Educação, saúde e cultura em São Paulo: quais são os problemas que mais têm impactado a cidade?

Flávia Santos
Plantão Interativo de Notícias
5 min readSep 28, 2020

As estatísticas de desemprego, fechamento de escolas, falta de acessibilidade à tecnologia e como a pandemia tem contribuído para isso acontecer

Por: Emanuele Braga e Flávia Santos

Sabemos que a educação, a saúde e o lazer em contexto governamental é um direito de todos, mas mesmo assim o acesso à esses recursos ainda são limitados. E esse problema acontece desde muito tempo, porém estudos têm comprovado a extensão dessa estatística.

A começar pela educação, inúmeras escolas do Estado de São Paulo foram permanentemente fechadas pouco antes e depois da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), sinal que muitas crianças e adolescentes serão desmatrículados e provavelmente perder mais um período letivo e retardar a formação acadêmica. Mesmo atualmente a tecnologia tendo sido parceira, pois é através da internet que os alunos e professores mantiveram o contato fixo para exercerem as aulas online, ainda assim, muitas famílias não têm acessibilidade à essa ferramenta, principalmente moradores das áreas periféricas nas cidades paulistas.

Foto: Escola Estadual Professor Alberto Conte, Santo Amaro - SP

Existem muitos pontos a ser tratados, mas além disso, formaturas foram adiadas, muitos professores e mediadores demitidos e segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), que foi divulgada em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa oficial de desemprego no Brasil subiu para 13,3% no trimestre que se encerrou em junho, atingindo o número significativo de 12,8 milhões de pessoas, trata-se da maior taxa de desemprego desde maio de 2017.

Apesar do número ser significativo num todo, o público que mais se prejudica nessa estimativa é o jovem, isso acontece na maioria das vezes por falta de experiência ou até mesmo porque depois da pandemia muitas pessoas perderam a disponibilidade de trabalhar ou não quiseram procurar emprego, e toda essa mudança fez com que no país tivesse mais pessoas sem trabalhar do que trabalhando. A volta às aulas exigirá muito mais do que cuidados com higiene e cadeiras separadas, será preciso reconstruir laços entre pessoas afastadas por meses marcados pelo isolamento, a perda de familiares e o desemprego.

Se tratando ainda do momento que estamos vivendo, após a pandemia, o cuidado com nossa saúde nunca teve tanta evidência. Mas como será que os órgãos irão trabalhar e investir depois que isso tudo passar? No público, levamos em consideração as cirurgias que foram adiadas, alguns procedimentos gratuitos que possibilitam acesso direto às famílias, falta de medicamentos, e até mesmo o cuidado entre profissionais da saúde e os pacientes. Se em 6 meses depois do início da pandemia o Brasil se tornou o segundo país com o maior índice de casos, é sinal que alguns pontos ainda precisam ser resolvidos.

Foto: Laboratório - Faculdade Método de São Paulo (FAMESP)

Até mesmo a cultura, que apesar de ainda não ser considerada como algo essencial para o desenvolvimento humano, teve impacto justamente pela falta que fez no cotidiano dos paulistas, seja indo no cinema, teatro, museu, show e até mesmo a tão tradicional “ida no shopping”, que são costumes adotados justamente como forma de descontração, lazer, conhecer gente nova ou até mesmo para refletir e contemplar coisas boas.

Em entrevista realizada com duas jovens que vieram de outros estados, suas falas apontam precariedades no ensino e saúde do estado de São Paulo. Camille Vitória Souza Silva, 16 anos e está no 2° ano do Ensino Médio. Morava em Salvador — BA quando criança, e mudou-se para a grande São Paulo quando tinha 10 anos de idade, em 2014. Juracillene Pereira da Silva, 17 anos, está no 3° ano do Ensino Médio. Nascida em Arapiraca, município localizado no interior de Alagoas. Mudou-se para São Paulo em 2010, com 7 anos.

“O que mais me chamou a atenção foi o ensino. Para mim, o ensino é precário. Acho que deveria ser melhorado, porque é algo que vai agregar bastante no futuro.” Afirma Camille.

“Porque além do ambiente escolar ser mais agradável a aprendizagem era mais fácil com menos alunos em sala, e quando eu cheguei aqui, na turma do 4 ano do fundamental, a maioria dos alunos eram analfabetos e isso me chocou bastante. Acho que o ensino poderia melhorar diminuindo os alunos em sala, e de fato só passar um aluno se ele realmente aprendeu o que deveria.” complementa a jovem. A superlotação nas salas de aula dificulta no desempenho dos alunos e dificulta que a atenção do professor chegue a todos igualmente. Segundo a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em uma matéria publicada em 2015, afirma que a média no Ensino Médio é de 40 alunos por sala.

“Poderia trabalhar mais na leitura, e incentivar o aluno a ler desde o fundamental. Então, seria muito legal, ter projetos novos onde incentive e desperte no aluno a vontade de estudar e estar na escola de fato.” conclui Camille. A leitura expande a capacidade de compreensão do aluno, além de trazer informação e melhorar a escrita de jovens que, futuramente, prestarão vestibular. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), 55% das escolas brasileiras não possuem biblioteca ou espaço para leitura. A Organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico (OCDE) e o O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) colocou os estudantes brasileiros com baixo desempenho em 2018.

“Em São Paulo, além de toda essa falta de investimento nas escolas públicas por conta de falta de monitoramento do governo, tem as questão de falta e desvio de verba. Se a monitoração fosse constante, muitas escolas estariam em um estado melhor, oferecendo melhor qualidade de estudo.” Afirma Juracillene. Além da falta de monitoramento com o ensino paulista, as escolas da rede pública sofrem com infraestrutura dos prédios. Pichações nos muros, janelas e portas quebradas, e falta de encanamento são problemas comuns. No contexto da pandemia, a volta às aulas, levando em consideração a precariedade das escolas pode colocar em risco a vida dos estudantes, visto que, a maioria deles sentem, assiduamente, falta de itens de higiene básica, como sabonete para lavar as mãos.

“Em Arapiraca (Alagoas), apesar de ser um estado pequeno o SUS tinha ótimo atendimento, sem espera, como aqui. A saúde de São Paulo está um caos, muitas pessoas na fila para um consulta, e, mais uma vez, entra as questões de desvio e falta de verba.” complementa a jovem. O tempo de espera, em 2020, na fila do SUS em São Paulo chega a 10 meses. Consultas com especialistas podem demorar até 12 meses. A demora significativa do SUS pode impactar vidas de maneira extremamente negativa. Embora seu acesso seja democratizado, pessoas ainda esperam pelo atendimento e, por vezes, chegam a óbito sem conseguir se consultar.

Dois de muitos outros depoimentos que mostram a realidade do paulistano atualmente. Problemas corriqueiros que precisam ser solucionados para um presente e futuro melhor.

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