XI Festival Amazonas de Dança

Francisco Rider da Silva
Pitiú Textual das Artes
7 min readSep 18, 2023

Curadores do XI Festival Amazonas de Dança (XI FAD) compartilham inquietações e ruminações: Adriana Goes, Francisco Rider e Rodrigo Vieira

Francisco Rider, Adriana Goes e Rodrigo Vieira, curadores do XI Festival Amazonas de Dança, 2023

O processo curatorial ocorreu com encontros de 14 a 18 de agosto (turnos matutino e vespertino), no Palácio da Justiça, e o XI FAD de 26 de agosto a 02 de setembro, sob a coordenação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o Fórum Permanente dos Profissionais de Dança do Amazonas e a AADC. É importante enfatizar que pela primeira vez nos onze anos de existência do FAD foi criado (uma iniciativa da curadoria), antes mesmo do processo curatorial, o Grupo de Estudos: curadoria/curador com o objetivo de discutir sobre o que é ser curador; o que é uma curadoria; quais questões são importantes para propor escolhas curatoriais, entre outras inquietações que aos poucos fomos compartilhando no grupo, assim, criando-se uma interlocução muito rica e importante antes mesmo do processo de escolhas dos artistas, grupos e companhias que iriam compor a programação oficial do XI FAD. Esperamos que essa metodologia tenha continuidade nas próximas edições do festival, pois a mesma faz com que os componentes da curadoria, a priori, troquem suas ideias, suas práticas, seus conhecimentos e suas impressões, que certamente alimentam o fazer curatorial e cria entre os curadores um ambiente de confiança e respeito durante todo o processo.

Adriana Goes. Foto: Rodrigo Tomzhinsky

Adriana Goes é bailarina-intérprete do Corpo de Dança do Amazonas (CDA) desde a sua criação em 1998, sob a direção artística do coreógrafo, bailarino e mestre de dança Joffre Santos (1965–2020). Coreógrafa e professora de dança amazonense, tendo sido docente de dança na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Além disso, foi professora de técnica de dança clássica e contemporânea e assistente de coreografia do CDA entre 2008/2029. Goes iniciou sua trajetória nas linguagens corporais com a ginástica rítmica. É graduada em Dança pela UEA. Segundo a artista, desde inquietações e pesquisas acerca do universo feminino e o diálogo entre a dança contemporânea e outras linguagens artísticas, que ela vem cultivando diversas experimentações. O episódio “Floresta”, de seu projeto Fresta, que aborda o imaginário feminino, foi selecionado e participou do Blanc Festival de videodança e festival Internacional Cuerpo a Cuerpo 2022/Sector Danza Cusco (Peru).

Francisco Rider. Foto: Leo Scantbelruy

Francisco Rider artista pesquisador amazônida que desde 1980 está envolvido com as artes. É doutorando em Artes Visuais (Poéticas Visuais), pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Letras e Artes Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas (PPGLA/UEA). Especialista em Gestão Cultural pelo SENAC-SP. E obteve o aperfeiçoamento artístico (Bolsa CAPES/MEC), na Movement Research (1996–1998, NY). Como artista performer atuou em várias montagens cênicas premiadas, como “Low”, da artista nova-iorquina Donna Uchizono, premiada com o importante prêmio The Bessies/The New York Dance & Performance Award (2002). Em NYC apresentou seus trabalhos cênicos em espaços dedicados às artes contemporâneas, como: The Kitchen, Performance Space 122, Here Art Center, Judson Chruch, Dixon Place, Improvisation Festival NYC, entre outros. É cocriador, com Jony Clay, do site Pitiú Textual das Artes, premiado com o Prêmio Conexões Culturais 2017, e nos últimos anos pesquisa processos criativos nas artes cênicas, nas artes visuais e performance/corpo/cidade. Em 2009/10 foi selecionado e contemplado com o Rumos Processos do Itaú Cultural de São Paulo. Em São Paulo, nos anos 90, fez aulas com: Célia Gouvêa, Ismael Guiser, Ivonice Satie, Marilena Ansaldi, Susana Yamauch, Penha de Souza, Liliane Benevento. Na cidade de Nova Iorque participou de aulas e workshops com os artistas: Sarah Pearson, Simone Forti, Deborah Hay, Ruth Zaporah, David Zambrano, Steven Paxton, Trisha Brown, Stephen Petronio, Jeremy Nelson, Ori Floming, Jennifer Monson, Eiko/Koma e Yvonne Meier, entre outros. Em Manaus, nos anos 80, fez aulas de dança e teatro com Beckinha, Joffre Santos, Joãozinho da Trigueira, Wagner Mello, Conceição Souza.

Rodrigo Vieira. Foto: Victor Venâncio

Rodrigo Vieira é artiste manauara, com mais de 25 anos de carreira, e pessoa não binária. Bacharel em dança pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Possui um currículo extremamente diversificado, tendo feito trabalhos como bailarine, professore, diretore técnica e artística, curadore, produtore, coreógrafe, entre outros, que lhe renderam diversos prêmios em festivais regionais, nacionais e internacionais. Atualmente é bailarine do Corpo de Dança do Amazonas e idealizadore/fundadore do projeto Corpa em Voga, que coordena iniciativas decoloniais de pesquisa e formação em artes cênicas no Amazonas.

As ruminações e inquietações textuais que serão lidas no decorrer desse texto são de Adriana Goes, Francisco Rider e Rodrigo Vieira, num processo de escrita colaborativa:

Acredita-se que uma das funções principais do curador é a pesquisa. O ofício de curar deriva de uma formação interdisciplinar e debruça-se sobre as mudanças comportamentais da sociedade. Assim, o curador também é integrado à criação através dos discursos que propõe, sendo um profissional que, como artista, também tem o direito à liberdade de pensamento, de expressão, mas que deve fazer uso público da sua reflexão a qual precisa ter um sentido que, indiretamente, esteja ligado à história e à
vida política

“E Se”, de Will Cruz (Maués) no XI
“Peito-Vermelho”, de Benner Siqueira no XI FAD
“Oná”, de Eduardo Cunha no XI FAD

Assim, várias inquietações nos ruminam e queremos partilhar com a comunidade da dança e com o público em geral. Inquietudes sobre questões que muitas vezes são soterradas ou invisibilizadas nas conversas sobre a linguagem da dança e do próprio fazer dança no Amazonas: o que é ser um CURADOR de dança em Manaus/AM; FETICHE nas artes; ausência de REFERÊNCIAS não coloniais nas artes e na cultura; movimentos artísticos PERIFÉRICOS; novos SABERES artísticos culturais; perspectivas DECOLONIAIS; EPISTEMOLOGIAS (artísticas) do sul; ANCESTRALIDADES; corpos “INDESEJADOS”; intelectuais e artistas AMAZÔNIDAS; HEGEMONIA nas artes; o corpo PRETO e o corpo INDÍGENA na dança cênica local; o que é ter SUCESSO nas artes?; artistas do NORTE da PERIFERIA DA PERIFERIA…; HETERONORMATIVIDADE cristã branca nas artes; DECOLONIZAR ideias embranquecidas; CONTINUIDADE no fazer artístico; CENTRO/PERIFERIA; INCLUSÃO estética nas linguagens, nas metodologias, nas semioses; ; SUSTENTABILIDADE nas artes; e arte/economia/NEOLIBERALISMO

”Curupiara”, de Bianca Marques no XI FAD
“A Temporada de Ganga”, de Patrick Hernandes de Souza Assunção no XI FAD
“As Cores da América Latina”, da Panorando Cia Produtora no XI FAD

Certamente que essas palavras em destaques atravessaram nosso olhar sobre as obras apresentadas para seleção do XI FAD, como também os materiais enviados (vídeo da obra, portfólio, histórico do artista, grupo ou cia e, especialmente, a correlação entre sinopse/obra); pelas propostas coreográficas e dramatúrgicas de algumas obras, mesmo que ainda em processo de maturação; pela técnica e presença cênica dos performers; e pela continuidade e resistência do fazer artístico desses artistas, grupos e cias de dança, num Estado onde não se verificam políticas públicas pontuais para a dança, que impacte o contexto amazonense ─ Estímulo ao fomento, circulação e continuidade das atividades dos artistas da dança; urgência da criação de um centro de pesquisa e estudos coreográficos; e estímulos aos fazedores de dança de Manaus e de outros municípios do Amazonas, entre outros mecanismos resultantes da presença e das ações do Estado

“Silenciar”, de Mara Pacheco no XI FAD
“Saga Cabocla”, da Cia Monica Seffair (Parintins) no XI FAD
“Lunária”, de Cia Expressão & Vida no XI FAD

As obras que serão apresentadas na programação do XI FAD nos faz levantar questões: O que é uma dramaturgia da dança? Que “interesse” conceitual, cênico e corpo-performer as obras propõem? Quais qualidades e limitações tem os espetáculos, mas que possivelmente provocarão discussões? São obras-processos, mas potentes para fruição? Os espetáculos têm a necessidade de rever discursos (dramatúrgicos ou políticos, necessitados de mais aprofundamentos), porém tem condições artísticas e técnicas para ser apresentado ao público? Algumas peças de dança são de jovens coreógrafos em iniciou de carreira, mas com um potencial promissor? Que corpos- discursos nos foram apresentados nos vídeos, que são importantes que sejam vistos no XI FAD? Quais poéticas cênicas corporais apresentadas pelos artistas, grupos e cias nos fascina, portanto estarão no XI FAD? Quais sinopses das obras dialogavam acertadamente com as suas traduções para a cena dançada? São questões que nos inquietam e que queremos compartilhar, pois certamente as obras que serão vistas são poéticas e discursos artísticos que decerto provocarão mais reflexões.

“Gambiarra”, de Marcos Teles no XI FAD
“Amarelo Manga”, de Lucas Rocha no XI FAD
“Fragmentos Villa-Lobos”, da Cia Ballet da Barra no XI FAD

Os formatos, os temas, os discursos, as técnicas, as linguagens e as categorias dos espetáculos são diversos, e nem poderiam deixar de ser na contemporaneidade das artes e da sociedade, que clama por éticas, discursos, vozes e corpos DIVERSOS e PLURAIS. Assim, acreditamos, foram os espetáculos do XI Festival Amazonas de Dança. Evoé!

“Vozes do Silêncio”, do Entrecorpus Companhia de Dança no XI FAD
“Eczema”, da Companhia Storge no XI FAD
“Perenal”, de Gleice Medeiros no XI FAD
“Trouxas”, de Iessa Ferreira no XI FAD

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