o costume de procurar significados nas imagens que me chegam nos sonhos. Das que lembro. Os sonhos acordados, onde controlo mais, têm sido empolgantes. Deixo pra pergunta seguinte.

Alguma proposta “utópica” para a construção de um mundo possível (respeito à natureza, ao diverso, aos gêneros, ao planeta, aos artistas, aos pobres economicamente)?

Sonho todos os dias com revoltas populares. De libertações. De empoderamentos. De revoluções. De desordem e “IMprogressão”. Sonho com corpos livres de dogmas, medos, padrões, modelos, preconceitos. Sonho com mentes livres de direções únicas e absolutas. Sonho com um mundo onde as plantas e vegetais brotam do concreto e o tomam por inteiro. Invadem as ruas, o asfalto. Onde proliferam os rios. Sonho com alimentos brotando em todo lugar, independente de quem possa pagar por eles, ou não. Sonho com o momento em que o deus propagado pelo mundo e pelas gerações, que diz que o homem domina sobre a natureza, que diz que só existe um caminho, que o pecado nos separa do divino, que existe pecado, que há pessoas de maior valor que outras, que ele castiga e condenará os maus e recompensará os bons, que inventou anjos e demônios… que suporta o sofrimento humano, só pra nos ver aprendendo suas regras… sonho que esse deus morra! Que morra logo. Que desapareça. Que vá pastar em outro pastoreio. Outra galáxia. Que vá para o diabo (que ele mesmo criou) que o carregue. Amém! Amem muito!

Sonho com um mundo onde deus, seja deusa, seja ela em todos nós. Seja múltiplo, infinito, sem começo, sem fim, sem gênero, sem um único corpo, sem uma única voz, sem verdade nenhuma. Sonho com um mundo onde as regras são outras, os modos são outros. E sim… com respeito às NaturezaS, aos Diversas e Adversas, às Gêneras e Gênias e Genitais, às Planetas e Interplanetárias, às Artistas e Ardidas, às Pobres de economias diversas, mas nunca adversas. Sonho com um mundo onde só se use artigo A! E nos afeminemos TodAs.

Sonho que não tô sonhando e que em breve, em cena, numa outra cena, em outrAs espaçAs, com outras formas de relação e interação, nossas peças e artes empoderem essAs outrAs mundAs sonhadAs, alimentem essAs mundAs, deem corpA a elAs e proliferem toda sorte de boAs sentimentAs, afetAs e haja muvuca gostosa no mundA. Muvuca de amores, de artes, de poesias, de um concreto que não caia sobre nossas cabeças e nos massacre por gerações… mas um concretA que beneficie a todAs. Sem privilégiAs a que A outrA não possa ter acessA também!!!!

(Sonho de MundA possível em breve, onde você quiser e decidir!!!)

Arte de Dimas Mendonça. 2020.

P.S.: EssAs mundAs começam com o reconhecimento, para além das redes sociais, de que este desgoverno sob a desliderança de Jair Messias Bolsonaro, é um crime contra a humanidade. Um desgoverno que favorece a morte, a desigualdade, a destruição de tudo que é essencial para novAs mundAs. A destruição de tudo que é diferente. Reconheço que o diferente, o estranho, fora do padrão, incorreto, um não cidadão de bem, um violentador, um genocida, um atraso, um assalto, uma vergonha, é este desgoverno. E tudo que representa. E não nossas corpAs e identidades. Somos únicAs. Incríveis. PoderosAs. BelAs. A exceção é elE. E todos elEs!!!

Dito isto… Reconheçamos o peso e a dor que é ter 100.000 famílias chorando a perda de familiares e amigos , nesta pandemia. São 3.000.000 de casos confirmados. 100.000 mortes (em janeiro de 2021 já eram mais de 200 mil mortos de Covid-19; uma “gripezinha”, como disse o Presidente Jair Bolsonaro). Numa epidemia que chegou ao país depois de outros, que foi recebida com piadas e minimizações por parte do governo federal, e que encontra resistência até hoje do poder público em assumi-la como prioridade, priorizando a vida de seus habitantes, ao invés do poder econômico de alguns poucos empresários que controlam a economia do país. Poderes estes que contaminam a opinião pública com disseminação de notícias falsas.

Vergonha. Desprezo.
Que seja julgado e condenado por crime contra a humanidade.

E aprendamos… sempre aprendamos.

A paz seja conoscAs!

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