[Eleição estadunidense] Quem foi Ruth Bader Ginsburg e por que sua morte traz inseguranças para a comunidade norte-americana
Segunda mulher a se tornar juíza da Suprema Corte dos EUA, Ruth é um ícone do feminismo contemporâneo
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Talvez o texto de hoje fuja do que eu, Carol, sou acostumada trazer para vocês. Isso porque hoje, o assunto não será completamente voltado para uma eleição presidencial. A pauta será como vocês leram no título, a relevância da juíza Ruth Bader Ginsburg da Suprema Corte dos Estados Unidos para a história americana. Porém, ao final da leitura, vocês perceberão o grande temor que a morte de Ruth traz consigo para a comunidade no geral.
Ruth Bader Ginsburg nasceu no ano de 1933, em Nova Iorque, e cresceu nos subúrbios do Brooklyn. Ruth teve uma juventude padrão de garotas de classe média naquela época, chegou até a se tornar uma das líderes de torcida de sua escola. Pouco antes de sua formatura no Ensino Médio, sua mãe faleceu de câncer. A partir de então, Bader sempre disse que gostaria de ser a mulher que sua mãe sempre sonhou, alavancando sua carreira acadêmica.
“Eu rezo para que eu possa ser tudo que ela [mãe de Ruth] poderia ter sido se ela tivesse vivido em uma época em que as mulheres pudessem aspirar e conquistar, e que filhas eram tão estimadas quanto os filhos” disse Ginsburg ao lado de Bill Clinton, em seu discurso de nomeação como juíza da Suprema Corte, no ano de 1993.
Ginsburg estudou na Universidade Cornell, em Nova Iorque, instituição muito famosa pelo curso de Direito, o qual Ruth escolheu o cursar. Mais tarde, ela também se matriculou em Harvard, nessa época, Ginsburg era uma das apenas nove mulheres de um curso de 550 alunos. Após se formar, Ruth teve uma viagem de estudos para a Suécia, país onde o feminismo estava tomando corpo. Ao voltar para os EUA, por volta da década de 60, ela já tinha em mente que trabalharia nas questões de gênero.
Ruth se tornou uma ativista na ACLU (American Civil Liberties Union) e começou a defender diversos casos ligados à desigualdade de gênero, como de mulheres que perderam o emprego por estarem grávidas. Mas a situação que mais levou notoriedade para seu trabalho foi quando ela defendeu um homem de Nova Jersey, que se tornou viúvo após sua esposa ter tido complicações no parto. Stephen Wiesenfield se tornou pai solteiro e gostaria de trabalhar menos para ficar em casa com seu filho, mas descobriu que somente viúvas, não viúvos, eram aptos para receberem um auxílio social do governo nessa situação. Então, Ginsburg lutou para que a lei (referente ao auxílio) mudasse, afinal, ela incorporava um papel estereotipado das obrigações que um homem e uma mulher assumem na família e isso a tornava inconstitucional. Ruth ganhou o caso.
“Sessenta anos atrás, Ruth Bader Ginsburg se candidatou à secretária da Suprema Corte. Ela estudou em duas de nossas melhores faculdades de Direito e normas recomendadas recomendações. Mas porque era uma mulher, foi rejeitada. Dez anos depois, ela adicionou sua primeira petição à Suprema Corte - que a levou a derrubar uma lei estadual baseada na discriminação de gênero pela primeira vez. E então, por quase três décadas, como a segunda mulher a sentar-se na mais alta corte do país, ela foi uma guerreira pela igualdade de gênero - alguém que acreditava que justiça igual perante a lei só tinha sentido se aplicasse a todos os americanos americanos ”. Disse Barack Obama em nota após o falecimento dos juízes.
Após muito trabalho, o presidente democrata Jimmy Carter nomeou a ativista como juíza federal em 1980. Mais tarde, em 1993, foi vez de Bill Clinton, outro democrata, de nomear Ruth Bader Ginsburg, agora, como juíza da Suprema Corte dos EUA. Cargo que ela exerceu com louvor até seu falecimento.
Sua trajetória na justiça estadunidense é tão interessante e cativante que Ruth é conhecida por seus admiradores, principalmente mulheres, como “Notorious RBG”. A juíza teve cerca de 6 produções cinematográficas baseadas em suas conquistas e que ela prestigiou ainda em vida. Apesar da grande admiração e do sentimento de gratidão que a comunidade sente em relação ao dever cumprido de Bader, surge agora o temor pela pessoa que substituirá a cadeira de Ruth na Suprema Corte dos EUA.
Os juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos são indicados pelos presidentes e cumprem mandatos indefinidos, impactando o país mesmo depois do mandato do presidente que lhe concederam a indicação. Ao todo, são nove cadeiras que devem ser ocupadas. Antes do falecimento de Ruth, a Suprema Corte estava “equilibrada”, já que contava com cinco representantes indicados por republicanos (sendo dois indicados por Donald Trump), consequentemente conservadores, e quatro por democratas, mais liberais no eixo civil.
Nos últimos séculos, a Suprema Corte teve um papel essencial no comportamento da sociedade estadunidense. A inconstitucionalidade da segregação escolar, a legalização do aborto e a legalização do casamento de pessoas do mesmo sexo foram algumas das conquistas dela. Além disso, uma questão recente de proteção aos “sonhadores” (imigrantes sem as devidas documentações regulamentadas) da deportação está em jogo na Suprema Corte.
Na teoria, o responsável pela indicação de um novo juiz para substituir a cadeira de Ruth seria Donald Trump. Entretanto, senadores democratas e até mesmo Kamala Harris, candidata à vice-presidência da chapa Biden-Harris, se pronunciaram hoje (19/09/2020) em uma carta para o presidente do comitê judiciário do Senado, Lindsey Graham. Nela, os democratas relembraram o caso do falecido juiz Antonin Scalia, que faleceu em 2016, onde Barack Obama não pôde escolher o próximo juiz a ocupar uma cadeira vaga, por ordem de Lindsey Graham, que disse no caso que nenhum presidente Deveria nomeado um juiz nenhum último ano de seu mandato. Os democratas endossaram que a escolha do próximo juiz devia ser realizada após a eleição do novo presidente.
Graham, em reposta, não concordou com as exigências do partido azul e disse que apoiará o presidente em qualquer esforço para avançar em relação à vaga recente criada pela passagem da juíza Ginsburg. Donald Trump também se pronunciou em seu twitter dizendo que fará sua escolha, pois é sua obrigação e sem demora. Se a escolha de Trump for realmente concretizada, a maioria conservadora na Suprema Corte poderá trazer mudanças retrógradas em relação ao eixo de liberdades civis. Mas, assim como disse Chris Hayes, apresentador do MSNBC, “o futuro não está escrito e qualquer um que diga que sabe o que vai acontecer está errado”.