Beijo das serpentes
Quente escorre o veneno
nos cantos de lábios rachados
mãos cravadas impelem mapas remendados
revendidos na península desgeografica
o não estancar do sangue
de vasos arrebentados
a epiderme de mamíferos estragados
na tela da mesma cena
a mesma cena em repeteco, eco, eco, eco
no centro da Ilha das serpentes
As serpentes foram jogadas no mar
as serpentes se moveram em espiral
as serpentes envolveram
as serpentes engoliram a rede neural
fruto de nossas tecnologias sufocantes
na guerra midiática da informação
causaram ferimentos irreconhecíveis
e agora procuramos band-aid
na fé sarcástica de curarmos tumores
O transumanismo é arcaico
a ancestralidade do ser-sistema-humano é animalesca
estamos desesperados capturados por realidades artificiais
somos algoritmos inalterados
de pura vivacidade sólida
pisando descalços em pedaços rochosos
temperando a existência crua
lambemos os lábios para ouvir:
"o caminho para a compreensão de si é dolorosa".