[Eleição estadunidense] O Grupo QAnon, defensor ferrenho de Trump, é tido como ameaça potencial de terrorismo pelo FBI

Filme Polonês “The Hater” exemplifica os riscos que a organização conspiracionista pode trazer

Carol Siqueira
Plantão Interativo de Notícias
3 min readSep 19, 2020

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Cartaz do filme “The Hater” e apoiador do grupo QAnon em comício do presidente Trump

O filme “A rede de ódio”, dirigido por Jan Komasa e disponível na plataforma de streaming Netflix, exemplifica como as teorias de conspiração e viralização de ideias na internet podem afetar a corrida eleitoral. A trama gira em torno de um estudante de Direito, que é expulso de sua universidade após cometer plágio, e acaba sendo contratado por uma empresa de Relações Públicas.

Mais tarde, descobrimos que a empresa trabalha para um político, que quer desmoralizar de qualquer maneira seu adversário na eleição daquele ano. Então, o personagem principal toma medidas pouco ortodoxas para chegar ao objetivo do cliente, como criar fake news e estimular a violência por meio de milhares de perfis falsos adeptos à teorias de conspiração nas redes sociais. No fim, vemos o trágico resultado que suas ações virtuais tiveram na vida real.

A obra polonesa retrata da maneira mais chocante, o que acontece nas eleições de diversos países, inclusive nos Estados Unidos. As famosas teorias de conspiração afetam diretamente a política. Este ano, o destaque é a organização QAnon.

O grupo QAnon é uma organização conspiratória de extrema direita que surgiu em meados de 2017, através de publicações em fóruns anônimos (como o 4chan). As postagens eram realizadas por um usuário de pseudônimo “Q”, que afirma ser um oficial americano. A principal mensagem transmitida seria que os Estados Unidos estariam sob um “Estado profundo”, controlado secretamente por uma comunidade rica, pedófila e satânica. E que Donald Trump estaria, desde 2016, travando uma batalha contra o sistema. Não há nenhuma prova que ateste essas suposições.

Em 2019, o FBI caracterizou o QAnon como “ameaça potencial de terrorismo doméstico”. No final de maio deste ano, o FBI disse que as teorias de conspiração “eventualmente levarão grupos e indivíduos extremistas a realizar atos criminosos ou violentos”. Recentemente, o Twitter e o Facebook perceberam os riscos que a organização poderia trazer e desativaram milhares de contas e grupos que o QAnon possuía nas redes sociais.

Cindy Ortis, ex-analista da CIA e especialista em desinformação, disse em entrevista para o Business Insider que “há muita organização dentro dos grupos Q, tentativas de fazer com que o conteúdo se torne viral, enviar certos artigos ou mensagens ou hashtags em diferentes plataformas, etc.”, Ortis afimou. “Essa coordenação acontece em lugares como grupos do Facebook, 4chan, Discord e Reddit.” disse a ex-analista.

A campanha de Trump e o próprio presidente evitam falar sobre o assunto. Em uma coletiva de imprensa do mês passado, uma repórter do Associated Press, Jill Covin, perguntou a Trump se ele concordava com uma declaração feita pela republicana Marjorie Taylor Greene, que apoia abertamente o grupo QAnon, de que a teoria de conspiração era algo que “valesse a pena ouvir”. Trump não respondeu à pergunta e chamou outro repórter.

Alex Kaplan, pesquisador do grupo de monitoramento de mídia progressiva Media Matters, diz que não há uma evidência clara de que Donald Trump trabalha diretamente com as contas do grupo. Mas Kaplan também pontuou que ao conceder aprovação à rede, o presidente estava ajudando a impulsionar não apenas uma coleção de teóricos da conspiração com visões excêntricas, no entanto inofensivas, mas um movimento que inspirou crimes violentos.

Atualmente, há indícios que o grupo está se espalhando ao redor do mundo e cabe a nós nos mantermos informados e preparados para essa nova ameaça.

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