Novo surto de casos e possível mutação do coronavírus alertam autoridades da China

Nordeste do país virou motivo de observação para cientistas sobre possível mudança no genoma do vírus

Por Caio Vinicius

População de Jilian entrou em estado de alerta com transmissão comunitária (Foto: SFR/AFP)

Uma nova onda de casos da covid-19 tem assustado a população da China nas última semanas. Epicentro inicial da pandemia, o país agora vira os olhos para o nordeste de seu território, onde foram registrado casos de transmissão comunitária do vírus, causando novos confinamentos em várias cidades.

Apesar dos números ainda estarem bem abaixo em comparação a Wuhan, foco original do novo coronavírus, a preocupação com o surto se deve as observações de médicos chineses em como o vírus tem se manifestado de forma diferente nos pacientes. De acordo com as autoridades de saúde da China, as reações divergentes sugerem mutações no patógeno.

Recentemente, em coletiva de imprensa, a Organização Mundial da Saúde (OMS), revelou que cientistas de todo o mundo identificaram mais de 40 mil segmentos do genoma do vírus, mas nenhum deles mais forte que a SARS-CoV-2. Entretanto, a entidade não informou como essas sequências estariam afetando as pessoas infectadas.

No caso dos surtos de algumas províncias chinesas, os pacientes parecem portar o vírus por um período mais longo, de uma a três semanas, antes de apresentar qualquer tipo de sintoma. Esse atraso tem dificultado os médicos em rastrear os infectados, criando focos pequenos e os espalhando lentamente em famílias.

A virologista Luiza Mendonça Higa, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ, explica como as mutações podem interferir nas características do vírus na hora do contágio: “Mutações são frequentes nos vírus. Elas podem ser deletérias, podem não ter efeito algum ou podem resultar em vantagem adaptativa para o vírus. Sendo assim, podem afetar propriedades biológicas do vírus e maior transmissão.”

“Que fique claro que a vantagem não quer dizer que o vírus se tornou mais virulento ou de maior transmissibilidade, mas sim que durante a infeccção, ocorrem mutações e estas são selecionadas. Quando a mutação confere vantagem ao vírus, esta se estabelece no material genético viral”, completa a doutora.

Alguns cientistas chineses levantaram a hipótese do clima de frio temperado das Três Províncias do Nordeste (Heilongjiang, Jilian e Liaoning) transformar o local em um elemento favorável para as mudanças no coronavírus. “O ambiente com todos os seus fatores podem sim ser um fator para seleção natural dos vírus”, revela Luiza.

Até o momento, a identificação dessas mutações não tem causado nenhuma interferência direta no tratamento de pacientes. Em relação as vacinas que estão sendo desenvolvidas, a virologista evidencia que as mutações podem influenciar em seus desdobramentos, mas que ainda são necessários estudos para definir se isso acontecerá com a covid-19.

As autoridades nas regiões mais afetadas do nordeste chinês seguem com os mesmos procedimentos para combater os novos casos, restringindo aglomerações e retomando o lockdown.

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