Galopes no musgo
Quantos blocos mais terei de revender
para pagar a conta do nosso grande espelho
manchado pela síndrome de Narciso
inerente às veias multiplilícitas de ratos e larvas
moradores do esgoto a céu aberto
da espécie mais evoluída do globo
extratadora de minério e impérios
Nas janelas de prédios com pernas abertas
permelados de vias de mão dupla e guias sem rotas
cruzadas dentro de barcos furados
derramam transgênicos de gota em gota
que caem pelo lençol do rio desenfreado
O vapor dos odores do bicho-humano
se infiltra na escassez da matéria
perguntas sem pretensão de respostas
daquilo o que não se tem número
na linguagem das letras
no casamento da metalinguagem
a sílaba se divorcia dela mesma
Contadores de lixo taxam as suas fortunas
catadores de luxo desregram as suas lamúrias
no enguiço de chorume e chouriço
o relâmpago costura na luz prateada
adentrando voraz na noite penada
beirando a escala bélica dos cardumes
o trovão silenciou
as paredes do hotel.